tag:blogger.com,1999:blog-55393746838802564742024-03-05T18:50:22.651-08:00Blog do ManfrediniEste blog compartilha com você política e literatura, duas dimensões essenciais da existência humana.Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.comBlogger110125tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-67746216713469898902019-01-02T09:58:00.000-08:002019-01-02T09:58:02.999-08:00<br />
<br /><br /><h2 style="text-align: center;">
<span style="color: #990000; font-size: x-large;"><b>O regime do golpe empossou o da tirania</b></span></h2>
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José Reinaldo Carvalho (*)</div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><div style="text-align: justify;">
A posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República mereceu um ruidoso consenso por parte da mídia empresarial e das lideranças conservadoras do mundo político e econômico-financeiro.</div>
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Por alguma razão, o ato de investidura no mais alto cargo do país de um político tão desafeto da democracia é designado como “festa da democracia”.</div>
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Atribuir caráter democrático ao novo regime e propagar que a democracia lhe deu posse é mais uma dessas falsificações que fazem parte da época das chamadas fake news.</div>
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Bolsonaro foi eleito e assume a chefia do Estado e do Governo nos marcos de um golpe de Estado, em que a estabilidade democrática do país foi rompida, resultando no impeachment da presidenta legitimamente eleita, na prisão sem motivos, sob falsa acusação, do maior líder popular do país e na proibição de sua candidatura.</div>
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O consenso sobre a “posse democrática” tem sua razão de ser na unidade programática das classes dominantes em torno dos principais pontos da agenda do novo governo: as reformas antissociais, a orientação econômica ultraliberal, o combate às forças de esquerda e o realinhamento internacional do Brasil.</div>
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Tudo devidamente encoberto sob juras de respeito à Constituição e à democracia, sendo uma um livro que se pode rasgar sob o impacto de emendas que desnaturam o seu espírito, e a outra um conceito impreciso e vago instrumentalizado segundo as conveniências do governo de turno.</div>
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No palavreado tosco do presidente da República, pronunciado em má dicção, busca-se esconder as suas reais intenções sob os bordões que fizeram a glória de sua campanha eleitoral: o “combate” à corrupção e à criminalidade, a “valorização” da família, a formação do Ministério “sem viés político”, a “ruptura” com práticas nefastas, o “direito de defesa” das pessoas e da polícia, e outras expressões que com o tempo se revelarão inócuas platitudes.</div>
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São expressões e gestos, tal como a pantomima do discurso em Libras, que se destinam a distrair o público e a revolver os porões do reacionarismo há tempos recalcado. Farão parte da propaganda governamental, serão o substrato do “Ame-o ou deixe-o” do século 21, enquanto a dura realidade dos problemas econômico-sociais e dos conflitos políticos não se impuser. Não tardará a surgir a simbologia do salvador da pátria e da mãezinha protetora de desvalidos, um culto à personalidade mesclando energia e bondade, enquanto os encarregados da economia, da polícia e da segurança – institucional ou não – derem curso a inomináveis crueldades.</div>
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Foi o sinal emitido por algumas cenas da cerimônia de Primeiro de Janeiro. A preparação meticulosa do ambiente contou com um ameaçador aparato militar, gestos patéticos e até mesmo uma “quebra do protocolo”. O discurso em Libras da primeira-dama fez parte do roteiro traçado, mas não só. A exibição de força das três armas e a demonstração de afeto na aparição da primeira-dama são signos que apontam para o “novo” estilo de governar. O regime tirânico vai combinar demonstrações de força com mensagens melífluas.</div>
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A verdadeira face da tirania aparece quando o presidente ataca os que ele considera “inimigos da pátria, da ordem e da liberdade”, ou proclama o fim do “socialismo”, do “politicamente correto”, da “ideologia de gênero”, da submissão às ideologias” e da vigência das “tradições judaico-cristãs”. E quando jura derramar sangue para defender as cores da bandeira.</div>
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Mesmo ignorando os fundamentos mais elementares da ciência política, Bolsonaro sabe que socialismo não houve no Brasil, que não há força política, seja em que espectro for, que defenda a bandeira vermelha como pavilhão nacional ou que proponha o socialismo como alternativa imediata aos graves problemas do país.</div>
