terça-feira, 28 de setembro de 2010

O jogo da direita

Emir Sader, em seu blog

A direita desistiu de ganhar. Se rendeu à imensa maioria nova que se constituiu no Brasil a partir do governo Lula e de suas conseqüências sociais. Já despejou sua decepção e sua raiva no seu candidato, incapaz de manter uma dianteira que eles mesmos nunca souberam explicar, mas que os acalentava de ter o candidato mais viável. Se rendeu a direita a um candidato que não era o da sua preferência, mas o mais viável para voltar ao governo. Sofreu com a crise de identidade dessa Viúva Porcina, que foi sem nunca ter sido – foi um bom economista, sem nunca ter sido; foi grande governante, sem nunca ter sido; tinha uma trajetória exemplar como político, sem nunca ter tido.

Pelos editoriais, a linha da direita é tudo, menos o Lula, tudo contra a Dilma, candidata da continuidade do governo Lula. A preocupação das ultimas semanas é diminuir o poder do próximo governo. A FSP fala na necessidade de limitar o poder (dos outros, nunca o deles). O Globo se preocupa com a maioria no Congresso (como se o Lula não tivesse, até mesmo para buscar um terceiro mandato, não fosse democrático, ao contrario de FHC, que mudou a Constituição durante seu mandato, para ter dois).

Agora, é buscar o segundo turno, como forma de demonstrar limitações no apoio ao Lula, mais semanas de embate e tentar demonstrar que seu denuncismo ainda tem poder de influencia. Sabem que o Serra é um cadáver político. Com tudo o que fizeram com ele (como diz o meu primo Zé Simão: se parece ao Atlético Mineiro, cada vez que aparece na televisão, perde 3 pontos), não conseguem alavancá-lo.

Daí a operação Marina. Era a ministra mais criticada do governo, com suas picuinhas, que brecavam obras de infra estrutura, se tornou a queridinha da mídia, trogloditas de repente descobrem e se tornam ecologistas de ocasião. A soma dos dois, mais nanicos, mais dificuldades de gente do povão de votar para tantos candidatos (para presidente é a sexta votação) e a necessidade de levar documento com fotos, anima a oposição. Pelo menos para não levar uma goleada desmoralizante.

Já têm como seguro Senado e Câmara com grande maioria governista, maior parte de governadores a favor do governo e eleição da Dilma, no primeiro ou segundo turno, como estabelecidos. O plano agora, para salvar os dedos é:

- garantir São Paulo, Minas e o Paraná

- conseguir chegar ao segundo turno

- tentar diminuir a maioria governista no Parlamento.

Para esta ultima, a oposição busca evitar o mês de janela que se anuncia para logo depois da eleição, que sangraria mais ainda os já combalidos partidos da oposição. DEM e PPS com riscos de desaparição, PSDB tornando-se um partido médio na representação parlamentar.

Conta, para a operação final, com o monopólio privado da mídia, seu elemento forte, aquele em que são claramente majoritários. A operação Data Folha era previsível. Pode ser que mantenham uma diferença baixa ou que, para tentar segurar um pouco que seja de credibilidade, voltem a aumentá-la, depois que esse DF tenha os efeitos possíveis. O Globo, a FSP, o Estadão e a Veja, se jogam com tudo, sem pensar nas conseqüências pós-eleitorais, com uma derrota que demonstra como perderam totalmente a capacidade de influência. Tentam agora sobreviver a todo custo, contra ventos e tempestades, depois que seu candidato naufragou espetacularmente.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Para jornal inglês, Brasil vai eleger "uma líder extraordinária".

Dilma em campanha no Rio Grande do Sul, ao lado de Tarso, Colares e Olívio


O jornal britânico The Independent destacou neste domingo, em artigo assinado por Hugh O'Shaughnessy, que o Brasil se prepara para eleger no próximo final de semana a "mulher mais poderosa do mundo" e "uma líder extraordinária". Texto imperdível veiculado pelo sítio Carta Maior.

A mulher mais poderosa do mundo começará a andar com as próprias pernas no próximo fim de semana. Forte e vigorosa aos 63 anos, essa ex-líder da resistência a uma ditadura militar (que a torturou) se prepara para conquistar o seu lugar como Presidente do Brasil.

Como chefe de estado, a Presidente Dilma Rousseff irá se tornar mais poderosa que a Chanceler da Alemanha, Angela Merkel e que a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton: seu país enorme de 200 milhões de pessoas está comemorando seu novo tesouro petrolífero. A taxa de crescimento do Brasil, rivalizando com a China, é algo que a Europa e Washington podem apenas invejar.

