sábado, 26 de janeiro de 2013

Paulo Wright não está em Cuba

Luiz Manfredini

Esquadrinhando meus livros, dia desses, me deparei com um volume de não mais que 130 páginas, já um pouco empoeirado (a edição é de 1993), sob o título “O coronel tem um segredo” e o subtítulo “Paulo Wright não está em Cuba”. Folheei o livro, detendo-me aqui e ali no relato sensível de Delora Jan Wright, filha do reverendo Jaime Wright (que trabalhou com dom Paulo Evaristo Arns no projeto “Brasil: nunca mais”) e sobrinha de Paulo. Naveguei por trechos do livro e pelos escaninhos da minha memória, buscando mais uma vez capturar das névoas do passado a figura desse revolucionário destemido, sensível e fervoroso que em julho próximo completaria 80 anos. Em algum dia de setembro de 40 anos atrás ele foi preso e trucidado pela ditadura.

Filho de missionários norte-americanos da Igreja Presbiteriana que se estabeleceram no Brasil em 1923, Paulo nasceu em Herval, Oeste catarinense, em julho de 1933. Desde cedo foi dedicado militante cristão em favor das causas sociais. Aos 23 anos, depois de formar-se em sociologia e política pelo “College of the Ozarks”, em Arkansas (EUA), tirou sua carteira de trabalho como servente em São Paulo. Desejava, como registrou Delora Wright, “viver a vida, os sacrifícios, as alegrias e as dores de um trabalhador”. Mais tarde, já casado em Joaçaba (SC), empregou-se como torneiro mecânico e ajudou a fundar o sindicato local dos metalúrgicos e organizou os trabalhadores da construção civil e da indústria de papel e papelão. Dois anos depois, de volta a São Paulo, empregou-se como operário da Lambretta do Brasil e associou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos. Durante o dia trabalhava na fábrica e, à noite, lecionava sociologia no Instituto Metodista. Em 1960 era secretário regional da União Cristã de Estudantes do Brasil. Depois voltou à Joaçaba, onde disputou a Prefeitura.

 Nessa época de grande efervescência política no Brasil – o final do governo JK, o efêmero governo de Jânio Quadros e o início do período João Goulart – Paulo disseminou palestras e conferências, participou de movimentos como o que defendia a revolução cubana e organizou 27 cooperativas de pescadores. Eleito deputado estadual em 1962, no ano seguinte aproximou-se da recém-fundada Ação Popular, organização reformista de origem católica à qual se dedicaria por inteiro nos dez anos seguintes, sua última década de vida.

 A cassação do seu mandato parlamentar pelos militares golpistas, em maio de 1964, lançou Paulo Wright para um breve exílio no México e em Cuba. Breve porque, já em 1965, estava de volta ao Brasil, agora clandestino. O nome Paulo perdia-se nas sombras, dando lugar ao de João, o mais usado por ele – entre outros – na vida subterrânea. Tornou-se dirigente nacional da AP, acompanhou a rota da organização do reformismo à revolução, mas não se incorporou ao PCdoB como fez a maioria dos seus companheiros entre 1972 e 1973. Tornou-se marxista-leninista, certamente sem deixar de ser cristão. Como afirmou o cardeal Arns, no prefácio do livro de Delora, Paulo Wright era “um cristão que teve a coragem de levar suas convicções às últimas consequências”.

 Recentemente o “Vermelho” dedicou um editorial aos que “foram quadros políticos sem igual na esquerda brasileira, homens extraordinários, guerreiros do povo brasileiro”, dedicados “à luta pelo ideal comunista, pela revolução político-social e o socialismo”, e que “deram suas vidas à democracia, às causas patrióticas, aos direitos do povo, à solidariedade internacional”. Paulo Wright foi um desses gigantes da história. Haroldo Lima e Aldo Arantes, que na direção da AP divergiram de Paulo Wright quanto à incorporação da organização ao PCdoB, passando a trilhar caminhos diversos, o homenagearam nas “Palavras finais” de seu livro “História da Ação Popular: da JUC ao PCdoB”: “Manifestamos nosso respeito à memória de Paulo Stuart Wright, combatente sério e dedicado que, preso pela ditadura militar fascista, em setembro de 1973, foi torturado e morto, tendo-se portado com dignidade revolucionária”.