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São truques da propaganda neofascista. Desde Dwight Eisenhower, o discurso em torno do conceito judaico-cristão é usado como amparo filosófico da guerra fria, da defesa da supremacia imperialista estadunidense, de valores conservadores e da mobilização de forças intelectuais e militantes contra o comunismo, o socialismo e o progressismo. O ghost-writer de Bolsonaro retirou do baú empoeirado a referência às “tradições judaico-cristãs” para justificar os ataques às concepções de democracia e direitos humanos das forças progressistas, com o fim de impor políticas conservadoras e de direita, consistentes no uso de atos repressivos de lesa-humanidade. Não foi por mera retórica que, quando deputado e candidato, o atual presidente exaltou a tortura e os torturadores.</div>
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Jair Bolsonaro assume a Presidência da República num país com imensa projeção e importância geopolítica. A corte que lhe fazem o presidente dos Estados Unidos e o líder sionista israelense Benjamin Netanyahu faz parte de um conflito internacional pelo novo ordenamento do mundo, em que a olhos vistos a superpotência norte-americana já não pode fazer o que quer pois já soou o dobre de finados da sua primazia inconteste.</div>
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O Brasil não pode enveredar pela senda antidemocrática e antissocial no plano interno, sob pena de sofrer perdas irreparáveis em seu desenvolvimento. Nem pode deixar-se arrastar pelos planos imperialistas dos EUA e Israel, sob o risco de perder irremediavelmente a sua soberania. As demonstrações de sujeição por parte do novo regime causam a justa indignação dos patriotas.</div>
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Resistir e lutar contra esse regime é, assim, questão de salvação nacional.</div>
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<i><span style="font-size: x-small;">(*) Jornalista, editor de Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do PCdoB</span></i></div>
</i></span>Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-37346074483399317812019-01-02T06:27:00.000-08:002019-01-02T06:27:48.108-08:00Reforma política e corrupção<div class="titulo_detalhe">
<h1 class="titulo_detalhe" style="color: #0061a6;">
</h1>
<h2 class="titulo_detalhe" style="color: #8b8b83; font-size: 12pt;">
O custo total das campanhas da última eleição foi de 5 bilhões de reais. A consagração legal do financiamento privado consagrará o sistema de corrupção. <span class="detalhe_autor" id="detalhe_autor" style="margin-left: 4px;">Samuel Pinheiro Guimarães</span> </h2>
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<div class="img_editorial_detalhe" id="pag" style="float: left; margin-top: 30px; max-width: 668px;">
<div id="pag_1">
<div class="texto_detalhe" id="texto_detalhe">
<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Há um clamor público, uma revolta de todas as classes da sociedade, contra as revelações de corrupção.</span> </div>
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<span class="texto_detalhe">Quando terá começado a corrupção? Quem são os culpados? É um fenômeno exclusivamente brasileiro ou do mundo subdesenvolvido ou humano em geral? A quem interessa? Ocorre apenas no setor público? Será uma característica inata da sociedade brasileira? </span><br />
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<span class="texto_detalhe">Os incidentes de corrupção que a operação Lava Jato vêm desvendando e que vazam para a imprensa, sem provas e a conta gotas, por quem deveria preservar o sigilo das investigações e a reputação dos acusados (mas não culpados por que não foram julgados) estariam relacionados com o financiamento de campanhas eleitorais.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">O sistema de financiamento de campanhas eleitorais está vinculado à representação de interesses econômicos no Legislativo e no Executivo. O caso do Judiciário é um tema a parte, ainda que de grande interesse.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">O candidato Aécio Neves gastou em sua campanha eleitoral, de acordo com as declarações ao TSE, cerca de 201 milhões de reais. A candidata Dilma Rousseff gastou cerca de 318 milhões de reais. O custo total das campanhas para presidente, governador, senador e deputado foi de cinco bilhões de reais.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">De onde vieram esses recursos? Certamente (ou muito raramente) não vieram da fortuna pessoal dos candidatos, mas sim de doações, principal ou quase exclusivamente, de grandes empresas privadas.