Sua ampla vitória prevista para a próxima eleição presidencial será comemorada com encantamento por milhões. Marca a demolição final do “estado de segurança nacional”, um arranjo que os governos conservadores, nos EUA e na Europa uma vez tomaram como seu melhor artifício para limitar a democracia e a reforma. Ele sustenta um status quo corrompido que mantém a imensa maioria na pobreza na América Latina, enquanto favorece seus amigos ricos.

A senhora Rousseff, a filha de um imigrante búlgaro no Brasil e de sua esposa, professora primária, foi beneficiada por ser, de fato, a primeira ministra do imensamente popular Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-líder sindical. Mas com uma história de determinação e sucesso (que inclui ter se curado de um câncer linfático), essa companheira, mãe e avó será mulher por si mesma. As pesquisas mostram que ela construiu uma posição inexpugnável – de mais de 50%, comparado com menos de 30% - sobre o seu rival mais próximo, homem enfadonho de centro, chamado José Serra. Há pouca dúvida de que ela estará instalada no Palácio Presidencial Alvorada de Brasília, em janeiro.

Assim como o Presidente Jose Mujica do Uruguai, vizinho do Brasil, a senhora Rousseff não se constrange com um passado numa guerrilha urbana, que incluiu o combate a generais e um tempo na cadeia como prisioneira política.

Quando menina, na provinciana cidade de Belo Horizonte, ela diz que sonhava respectivamente em se tornar bailarina, bombeira e uma artista de trapézio. As freiras de sua escola levavam suas turmas para as áreas pobres para mostrá-las a grande desigualdade entre a minoria de classe média e a vasta maioria de pobres. Ela lembra que quando um menino pobre de olhos tristes chegou à porta da casa de sua família ela rasgou uma nota de dinheiro pela metade e dividiu com ele, sem saber que metade de uma nota não tinha valor.

Seu pai, Pedro, morreu quando ela tinha 14 anos, mas a essas alturas ele já tinha apresentado a Dilma os romances de Zola e Dostoiévski. Depois disso, ela e seus irmãos tiveram de batalhar duro com sua mãe para alcançar seus objetivos. Aos 16 anos ela estava na POLOP (Política Operária), um grupo organizado por fora do tradicional Partido Comunista Brasileiro que buscava trazer o socialismo para quem pouco sabia a seu respeito.

Os generais tomaram o poder em 1964 e instauraram um reino de terror para defender o que chamaram “segurança nacional”. Ela se juntou aos grupos radicais secretos que não viam nada de errado em pegar em armas para combater um regime militar ilegítimo. Além de agradarem aos ricos e esmagar sindicatos e classes baixas, os generais censuraram a imprensa, proibindo editores de deixarem espaços vazios nos jornais para mostrar onde as notícias tinham sido suprimidas.

A senhora Rousseff terminou na clandestina VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Nos anos 60 e 70, os membros dessas organizações sequestravam diplomatas estrangeiros para resgatar prisioneiros: um embaixador dos EUA foi trocado por uma dúzia de prisioneiros políticos; um embaixador alemão foi trocado por 40 militantes; um representante suíço, trocado por 70. Eles também balearam torturadores especialistas estrangeiros enviados para treinar os esquadrões da morte dos generais. Embora diga que nunca usou armas, ela chegou a ser capturada e torturada pela polícia secreta na equivalente brasileira de Abu Ghraib, o presídio Tiradentes, em São Paulo. Ela recebeu uma sentença de 25 meses por “subversão” e foi libertada depois de três anos. Hoje ela confessa abertamente ter “querido mudar o mundo”.

Em 1973 ela se mudou para o próspero estado do sul, o Rio Grande do Sul, onde seu segundo marido, um advogado, estava terminando de cumprir sua pena como prisioneiro político (seu primeiro casamento com um jovem militante de esquerda, Claudio Galeno, não sobreviveu às tensões de duas pessoas na correria, em cidades diferentes). Ela voltou à universidade, começou a trabalhar para o governo do estado em 1975, e teve uma filha, Paula.

Em 1986 ela foi nomeada secretária de finanças da cidade de Porto Alegre, a capital do estado, onde seus talentos políticos começaram a florescer. Os anos 1990 foram anos de bons ventos para ela. Em 1993 ela foi nomeada secretária de minas e energia do estado, e impulsionou amplamente o aumento da produção de energia, assegurando que o estado enfrentasse o racionamento de energia de que o resto do país padeceu.