Entre 1968 e 1973, ou seja, entre os meus 18 e 23 anos, mantive vários encontros com Paulo Wright em Curitiba, São Paulo, no interior de Santa Catarina e em Salvador, cobertos sempre pelo manto da clandestinidade. Jovem em busca de exemplos modelares, aprendi a admirar profundamente aquela figura de larga bonomia, paciente para ouvir com atenção a todos, dedicado ao extremo às suas convicções e à luta revolucionária. Nosso último encontro foi no início de setembro de 1973, em São Paulo. Circulamos de carro pela cidade e estacionamos numa ruazinha estreita e arborizada do Morumbi. O povo vibrava no estádio e nós, dentro de um fusca, conversávamos sobre os desafios da revolução brasileira. Ali permanecemos um bom tempo, após o que Paulo se despediu e seguiu pela ruazinha com seu andar cansado. Dias depois embarcaria num trem urbano com destino a Santo André para nunca mais aparecer.

Prestei a Paulo Wright singela homenagem em meu romance “Memória de Neblina”, fazendo-o encontrar-se com dois personagens, Sebastião e Lau, num “aparelho” da clandestinidade, dias após a decretação do Ato Institucional número 5, em dezembro de 1968.

Paulo Wright entrou pela porta dos fundos, maneiroso como sempre, sorridente como sempre, desempenhando o papel de tio do Sebastião, o tio César, de passagem pela cidade. (...) Alto, forte, a cabeleira puxada para trás, em ondas, aqueles bigodões cuja contundência era amenizada pelos olhos azuis que conferiam à sua fisionomia uma aura de bondade quase ingênua.

Passaram a tarde num quartinho do sótão. Conversaram sobre a grave situação do País e as perspectivas revolucionárias.

Paulo Wright, voz de brisa primaveril adestrada no mundo dos segredos, enveredou a conversa para a vida de cada um dos dois, tão jovens e tão dispostos.

Logo em seguida os deixou.

Lau e Sebastião nunca mais o viram.

 Quatro anos depois Paulo Wright foi tragado pela violência que previra e desapareceu no oceano de sombras do regime. Seu nome nunca deixou de frequentar a lista dos desaparecidos, sobre os quais jamais se teve notícia alguma.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Lula de volta às ruas


Luiz Manfredini

Lula anunciou sua volta às ruas a partir de fevereiro. "No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país”, disse. E acrescentou: “Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade".

 Oficialmente Lula retornará às suas caravanas da cidadania. Mas sabe-se o que realmente vai fazer. Vai para as ruas, para junto do povo enfrentar a ofensiva política que a direita ensaia no pós Ação Penal 470 e com vistas às eleições de 2014. É o estilo de ex-presidente, já utilizado no final de 2005, quando os demo-tucanos batalharam pelo impeachment no bojo da CPI dos Correios. Inviabilizado o impedimento, a direita decidiu sangrá-lo de modo que chegasse, exangue, para ser derrotado nas eleições de 2006. Nas ruas, com o povo, Lula virou o jogo.