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">O custo das campanhas é em extremo elevado devido aos custos de produção e de veiculação de programas de televisão, das viagens que se fazem necessárias devido à extensão territorial do país, dos custos de material de propaganda e de sua distribuição.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">O objetivo dos que defendem o financiamento privado das campanhas eleitorais está vinculado à principal característica da sociedade brasileira que é a concentração de renda e de riqueza.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">A concentração de renda é, em geral, estimada a partir dos rendimentos do trabalho conforme declarados à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo IBGE.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Os rendimentos do capital, isto é os lucros, os juros, os aluguéis, são subdeclarados na PNAD e a Secretaria da Receita Federal não publica esses dados de acordo com a sua distribuição por faixa da população, ainda que sem quebra de privacidade dos declarantes do Imposto de Renda.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">A estimativa é de que os rendimentos do trabalho correspondam a cerca de 48% da renda nacional.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">O salário mínimo é de 788 reais, o salário médio do trabalhador brasileiro é inferior a 2.300 reais por mês e 90% dos brasileiros ganham até cinco salários mínimos por mês.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">São 13,7 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família. Isto significa que cerca de 50 milhões de brasileiros tem rendimento </span><span class="texto_detalhe">mensal</span><span class="texto_detalhe"> inferior a 77 reais. Por outro lado, há, no Brasil, cerca de 46 bilionários e 10.300 multimilionários, estes com patrimônios pessoais superiores a 23 milhões de reais.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Muitos são os mecanismos de concentração de renda e de riqueza.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Entre esses mecanismos estão às taxas de juros, o sistema tributário, os créditos do Estado a empresas e o sistema de aluguéis.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Quanto mais elevadas às taxas de juros “autorizadas” ou permitidas pelas autoridades monetárias maior a transferência de riqueza de devedores, que são a enorme maioria da população, para os credores privados, detentores do capital, e do Estado para os seus credores. </span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">O sistema tributário pode ser regressivo ou progressivo. O sistema se diz regressivo quando a maior parte dos impostos arrecadados provêm da maioria da população, sem distinção de seu nível de renda (imposto sobre o consumo, por exemplo) e se diz progressivo quando os indivíduos detentores de maior riqueza ou de mais alto nível de renda pagam mais impostos mesmo em proporção a sua riqueza ou renda. É fato que um sistema regressivo de tributação concentra renda e riqueza. As isenções de impostos, as restituições e as desonerações para empresas ou indivíduos acentuam a concentração de renda.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">Os créditos fornecidos pelo Estado privilegiam</span><span class="texto_detalhe"> </span><span class="texto_detalhe">em geral as maiores empresas e, portanto, seus proprietários que são os indivíduos mais ricos da sociedade.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">A leniência do Estado para com a evasão de tributos ou com seu não pagamento (por exemplo, pela não criminalização da evasão, pelo parcelamento e perdão das dívidas tributárias) também concentra renda e riqueza. São brasileiros os proprietários de 530 bilhões de dólares depositados em paraísos fiscais.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">A concentração de renda e de riqueza em mãos de uma ínfima minoria da população brasileira tem importantes efeitos sobre o sistema democrático e sobre os episódios de corrupção.</span><br />
<div class="texto_detalhe">
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Os indivíduos detentores de riqueza e renda tem interesse em preservar os mecanismos de concentração e interesse em que não surjam instrumentos legais (leis ou programas) que desconcentrem riqueza e renda.</span><br />
<div class="texto_detalhe">