Ela tinha mil quilômetros de novas linhas de energia elétrica, novas barragens e estações de energia térmica construídas, enquanto persuadia os cidadãos a desligarem as luzes sempre que pudessem. Sua estrela política começou a brilhar muito. Mas em 1994, depois de 24 anos juntos, ela se separou do Senhor Araújo, aparentemente de maneira amigável. Ao mesmo tempo ela se voltou à vida acadêmica e política, mas sua tentativa de concluir o doutorado em ciências sociais fracassou em 1998.

Em 2000 ela adquiriu seu espaço com Lula e seu Partido dos Trabalhadores, que se volta sucessivamente para a combinação de crescimento econômico com o ataque à pobreza. Os dois se deram bem imediatamente e ela se tornou sua primeira ministra de energia em 2003. Dois anos depois ele a tornou chefe da casa civil e desde então passou a apostar nela para a sua sucessão. Ela estava ao lado de Lula quando o Brasil encontrou uma vasta camada de petróleo, ajudando o líder que muitos da mídia européia e estadunidense denunciaram uma década atrás como um militante da extrema esquerda a retirar 24 milhões de brasileiros da pobreza. Lula estava com ela em abril do ano passado quando foi diagnosticada com um câncer linfático, uma condição declarada sob controle há um ano. Denúncias recentes de irregularidades financeiras entre membros de sua equipe quando estava no governo não parecem ter abalado a popularidade da candidata.

A Senhora Rousseff provavelmente convidará o Presidente Mujica do Uruguai para sua posse no Ano Novo. O Presidente Evo Morales, da Bolívia, o Presidente Hugo Chávez, da Venezuela e o Presidente Lugo, do Paraguai – outros líderes bem sucedidos da América do Sul que, como ela, têm sofrido ataques de campanhas impiedosas de degradação na mídia ocidental – certamente também estarão lá. Será uma celebração da decência política – e do feminismo.





quinta-feira, 23 de setembro de 2010

“Primeiro Deus, depois o Lula”


A nota publicada na edição de hoje do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, é emblemática do novo Brasil que emergiu com Lula e seguirá, mais democrático, mais popular, mais justo e mais soberano com Dilma. O breve registro sobre o padeiro Valdir José Lemos dispensa quaisquer outras considerações.

O padeiro Valdir José Lemos, de 57 anos, chegou a Curitiba em 2004 – com 12 parentes, entre primos, a mulher e três filhos. Saíram de Moreno, cidade na Zona da Mata de Pernambuco, e viajaram à capital paranaense atrás de oportunidades. Conseguiram.

O pernambucano chegou ao Paraná sem patrimônio. Hoje tem três carros e uma casa financiada – “faltam só dois anos para quitar”. Tudo conquistado com o salário de padeiro em um mercado do Alto Boqueirão. Ele acredita que tudo o que conquistou na vida deve-se “primeiro a Deus e depois ao Lula”.
Por isso, Valdir estava ontem no comício com a presença do presidente Lula para tentar falar com o conterrâneo mais ilustre e agradecê-lo. “Eu queria conversar com ele [Lula], mas tem muita gente. Tô desistindo e indo embora.”

No comício, ele segurava um cartaz: “Lula melhor presidente do Brasil. Vitória de Sto Antônio. Pernambuco. Próx a Limoeiro.” Imaginava que poderia chegar perto do palco e mostrar a cartolina a Lula, na esperança de que o presidente o chamasse para conversar ao ver que se tratava de um nordestino como ele. Não deu. Mas isso não abala a confiança que o presidente inspira nele. “Vou votar na Dilma porque assim tô votando no Lula.”

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A tentativa (de antemão fracassada) de reeditar o udenismo lacerdista

O tempo passa e as armas da direita continuam as mesmas: diante do fracasso nas urnas, arma confusão e planeja golpes. Desta vez, não podendo recorrer aos quartéis, e na iminência de uma derrota histórica, com traços de humilhação, conduz ao paroxismo a militância insolente de seu braço midiático. O golpismo udenista, ressuscitado pela direita, é objeto do texto a seguir, originalmente publicado no sítio Carta Maior.

Na reta final das eleições de 2010, a mídia demo-tucana desistiu de manter as aparências e ressuscitou o golpismo udenista mais desabrido e virulento. O arrastão conservador não disfarça a disposição de criar um clima de mar de lama no país nas duas semanas que separam a cidadania das urnas."Ódio e mentira", disse o Presidente Lula, no último sábado, em Campinas, para caracterizar a linha editorial que unifica agora o dispositivo midiático da direita e da extrema direita em luta aberta contra ele, contra o seu governo, contra o PT e contra a sua candidata, Dilma Rousseff.