Sem programa e perdendo votos a cada eleição, as oposições não se conformam em testemunhar que o PT de Lula e seus aliados tenham vencido a disputa de 2012 em mais de 80% dos municípios brasileiros e que ele e a presidente Dilma ostentem uma popularidade que beira os 80% (segundo as pesquisas, qualquer um dos dois seria imbatível, em qualquer cenário, se as eleições de 2014 fossem hoje). Então as oposições e seu beligerante aparato midiático, voltam à tática de 2005: colocar Lula sob sua mira, agora tentando, por todos os meios, ligá-lo ao suporto “mensalão”, qualificando-o como corrupto e, assim, iniciando a operação para desconstrui-lo por inteiro. Agora o famigerado Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, anuncia que provavelmente enviará à primeira instância o depoimento de Marcos Valério onde ele diz que recursos do suposto “mensalão” foram utilizados para pagar despesas pessoais de Lula. É isso, a campanha da direita está na rua, ou melhor, nas imagens da TV e nas páginas dos jornais e revistas da grande mídia privada, o que lhe multiplica a repercussão na busca de um consenso social reacionário.

A campanha contra Lula está ligada, obviamente à disputa que se avizinha para 2014 (a presidente Dilma ainda não entrou propriamente no foco do ataque), mas contém um ingrediente para além da luta política concreta. Um ingrediente ideológico, de furioso ódio de classe da casa grande contra um atrevido da senzala que ousou altear-se na política nacional, chegando – pasmem – à Presidência da República. Não é gratuita, portanto, a execração que o complexo midiático-conservador promove contra o ex-presidente, uma campanha carregada de menosprezo, de cruel abominação, que impõe, como solução final, não apenas derrotar Lula politicamente, mas também desmoralizá-lo, humilhá-lo, desqualifica-lo como pessoa e cidadão, como a dizer à sociedade que o trabalhador deve trabalhar, produzir riqueza, mas nunca atrever-se a liderar o País.

Ressalvadas as proporções e circunstâncias históricas, o que as elites conservadores pretendem assemelha-se ao que os portugueses fizeram com Tiradentes, executado e esquartejado por liderar a Inconfidência Mineira, com os pedaços do seu corpo espalhados por onde realizara sua pregação revolucionária. Arrasaram a casa em que morava, jogando sal no terreno para que nada lá germinasse. Sua memória e decendentes foram declarados infames.

Nessa guerra sistemática, cotidiana, a grande mídia privada – o supremo arauto à frente das maquinações direitistas - não se vexa em inventar e manipular fatos, propalar mentiras, montar fotos, espalhar boatos. É a guerra de classe sem fim. Getúlio Vargas e João Goulart foram vítimas de campanhas semelhantes, embora sua condição de grandes proprietários rurais os tenha livrado do ódio de classe que se abate sobre Lula. Foram campanhas sórdidas contra o progressismo daqueles governos, mas sob a mesma capa do moralismo cretino e falseador. A expressão “mar de lama”, com a qual a direita sempre atacou os governos progressistas, foi criação de Carlos Lacerda, em suas histéricas investidas contra Getúlio no início dos anos 1950.

Mas já na crise de 2005 Lula garantiu que não teria o fim que tiveram os dois ex-presidentes – o suicídio de um, a deposição de outro. Lutaria. E lutaria nas ruas, leito por onde a história costumeiramente marca seus espasmos e garimpa suas soluções. É o que anuncia para fevereiro. Não é do seu estilo choramingar dificuldades, abater-se diante delas como, lamentavelmente, procede expressiva parte do seu partido, atada a um certo – e nocivo - fatalismo. Diante da crise, Lula se agiganta. Sabe que a ofensiva midiático-conservadora, a despeito de tê-lo como o centro do alvo, mira também o projeto de esquerda que ele encarna e todos os seus atores (e não apenas o PT, como julgam alguns). Por isso, logo estará nas ruas.


Luiz Manfredini é jornalista e escritor em Curitiba, representa no Paraná a Fundação Maurício Grabois e é autor de “As moças de Minas”, “Memória de Neblina”, “Sonhos, utopias e armas” e “Vidas, veredas: paixão”.
 

 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Chávez e a nossa América

Redigimos estas notas em meio aos rumores, quase todos pessimistas, sobre a saúde de Hugo Chávez. Muitos, que não conseguem ocultar o regozijo, afirmam que o líder venezuelano agoniza. Outros – e é o caso de Evo Morales, da Bolívia - rezam para que ele sobreviva.

