sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Lula de volta às ruas


Luiz Manfredini

Lula anunciou sua volta às ruas a partir de fevereiro. "No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país”, disse. E acrescentou: “Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade".

 Oficialmente Lula retornará às suas caravanas da cidadania. Mas sabe-se o que realmente vai fazer. Vai para as ruas, para junto do povo enfrentar a ofensiva política que a direita ensaia no pós Ação Penal 470 e com vistas às eleições de 2014. É o estilo de ex-presidente, já utilizado no final de 2005, quando os demo-tucanos batalharam pelo impeachment no bojo da CPI dos Correios. Inviabilizado o impedimento, a direita decidiu sangrá-lo de modo que chegasse, exangue, para ser derrotado nas eleições de 2006. Nas ruas, com o povo, Lula virou o jogo.

Sem programa e perdendo votos a cada eleição, as oposições não se conformam em testemunhar que o PT de Lula e seus aliados tenham vencido a disputa de 2012 em mais de 80% dos municípios brasileiros e que ele e a presidente Dilma ostentem uma popularidade que beira os 80% (segundo as pesquisas, qualquer um dos dois seria imbatível, em qualquer cenário, se as eleições de 2014 fossem hoje). Então as oposições e seu beligerante aparato midiático, voltam à tática de 2005: colocar Lula sob sua mira, agora tentando, por todos os meios, ligá-lo ao suporto “mensalão”, qualificando-o como corrupto e, assim, iniciando a operação para desconstrui-lo por inteiro. Agora o famigerado Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, anuncia que provavelmente enviará à primeira instância o depoimento de Marcos Valério onde ele diz que recursos do suposto “mensalão” foram utilizados para pagar despesas pessoais de Lula. É isso, a campanha da direita está na rua, ou melhor, nas imagens da TV e nas páginas dos jornais e revistas da grande mídia privada, o que lhe multiplica a repercussão na busca de um consenso social reacionário.

A campanha contra Lula está ligada, obviamente à disputa que se avizinha para 2014 (a presidente Dilma ainda não entrou propriamente no foco do ataque), mas contém um ingrediente para além da luta política concreta. Um ingrediente ideológico, de furioso ódio de classe da casa grande contra um atrevido da senzala que ousou altear-se na política nacional, chegando – pasmem – à Presidência da República. Não é gratuita, portanto, a execração que o complexo midiático-conservador promove contra o ex-presidente, uma campanha carregada de menosprezo, de cruel abominação, que impõe, como solução final, não apenas derrotar Lula politicamente, mas também desmoralizá-lo, humilhá-lo, desqualifica-lo como pessoa e cidadão, como a dizer à sociedade que o trabalhador deve trabalhar, produzir riqueza, mas nunca atrever-se a liderar o País.

Ressalvadas as proporções e circunstâncias históricas, o que as elites conservadores pretendem assemelha-se ao que os portugueses fizeram com Tiradentes, executado e esquartejado por liderar a Inconfidência Mineira, com os pedaços do seu corpo espalhados por onde realizara sua pregação revolucionária. Arrasaram a casa em que morava, jogando sal no terreno para que nada lá germinasse. Sua memória e decendentes foram declarados infames.

Nessa guerra sistemática, cotidiana, a grande mídia privada – o supremo arauto à frente das maquinações direitistas - não se vexa em inventar e manipular fatos, propalar mentiras, montar fotos, espalhar boatos. É a guerra de classe sem fim. Getúlio Vargas e João Goulart foram vítimas de campanhas semelhantes, embora sua condição de grandes proprietários rurais os tenha livrado do ódio de classe que se abate sobre Lula. Foram campanhas sórdidas contra o progressismo daqueles governos, mas sob a mesma capa do moralismo cretino e falseador. A expressão “mar de lama”, com a qual a direita sempre atacou os governos progressistas, foi criação de Carlos Lacerda, em suas histéricas investidas contra Getúlio no início dos anos 1950.

Mas já na crise de 2005 Lula garantiu que não teria o fim que tiveram os dois ex-presidentes – o suicídio de um, a deposição de outro. Lutaria. E lutaria nas ruas, leito por onde a história costumeiramente marca seus espasmos e garimpa suas soluções. É o que anuncia para fevereiro. Não é do seu estilo choramingar dificuldades, abater-se diante delas como, lamentavelmente, procede expressiva parte do seu partido, atada a um certo – e nocivo - fatalismo. Diante da crise, Lula se agiganta. Sabe que a ofensiva midiático-conservadora, a despeito de tê-lo como o centro do alvo, mira também o projeto de esquerda que ele encarna e todos os seus atores (e não apenas o PT, como julgam alguns). Por isso, logo estará nas ruas.


Luiz Manfredini é jornalista e escritor em Curitiba, representa no Paraná a Fundação Maurício Grabois e é autor de “As moças de Minas”, “Memória de Neblina”, “Sonhos, utopias e armas” e “Vidas, veredas: paixão”.
 

 

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