Virtualmente derrotada a coalizão demo-tucana já não têm mais esperança eleitoral em Serra, que avalia como um 'estorvo', um erro e um fracasso. Sua candidatura sobrevive apenas como o cavalo-de-Tróia de um engajamento escancarado, quase cínico, de forças, interesses, veículos e colunistas determinados a sabotar por antecipação o governo Dilma, custe o que custar.

O objetivo é criar uma divisão radicalizada na sociedade brasileira, mobilizando a elite e segmentos da classe média em torno de um movimento que caracterize o resultado das urnas como ilegítimo. A audácia sem limite cogita, inclusive, levar Dilma a depor no Senado, às vésperas do pleito que deve consagrá-la Presidente do país. Um claro desafio à vontade popular, típico da provocação golpista. A receita é a mesma pregada por Carlos Lacerda, em junho de 1955, quando era evidente a vitória de Juscelino Kubitschek contra a UDN. O lema de ontem comanda a ordem unida que articula pautas, capas e manchetes nestes últimos 12 dias de campanha. O que Lacerda disse é o que se pratica hoje, de forma aberta ou dissimulada, em todos os grandes veículos de comunicação: " Este homem não deve ser candidato; se candidato, não pode ganhar; se ganhar, não deve tomar posse; se tomar posse não deve governar...".

sábado, 18 de setembro de 2010

Lula em estado puro anima o povo no palanque de Minas


Insuspeito por suas óbvias opções políticas e ideológicas, o jornalista Josias de Souza publicou em seu  blog um texto em que Lula aparece, digamos, em estado puro. O Lula que, no palanque, diante do povo, solta-se para além das vestes da Presidência. Um Lula que faz rir, que entusiasma e, como sempre, comove. Vale a pena ver.

Lula ironizou na noite desta sexta (17) a mais nova plataforma de campanha de José Serra: o salário mínimo de R$ 600. “Agora, na política, vale tudo. Eles prometem mais aumento para o salário mínimo. Êêêêêta homem bom. Será que eles pensam que o povo é tonto?”

As provocações de Lula soaram do alto de um palanque montado na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais. O comício foi transmitido ao em tempo real na web. Ao lado da pupila Dilma Rousseff, Lula evocou a era FHC: “Eles governaram esse país por muitos anos e não fizeram o que estão prometendo agora”.

Erguendo a voz, Lula insinuou que o tucanato prefere os ricos aos pobres. Disse que tucano só olha para baixo em época de eleição. “Não tem um político que tenha coragem de ir pra televisão defender os ricos. Todo mundo defende pobre. Quanto mais pobre, mais ele adora...”

“...Só que, depois das eleições, se eles ganham, o primeiro café da manhã não é com os pobres, é com os ricos. O primeiro almoço que eles fazem não é com os pobres, é com os riscos. A primeira janta também não é com pobres, é com ricos”.

Deu a entender que Serra saiu-se com a idéia de elevar o valor do mínimo porque já antevê a derrota. “Eu tô sabendo que tem gente nervosa.. E não somos nós que estamos aqui”. Fez um pedido à platéia: “Levanta a mão pra ver se tem alguém tremendo aqui”.

Atendido, emendou: “Não tem ninguém tremendo. Do lado de lá, se eu mandar levantar a mão, tem gente que vai cair os dedos de tanta tremedeira. Eles estão com raiva. Primeiro porque não acreditavam que fôssemos ganhar em 2002. Ganhamos...”

“...Depois, eles acreditavam que não ia dar certo e que, quatro anos depois, eles voltavam. Se enganaram. Nós ganhamos outra vez. Depois, eles pensaram que não ia dar certo. E deu tão certo que até eles colocam a minha cara no programa deles na TV, como se fossem meus amigos”.

Recordou o menosprezo com que o nome de Dilma foi recebido quando ele a anunciou que ela seria sua candidata à sucessão. “Eles diziam: Esse lula é louco. Ele vai escolher uma mulher? O Brasil não tem hábito de votar em mulher. Vai vai escolher pessoa que não tem culturea política...”

“...Uma pessoa que não participa das reuniões partidárias, que nunca foi deputada, senadora, vereadora, prefeita. O lula tá louco. Algumas pessoas diziam assim: [...] Ele ta escolhendo alguém que nunca fez comício, nunca fez debate na TV com especialistas”.

Nesse ponto, alfinetou Serra: “Tucano já nasce pensando que é especialista”. Continuou: “Eles achavam que a Dilma era um caso derrotado. E eu dizia: pobres coitados, não sabem o que os espera”.

Voltando-se para Dilma, emendou: “Precisou apenas poucos dias e poucos debates, pra essa mulher já estar 27 pontos na frente deles em todo território nacional”. Desdenhou das chances de Serra: “Eles sabem que tá mais fácil ela [Dilma] crescer mais [nas pesquisas] do que eles crescerem”.