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Ora, as normas (as leis) que definem a estrutura e o mecanismo de riqueza, propriedade e renda (legislação trabalhista, tributária, monetária, da propriedade rural e urbana, etc.) são elaboradas no Legislativo, eventualmente no Executivo e cada vez mais no Judiciário.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">Em um país de grande concentração de riqueza e renda, de elevado grau de urbanização, de grande penetração dos meios de comunicação, de sistema democrático e eleitoral relativamente livre de fraudes, seria natural que a enorme maioria da população (que é pobre ou no máximo remediada) elegesse a maioria dos representantes no Congresso, que deveriam ser como ela pobres e remediados e, portanto, legisladores dispostos a redistribuir a riqueza e a renda ou pelo menos a minorar os mecanismos de concentração.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">Não é isto o que ocorre.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">A ínfima minoria milionária e bilionária tem, assim, de procurar instrumentos para influir no processo político para evitar esse tipo de legislação e de ação redistributiva no Executivo. Essas, quando ocorrem, são taxadas de comunistas, socialistas, nacionalistas, e hoje em dia de bolivarianas.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">O primeiro e mais importante desses instrumentos é o financiamento privado (empresarial) das campanhas eleitorais.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">O segundo instrumento é o controle dos Partidos para que estes escolham como seus candidatos indivíduos que sejam favoráveis à sua visão (isto é, daquela minoria) da sociedade, ainda que não sejam eles mesmos, do ponto de vista pessoal, detentores de riqueza e renda elevadas.</span><br />
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">O terceiro instrumento é o controle dos meios de comunicação para convencer a população das deficiências do Estado, do caráter corrupto dos candidatos dos Partidos e das políticas populares (isto é, daqueles comprometidos com programas de reforma social que leva à desconcentração de riqueza e renda). </span><br />
<div class="texto_detalhe">
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<div class="texto_detalhe">
<span class="texto_detalhe">O quarto instrumento é a campanha permanente dos meios de comunicação de desmoralização da atividade política, do Estado e dos políticos para manter a maioria do povo afastada da política. Uma das formas de manter o povo afastado da política seria a aprovação do voto facultativo como se este fosse apenas um direito e não um dever. </span><br />
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<span class="texto_detalhe">A campanha pela reforma política deve se concentrar no tema central do financiamento empresarial das campanhas, que é a verdadeira fonte de corrupção e de controle oligárquico, não democrático, da sociedade por aqueles que concentram o poder econômico e controlam os meios de comunicação.</span><br />
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<span class="texto_detalhe">Os representantes das forças conservadoras no Congresso Nacional já se empenham para votar o projeto que consagra o financiamento privado, isto é, empresarial, das campanhas eleitorais.</span><br />
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A consagração legal do financiamento privado consagrará o sistema fundamental de corrupção do processo político que tem como objetivo impedir a desconcentração de riqueza e renda que torna o Brasil um dos países mais injustos do mundo.</div>
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Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-89327858198303691112015-02-17T03:08:00.002-08:002015-02-17T03:08:53.268-08:00Tirar Dilma e Lula do jogo: PSDB só pensa nisso<h1>
<span class="comment"><span style="font-size: small;">Ricardo Kotcho</span> </span></h1>
<div class="entry">
Para refletirmos durante o Carnaval: o que move o PSDB, qual é o seu projeto de país, além da obsessão em derrubar Dilma e tirar Lula do jogo?<br />
<br />
A julgar pelas manifestações dos seus representantes no Congresso Nacional e a guerra de extermínio desfechada nos últimos dias por seus robôs na internet, nada mais interessa.<br />
<br />
Para alcançar estes objetivos, vale tudo, até se aliar a bolsonaros e caiados, e entregar o comando das oposições a um "aliado" do governo, o todo-poderoso presidente da Câmara, Eduardo Cunha. <br />
<br />
Ou alguém acredita que os tucanos estão realmente preocupados com os destinos da Petrobras, a vida da população e os rumos do país?<br />
<br />
Outro dia perguntei no JRN ao deputado Carlos Sampaio, lider do PSDB na Câmara, quais eram os projetos do partido para 2015, além de pedir a criação de CPIs para investigar o governo. Sampaio deu uma resposta genérica e não consigo me lembrar de nenhum tema relevante.<br />
<br />
Todas as iniciativas políticas, desde a reabertura dos trabalhos do Congresso há duas semanas, não partiram nem do governo nem da oposição, mas do suprapartidário Eduardo Cunha.<br />
<br />
Por onde andam os caciques tucanos? Que fim levou Aécio Neves, o presidente do partido e candidato derrotado por pouco nas últimas eleições? Parece um vagalume, que vez ou outra acende em Brasília, solta uma nota ou faz um discurso, e some novamente. Alckmin, outro nome apontado como possível candidato em 2018, dedica-se atualmente apenas a achar água em São Paulo para evitar o racionamento. Serra só se movimenta nos bastidores. E FHC continua FHC.<br />