Mauro Santayana, em seu blog

Infelizmente, segundo observações médicas, só um milagre poderá devolver Chávez a Caracas, vivo e apto a retornar ao poder. As indomáveis circunstâncias, que o fizeram soldado, revolucionário e chefe de governo e de Estado em seu país, retiram-se agora de seu destino, dele fazendo um enfermo comum, que vem lutando, com coragem, mas sem armas efetivas, contra o câncer.

Ele, ao ser diagnosticada a enfermidade, observou, sob o riso desdenhoso de alguns, que o câncer estava, em coincidência muito suspeita, atingindo líderes do continente. Citou Lula e Cristina Kirchner e ele mesmo, como exemplos. O fato é que, em nossos dias, é fácil provocar enfermidades fatais em pessoas com saúde, e é também certo que o poder, com sua ansiedade e angústias, vulnera o organismo e favorece o seu acosso.

Chávez, queiram ou não seus opositores, ocupou a História da Venezuela com uma presença só comparável à de seu ícone, Simon Bolívar. Não cabe discutir – e o debate exige tempo e espaço – se as medidas que tomou irão prevalecer no futuro. O seu grande êxito foi o de dar à maioria do povo venezuelano, o seu lado mais sacrificado e oprimido, antes e depois da independência, a consciência de ser, e de pertencer a uma pátria pela qual vale lutar.

O coronel é um mestiço andino, embora tenha nascido ao sopé de um dos segmentos mais imponentes da Cordilheira, o de Mérida, mas em terras planas. Sua forma de ver o mundo está na contradição dialética entre os mitos pré-colombianos e o pensamento ocidental. Em homens de sua origem e formação, prevalece, em certos momentos, a força instintiva dos autóctones, em outros, o racionalismo europeu.

Nesse jogo mental ele construiu o seu discurso às massas, muito superior ao de outros líderes continentais, pela simplicidade e pelo uso de imagens oferecidas pelo cotidiano.

O destino do socialismo bolivariano está vinculado, neste momento, à sobrevivência do discurso de Chávez. Como em todas as experiências políticas do passado, é difícil que o sistema, como ele o construía, se complete. Mas é certo de que os trabalhadores da cidade e dos campos de seu país não aceitarão voltar à submissão, dócil, aos oligarcas que têm dominado o país, com pequenos intervalos de governos honrados e efêmeros – como o do grande romancista Romulo Gallegos, que durou apenas nove meses, em 1948.

Chávez já é um dos grandes homens da América.

Última chance para derrubar Dilma

A oposição sabe que o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória, mas de que haja segundo turno em 2014.

Antonio Lassance
 
A oposição sabe que o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória, mas de que haja segundo turno em 2014. O “timing” para fazer isso é 2013, ou será tarde demais para conseguir tirar a vantagem que hoje tem a presidenta contra qualquer adversário.

Ao contrário de campanhas anteriores, os tucanos já definiram seu candidato com bastante antecedência. A antecipação ocorreu porque a tarefa da oposição é ingrata. A popularidade de Dilma anda na estratosfera (73%) e resistiu aos escândalos direcionados contra seu governo, ao julgamento da Ação Penal 470 e à desaceleração da economia. A presidenta e o PT não só atravessaram tudo isso como conseguiram ampliar o número de prefeituras e derrotar o PSDB na cidade com o maior eleitorado do país. Uma dificuldade extra para a política em 2014 será o clima de copa do mundo de futebol, mais intenso e que se estenderá por mais tempo no Brasil.

Na batalha para garantir que pelo menos haja segundo turno, os que fazem oposição ao governo Dilma sabem que não podem confiar só no PSDB. Torcem por um maior número de candidatos com pelo menos 10% de intenções de voto cada. Faz parte do jogo trazer Marina Silva de volta à cena, falando de meio-ambiente; dar voz ao Psol para falar de corrupção; estimular Eduardo Campos – que já disse que não é candidato - a se tornar candidato. Nessa divisão do trabalho, os tucanos centram seu foco na economia, ou melhor dizendo, no tema das finanças (públicas e privadas).