Sem mencionar o nome de Serra, disse como avalia a participação dele nos debates presidenciais: “Tem candidato que vai no debate com a Dilma, que eu pensava que era moderno, e o cidadão tem cara de ontem. Pensa como um cara de anteontem”.

Como de praxe, dedicou um pedaço do discurso à imprensa. Disse: “Alguns dos órrgaos de jornais deviam ter a cor e a cara do candidato que eles defendem, parar de falar em neutralidade...”

“...Quem faz oposição nesse país é determinado tipo de imprensa. Ahhh, como inventa coisa contra o Lula. Se eu dependesse deles para ter 80% de aprovação, teria zero, 90% das coisas boas desse país não são mostradas”.

Além de Dilma, dividiram o palanque com Lula os integrantes da chapa de Hélio Costa (PMDB), candidato ao governo mineiro. Ao defender a eleição dos aliados, insinuou que o tucano Aécio Neves e o candidato dele, Antonio Anastasia, não o querem em Minas.

“Tem gente que gostaria que eu não viesse aqui. Ahhh, meu Deus, imagina vocês! Eles gostariam que é que nós não existíssemos. Esse negócio de peão ser presidente e, agora, uma mulher... É demais. Não há quem agüente. [...] Essas pessoas acham que o Estado é uma espécie de quintal e que eles são donos”.

Ironizou Aécio, acusado pelo comando da campanha tucana de “esconder” Serra na sua campanha para o Senado e na de Anastasia para o governo. “Se eles tem vergonha dos candiatos deles, eu não tenho vergonha dos meus candidatos”.

Disse que, eleito, Hélio Costa governará Minas em parceria com Dilma, a quem chamou de “a próxima presidenta do Brasil”. Serviu-se, uma vez mais, da ironia:

“Os tucanos, em alguns lugares, não querem programa do governo federal para não dizer que aceitaram coisa do governo federal. Em outros lugares, utilizam. Mas mudam de nome”.

Referindo-se a Minas, Estado governador por Aécio até abril, pespegou: “Aqui, o [programa] Luz Para Todos virou Luz de Minas. O dinheiro era nosso, mas o nome era deles. Tinha outros proramas que eles mudaram de nome. Com Dilma e Helio não temos vergonha de dizer que somos parceiros”.




sábado, 11 de setembro de 2010

Compañero Allende! Presente! Ahora y siempre!


Capacete, fuzil e sonhos: a epopéia de Salvador Allende não nos abandona

Há exatos 37 anos, a morte trágica do Presidente chileno Salvador Allende, lutando no Palácio de La Moneda contra as hordas fascistas do soturno General Augusto Pinochet, encerrava com heroísmo e sangue uma singular tentativa de caminho para o socialismo e, ao mesmo tempo, inaugurava uma das ditaduras mais cruentas da América Latina.

Eleito em 1970, após três tentativas de chegar à Presidência, o médico e líder socialista Salvador Allende Gossens liderou o governo da Unidade Popular, incluindo socialistas, comunistas e outros segmentos da esquerda chilena. Partidário da possibilidade de instaurar o socialismo a partir das urnas, no contexto mesmo da democracia burguesa, Allende conduziu seu governo por um caminho que não considerava nem reformista, nem social-democrata, mas de democratização radical de todas as esferas da vida social. Era o que entendia como o grande eixo da transformação, o rumo para resolver o complexo e estratégico problema do poder político, o caminho para o socialismo chileno que, num discurso de maio de 1971, definiu como “libertário, democrático e pluripartidário”.

Assim, expropriou terras e iniciou a socialização de importantes empresas privadas, que passaram à direção de cooperativas de trabalhadores, nacionalizou as minas cobre, sem o pagamento de indenizações às empresas norte-americanas que até então detinham o controle dessa área estratégica, subsidiou parte dos serviços básicos e apoiou organizações populares da cidade e do campo em suas demandas de participação. Em resposta, o povo o apoiou. Nas eleições parlamentares de 1971 e nas municipais de 1973, os partidos integrantes da Unidade Popular cresceram em votos. Mas a direita também respondeu aos avanços sociais do governo com uma oposição cada vez mais virulenta.