<br />
O fato é que 2018 ainda está muito longe e o PSDB simplesmente não se conforma com a quarta derrota seguida para o PT. Desde o primeiro minuto após a reeleição de Dilma, o partido só pensa em encontrar atalhos para voltar ao poder, só pensa nisso.<br />
<br />
Por isso, mesmo que não assumam esta bandeira abertamente agora, o impeachment tornou-se o caminho mais curto para a retomada do Palácio do Planalto, como fica claro nas convocações feitas pelas redes sociais para o protesto do "Fora Dilma" marcado para o dia 15 de março. <br />
<br />
O dilema tucano é que não bastará tirar Dilma. É preciso, antes, tirar Lula do jogo. É o que leva o PSDB a jogar todas as suas fichas no Judiciário e na mídia, a bordo da Operação Lava-Jato, como se tivessem descoberto um novo Plano Real.<br />
<br />
A quem pensam que enganam? E o país que se dane.</div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-46562035669992727322015-02-11T08:28:00.000-08:002015-02-11T08:28:14.551-08:00O projeto de poder de Eduardo Cunha<h1 class="documentFirstHeading">
<span style="font-family: Georgia; font-size: small;">Roberto Amaral</span> </h1>
<div id="content-core">
<div id="middlecollumn">
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<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span> </div>
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<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Invertamos a sentença notável de Clausewitz (<i>Vom Kiege</i>/Da Guerra), para afirmar que a política é a guerra por outros meios. Uma e outra estão subordinadas a uma estratégia (o que se procura conquistar) sustentada em ações táticas (o que fazer) necessariamente servidoras do objetivo final. No curso da peleja as táticas podem mudar e os aliados ser trocados.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span> </div>
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<div id="textstructured">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Na guerra, as batalhas raramente cumprem o roteiro previamente traçado pelos estados-maiores. Já a política (mais precisamente aquilo que Gramsci chamava de a ‘pequena política’ e é disso de que se trata na cena brasileira) é a "arte" do possível, da maleabilidade, da resiliência e do contorcionismo, conquanto que o grande objetivo – a conquista ou mantença do Poder<span> –</span>, seja garantido.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Para esse efeito, os fins justificam os meios, e os meios variam segundo a elasticidade ética do sujeito. Na guerra e na má política. Eis o que as unifica. A guerra é, por definição, a barbárie, e a política raramente é a arte do bem comum. Há casos, mesmo, de absoluta ausência de limites; é quando a política fica a serviço do arrivismo e os interesses do Estado, o bem-público, o interesse coletivo sucumbem como figuras de uma retórica "para inglês ver".</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Vargas, considerado por gregos e troianos como o mais hábil (e por isso mesmo o mais longevo) de nossos políticos-estadistas, desenvolveu como ninguém o ir e vir, o somar e o dividir. E, na vida, transitou da ditadura para a democracia. Atribui-se à sua verve a afirmação segundo a qual, na política, “não podemos ter amigos tão íntimos que com eles não possamos romper, nem inimigos com os quais não possamos nos reconciliar”. É a arte que admite a perda dos anéis como preço para a preservação dos dedos (no caso, representando o poder).</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Seu arquiinimigo, Carlos Lacerda, levou a sentença ao paroxismo. Líder civil do golpe de 1964, mas incompatibilizado com os militares, vai procurar salvação na aliança com os destratados da véspera, Juscelino Kubitscheck e João Goulart, sem se sentir no dever de fazer a autocrítica das ofensas, das mentiras e das infâmias. De certa forma dizia para seu eleitorado e seguidores: <i>esqueçam o que fui</i> (mais tarde outro político diria “esqueçam o que escrevi”).<span>Sua frustrada Frente Ampla tinha por objetivo reunir os diferentes que, por razões distintas (ideológicas, políticas, morais etc.), enfatize-se, lutavam contra o regime castrense. </span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">É o exemplo de um bom fim absolvendo todos os meios, bons e maus. Lincoln, o estadista modelo, viveu a um só tempo a guerra e a política. Para obter da Câmara dos Representantes a aprovação da medida que abolia a escravatura, mentiu para os congressistas e prorrogou a miséria da guerra civil. Mas seu objetivo era humanista e meritório. O que a história registrou foi o fim da escravidão e a vitória do Norte sobre os reacionários do Sul.