Na nova estratégia oposicionista, o tempo é a variável fundamental. A estigmatização dos adversários e a editorialização da política já são armas corriqueiras. Os alvos também continuam, em grande medida, os mesmos. Incluem os clichês da tradicional espiral de pessimismo: "a inflação está alta demais", "os gastos públicos fugiram do controle", "o país vai crescer menos que o Haiti", "a saúde está pela hora da morte", "a educação só piora".

Os estigmas mais fortes virão dos desdobramentos do mensalão. A oposição ambiciona as imagens de petistas indo para a carceragem, se possível, algemados; melhor ainda se forem pegos de pijama e seguirem para a prisão em camburões, filmados pelos helicópteros das redes de TV.

Os novos alvos ficam por conta da batalha pela redução das tarifas de energia, confrontada com o fantasma do apagão, e da gestão da prefeitura de Haddad, que poderá ser alvo da mesma tentativa de erundinização que se viu na campanha de 1989 contra Lula, quando uma administração boa e séria foi transformada em um péssimo exemplo pelos adversários.

Está certíssimo o ministro Gilberto Carvalho, que disse que “2013 vem aí e vem muito bravo”. A questão é saber: diante dos ataques, o que farão a presidente, seu governo, Lula e o PT?

Uma grande expectativa está sendo depositada em uma presença pública mais intensa de Lula, com suas caravanas, seu contato com o povo, sua língua ferina contra os adversários, seu improviso, suas metáforas. Esse estilo direto e mambembe de fazer política sempre ajudou o PT a inverter o jogo em momentos difíceis.

Mas será que isso basta? Lula será fundamental para defender o PT e a si próprio dos duros ataques que vem sofrendo. Também pode fazer, melhor do que ninguém, a defesa de seu legado. Em 2013, completamos 10 anos do início de muitas mudanças que agora fazem parte da paisagem socioeconômica do país. Mas há toda uma nova geração de brasileiros que já não se recorda do que era este país antes de Lula. Não sabe o que era a educação sem Fundeb, sem Pró-Uni, sem Cefet’s, sem as universidades que foram criadas ou ampliadas. Não sabe o que era a Saúde sem a Política Nacional de Urgência e Emergência - da qual fazem parte o SAMU e as Unidades de Pronto Atendimento - e sem “Brasil Sorridente”.

Tem gente que não se lembra o que era a infraestrutura do país antes do PAC, nem da época em que engenheiros começavam a aparecer nas esquinas vendendo cachorro-quente. Muita gente não tem ideia do que era a vida dos mais pobres com a taxa de desemprego acima de dois dígitos, sem o Bolsa Família, sem o “Minha Casa, Minha Vida”, sem o “Luz para todos”. Antes da criação das contas populares, que permitiram a bancarização de milhões de brasileiros, muitos tinham vergonha de entrar em uma agência bancária e só conseguiam crédito recorrendo à agiotagem. Neste sentido, Lula pode ajudar muito a refrescar a memória do país.

Mas, e Dilma? Estamos falando de seu governo, e não só do governo Lula. É da presidenta a responsabilidade primordial de dizer o que é e o que faz seu governo. Seria bom que fizesse isso mudando ou no mínimo variando mais seu padrão de comunicação, incluindo entrevistas a blogueiros, a rádios e veículo do interior, sindicais e comunitários.

Se quiser fazer frente a seus adversários e ao tamanho dos desafios colocados, Dilma vai ter que falar mais, que viajar mais. Vai precisar explicar mais o que está acontecendo, o que está fazendo e o que está em jogo para o futuro do país. Terá que se rodear menos de ministros e celebridades, e mais do povo das ruas. Afinal, este ano de 2013 começou com altas temperaturas e com cara de primeiro turno.

Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).