Conspiração

Aliás, a reação conservadora havia se instalado antes mesmo de Allende assumir a Presidência. A pequena vantagem do socialista diante dos outros concorrentes conduziu a decisão para o Congresso. Somente após exaustivas negociações, sobretudo com a democracia-cristã do Presidente Eduardo Frei, é que Allende foi proclamado Presidente da República, em 24 de outubro de 1970. A direita tentara evitar a eleição com o expediente de sempre, unindo estardalhaço e tramas golpistas. Um comando de sua ala mais extremista assassinou o comandante do Exército, General René Schneider, decidido partidário da subordinação do poder militar ao civil. Objetivo: instalar o medo e a insegurança no país, sobretudo em suas camadas médias, tumultuar o processo eleitoral, criar pretexto para intervenções. Não conseguiu. Mas persistiu.

Em duas frentes a direita cumpriria seu destino. Na legal, tentando cercar o governo no parlamento; na ilegal, desencadeando sabotagens (dinamitou torres de alta tensão e linhas férreas), boicotes, desabastecimento dos gêneros de primeira necessidade. Também o governo estadunidense cumpria seu destino de permanente inspiração reacionária e golpista, participando ativamente – inclusive com recursos financeiros – do complô direitista contra a Unidade Popular. Já em outubro de 1970, portanto antes mesmo da posse de Allende, o embaixador em Santiago, E. Korry, garantia em carta a Eduardo Frei: "Deve saber que não permitiremos que chegue ao Chile um parafuso, nem uma porca... Enquanto Allende permanecer no poder, faremos tudo ao nosso alcance para condenar o Chile e os chilenos às maiores privações e misérias...".

Bloqueado pelos Estados Unidos e sob rigoroso boicote da direita, o governo via a produção se bens ser drasticamente reduzida e ainda enfrentava uma corrosiva alta inflacionária. Criou-se uma situação de desabastecimento que gerou imensas mobilizações a favor e contra o governo. A famosa greve geral dos transportes, organizada e financiada pela burguesia chilena, com apoio irrestrito da CIA, praticamente inviabilizou o trânsito de bens pelo país. Por seu turno, setores mais à esquerda da Unidade Popular radicalizavam seu discurso, chegando a propor a Allende o fechamento do Congresso e o uso de medidas excepcionais para poder governar. O país estava cindido. A luta de classes ganhava as ruas.

Mas o Presidente resolveu negociar, convidando líderes militares para compor o gabinete e oferecendo a realização de um plebiscito em que os chilenos optariam por continuar ou não o regime, podendo, inclusive, votar pela convocação de novas eleições. Mas nada disso arrefeceu a crise. O lobo faminto da direita exigia a cabeça de Allende que, diante das intransigências da oposição, decidiu cercar legalmente alguns dos seus setores mais radicais. Ao mesmo tempo, enfrentava grupos de esquerda que lhe cobravam rupturas. Os impasses se sucediam.

Golpe à vista

Num certo momento, a também oposicionista democracia-cristã aliou-se à direita para preparar o golpe de estado. Uma primeira tentativa ocorreu em junho de 1973, o chamado El Tancazo, quando um regimento de blindados de Santiago ergueu-se contra o governo, sendo, no entanto, contido. Finalmente, em 11 de setembro, sob o comando do General Augusto Pinochet, as forças armadas cercaram o Palácio de La Moneda. Allende rejeitou o ultimato da rendiçã.. O palácio foi bombardeado. O velho socialista, então com 65 anos, mandou que os funcionários deixassem a sede do governo. E lá se manteve na companhia de alguns correligionários mais próximos, em meio aos balaços de fuzis, metralhadoras e canhões do fascismo e ao ruído ensurdecedor dos raides, à poeira vulcânica das explosões. As 9h20min daquela manhã de 11 de setembro de 1973, em que a sorte do Chile estava sendo dramaticamente lançada, Allende se aproveitou da rádio Magallanes, a única ainda ao seu alcance, para transmitir ao povo chileno a mensagem derradeira. Sua voz serena e firme impôs-se aos ruídos dos bombardeios, das correrias e gritos da resistência em palácio:

"Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Este momento cinzento e amargo, onde a traição pretende se impor, será superado. Sigam sabendo que muito mais cedo do que tarde de novo se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem [livre] digno que quer construir uma sociedade melhor...”.

E lá morreu, vestindo um capacete militar e portando o fuzil que lhe fora presenteado por Fidel Castro. Vitorioso, o golpe arrastaria o Chile para as sombras do terror. Até sucumbir, 16 anos depois, a ditadura pinochetista assassinaria mais de três mil chilenos por razões políticas e mandaria outros dez mil aos cárceres, à tortura e ao exílio.

O corpo de Salvador Allende foi depultado num túmulo modesto do cemitério de Viña del Mar, no litoral, sem sequer uma placa que o identificasse. Ali repousou por quase 18 anos. Somente em 1990, por ordem do Presidente Patricio Aylwin, o primeiro mandatário chileno da era democrática pós Pinochet, recebeu um novo funeral, desta vez no Cemitério Geral de Santiago, com as devidas honras de chefe de Estado. Em 2000, Allende ganhou uma grande estátua de corpo inteiro diante do restaurado palácio de La Moneda.

Exames e conclusões

Fica para os cientistas políticos e historiadores colocar sob os crivos da ciência os amplos e profundos significados da obstinada e heróica tentativa de Salvador Allende de transitar para o socialismo sem as necessárias rupturas estruturais. Houve, talvez, ilusões demais, num mundo sob o tacão da Guerra Fria e numa América Latina aprisionada por ditaduras militares. Talvez alguns tenham sido voluntaristas demais, alheios à correlação de forças. Ou, quem sabe, tímidos demais diante da luta de classes que avançava, virulenta, pelas ruas. Que o digam os estudiosos. De todo modo, foram todos heróicos combatentes.

O mundo mudou nesses quase 40 anos. O capitalismo derrotou as primeiras experiências socialistas do século XX. A América Latina também mudou, varreu os regimes militares e, após sofrer as agruras do neoliberalismo, voltou-se quase toda ela para a esquerda. Há países, como a Venezuela e a Bolívia, cujos governos eleitos reivindicam a construção do socialismo a partir das superestruturas políticas e ideológicas do capitalismo. Experiências a serem observadas, essas sob a liderança de Chavez e Evo.

Mas, repito: aos estudiosos a missão do exame e das conclusões. Aqui, modesto escrita, reportei o que assisti, jovem e ainda que à distância, exultando com os chilenos pela vitória de Allende, amargando com eles a crônica perversa de sua derrota.


Leia a seguir a derradeira mensagem de Salvador Allende aos chilenos, na manhã de 11 de setembro de 1973, quando o palácio de La Moneda já estava sob o bombardeio dos fascistas.

Compatriotas:

Esta será seguramente a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A aviação bombardeou as antenas da Radio Portales e Radio Corporación. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção, e elas serão o castigo moral para os que traíram o juramento feito: soldados de Chile, comandantes-em-chefe titulares e mais o almirante Merino, que se autodesignou, e o senhor Mendoza, esse general rasteiro, que ontem me manifestara sua fidelidade e lealdade ao governo.


Frente a estes fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar!


Colocado neste transe histórico, pagarei com minha vida a lealdade do povo, e digo-lhes que tenho certeza que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser apagada definitivamente. Eles têm a força, mas não se detêm processos sociais pelo crime e pela força. A História é nossa, ela é feita pelos povos.

Me dirijo ao homem chileno, operário, camponês, intelectual, àqueles que serão perseguidos porque em nosso país o fascismo já se faz presente há algum tempo em atentados terroristas, sabotagens de estradas de ferro e pontes, oleodutos e gasodutos.


Frente ao silêncio dos que tinham a obrigação ... [interrupção momentânea da transmissão da Radio Magallanes] - ... a que estavam submetidos. A História os julgará.


Seguramente, Radio Magallanes será calada e o metal tranqüilo da minha voz não chegará mais a vocês... Não importa ... Não importa, vocês seguirão me ouvindo, estarei sempre junto de vocês, pelo menos minha lembrança será de um homem digno, leal à lealdade dos trabalhadores.


O povo deve se defender, mas não se sacrificar. Não deve deixar-se arrasar nem crivar de balas, mas tampouco pode se deixar humilhar.


Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e no seu destino. Este momento cinzento e amargo, onde a traição pretende se impor, será superado. Sigam sabendo que muito mais cedo do que tarde de novo se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem [livre] digno que quer construir uma sociedade melhor...

Viva Chile, viva o povo, vivam os trabalhadores... Estas são minhas últimas palavras ... Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão, tenho certeza de que pelo menos será uma lição moral que castigará a felonia, a covardia e a traição....

sábado, 4 de setembro de 2010

Marina no colo da direita

Na política, mas também nas demais esferas da vida, para se evitar erros é preciso saber quem é quem por trás das aparências e qual o jogo realmente estabelecido. Neste sentido, o presente artigo de Emnir Sader é essencial.

No Forum Social Mundial de Belém, em janeiro de 2009, Marina propagava que ela seria o Obama da Dilma. Já dava a impressão que as ilusões midiáticas tinham lhe subido à cabeça e que passava a estar sujeita a inúmeros riscos.

De militante ecologista seguidora de Chico Mendes, fez carreira parlamentar, até chegar a Ministra do Meio Ambiente do governo Lula, onde aparecia como contraponto de formas de desenvolvimentismo que não respeitariam o meio ambiente. Nunca apresentou alternativas, assumiu posições perdedoras, porque passou ao preservacionismo, forma conservadora da ecologia, de naturalismo regressivo. Só poderia isolar-se e perder.

Saiu e incutiram na sua cabeça que teria condições de fazer carreira sozinha, com a bandeira supostamente transversal da ecologia. Saiu supostamente com criticas de esquerda ao governo, mas não se deu conta – pela visão despolitizada da realidade que tem – da forte e incontornável polarização entre o bloco dirigido por Lula e pelo PT e o bloco de centro direita, dirigido pelos tucanos. Caiu na mesma esparrela oportunista de Heloisa Helena de querer aparecer como “terceira via”, eqüidistante entre os dois blocos, ao invés de variante no bloco de esquerda.

Foi se aproximando do bloco de direita, seguindo as trilhas do Gabeira – que tinha aderido ao neoliberalismo tucano, ao se embasbacar com as privatizações, para ele símbolo da modernidade – e foi sendo recebido de braços abertos pela mídia, conforme a Dilma crescia e o fantasma da sua vitória no primeiro turno aumentava.

As alianças da Marina foram consolidando essa trajetória na direção do centro e da direita, não apenas com empresários supostamente ecologistas – parece que o critério do bom empresário é esse e não o tratamento dos seus trabalhadores, a exploração da força de trabalho – e autores de auto-ajuda do tipo Gianetti da Fonseca, ao mesmo tempo que recebia o apoio envergonhado de ecologistas históricos.

O episódio da tentativa golpista da mídia e do Serra é definidor. Qualquer um com um mínimo de discernimento político se dá conta do caráter golpista da tentativa de impugnação da candidatura da Dilma – diante da derrota iminente no primeiro turno – com acusações de responsabilidade da direção da campanha, sem nenhum fundamento. Ficava claro o objetivo, típico do golpismo histórico – que vinha da UDN, de Carlos Lacerda, da imprensa de direita e que hoje está encarnado no bloco tucano-demista, dirigido ideológica e política pela velha mídia.

Marina, ao invés de denunciar o golpismo, se somou a ele, tentando, de maneira oportunista, tirar vantagens eleitorais, dizendo coisas como “se a Dilma (sic) faz isso agora, vai saber o que faria no governo”. Afirmações que definitivamente a fazem cair no colo da direita e cancelam qualquer traço progressista que sua candidatura poderia ter até agora. Quem estiver ainda com ela, está fazendo o jogo da direita golpista, não há mais mal entendidos possíveis.

Termina assim a carreira política da Marina, que causa danos gravíssimos à causa ecológica, de que se vale para tentar carreira oportunista. Quando não se distingue onde está a direita, se termina fazendo o jogo dela contra a esquerda.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Não dá para brigar com a realidade


Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do banco Bradesco, 'vazou' nesta 5º feira, 2, informações que atingem de forma letal a candidatura Serra. Aspas para as inconfidências de Trabuco:

I] "O que sentimos, tendo por base nosso relacionamento com 1,4 milhão de empresas, é que o Brasil está crescendo em todos os setores. Não há uma dependência setorial".

II] "...11 milhões de brasileiros vão viajar pela primeira vez de avião nos próximos 12 meses".

III] "...o Brasil passará nos próximos anos pelo melhor ciclo econômico de sua história; vamos vivenciar, na segunda década do século XXI, aquilo que foi chamado de "sonho americano".

Ao longo do dia, de diferentes áreas do governo e da economia, outros vazamentos sacudiriam a combalida higidez da candidatura José Serra, a saber:

A] O BC interrompe alta dos juros.

B] A carga tributária declina.

C] As vendas recordes de automóveis em agosto.

D] A massa salarial tem aumento real de 32,7% entre 2004 e 2010.

E] As classes C e D já superam a classe B em poder de consumo.

F] O setor industrial investe R$ 549 bilhões até 2013.

G] Definida a capitalização da Petrobras: fatia estatal da empresa deve saltar de 29% para 42% e garantir - à revelia do condomínio midiático-tucano - a soberania brasileira no pré-sal.

H] A infraestrutura teve R$ 199 bilhões em investimentos entre 2005 e 2008 e terá mais R$ 310 bilhões entre 2010-2013.

I] O Brasil realiza os três maiores investimentos em geração de energia elétrica do planeta - Jirau e Santo Antônio e Belo Monte.

J] O otimismo dos brasileiros atinge o maior nível em 9 anos.

Visivelmente abalado, no final do dia, o candidato tucano retomaria seu discurso contra as Farcs, contra Morales, o narcotráfico, o PT...

[Publicado no sítio Carta Maior, em 02/09/10]