</span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Essas reflexões deitam olhar sobre o novo Congresso empossado em 1.º de fevereiro, e, nele, particularmente, sobre a nova Câmara Federal e seu novo presidente que tão bem a representa, como a imagem de um espelho. A nova legislatura confirma a sentença de Ulisses Guimarães, que tanto conhecia o poder que liderou por muitos anos: “a próxima Câmara será <i>[sempre] </i>pior do que a anterior”. A agravada tendência conservadora da legislatura recém inaugurada era a única certeza de que dispunham os especialistas em antecipações do óbvio.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">O domínio ético-político do chamado "baixo-clero" anunciava, com mais segurança que os informes meteorológicos, a vitória do líder Eduardo Cunha, bem calçado por anterior e bem calculado acordo com os jornalões, objetivado no compromisso de impedir a tramitação de qualquer iniciativa – governamental ou não <span>– </span>que vise a regulamentar a ação das empresas proprietárias de meios de comunicação sujeitos a concessões públicas, regulamentação, aliás, cobrada pela Constituição de 1988 (v. Artigos 220 e seguintes).</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Relativamente à reforma política, as posições, do presidente Cunha, são as piores possíveis, derivando do livre financiamento empresarial das eleições, via contribuições aos candidatos e partidos, ao "distritão" do saudoso Michel Temer (alguém sabe por onde anda ele em meio a tanta turbulência?), pelo qual desaparece a representação proporcional, desaparecem os partidos (que tal uma democracia representativa sem partidos?) e as minorias são condenadas ao silêncio.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">A reação da grande imprensa é de entusiasmo diante de suas primeiras iniciativas <span>– </span>Ah! como a história nos prega peças! – tidas como moralizantes daquela Casa pouco respeitada, que respeitada agora precisa ser, para o que der e vier. E pode vir muita coisa. “Teremos sessões nas tardes das quintas-feiras”, exclama o grande jornal, como se nuniasse a salvação da República.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Representante do conservadorismo, vocalizando o atraso ideológico do fundamentalismo pentecostal mais primitivo, que manipula, Eduardo Cunha, no entanto, representa acima de tudo os interesses avançados do capitalismo financeiro, trafegando, lépido e fagueiro, à vontade, senhor de si, pelos meandros da Avenida Paulista. Para esse mister ele é confiável – politico urbano e fluminense – o que não ocorre com seu colega Renan Calheiros, nordestino vinculado à decadente economia açucareira, em síntese, um político provinciano; e já não é promessa de poder o atual vice-presidente da República, com data certa para ser sacado da política. Já se lhe cobram a saída da presidência do PMDB, o que poderá conceder em proveito do projeto maior, que, sabe, não comandará.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">O projeto de Cunha, se originalmente respondia tão só a uma ambição pessoal, então tida como desmedida, transforma-se em projeto prioritário das forças conservadoras que entreveem a possibilidade de retomar o controle da política e do que, com esse controle, se transforma em mera consequência. Cansado do ‘amadorismo’ do PSDB e quejandos, voltam-se também significativos segmentos do Brasil moderno – a banca, os grandes meios de comunicação segmentos contrariados do mundo industrial, crescentes camadas da classe média urbana mobilizadas para o moralismo-- para o PMDB velho de guerra e sua comprovada capacidade de conviver com o Poder, que bem sabe controlar e usufruir como nenhum outro partido.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Cunha foi pinçado graças à sua inegável competência como articulador, sua dedicação aos objetivos a que se traça, sua convicção de que os fins justificam os meios. Ele é instrumento e sujeito de um projeto de poder do qual é o artesão mais ostensivo, mas não o único, até porque essa artesania compreende muitos segmentos, para além do estamento político e político-parlamentar. Nesse sentido, a presidência da Câmara Federal é o primeiro degrau dos muitos que ambiciona (a direita é seu corrimão), que pode costurar para si pessoalmente ou para outrem, não importa, conquanto que os interesses que representa sejam dominantes.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Neste sentido e para esses efeitos, Cunha já supera Michel Temer e, aliando-se a Renan Calheiros, nada mais nada menos que o presidente do Congresso Nacional, terá conformado a nova correlação de forças do PMDB, e, de resto, da República claudicante. Cunha não é mais, portanto, um quadro do ‘baixo clero’ em ascensão, mas o mais poderoso político brasileiro depois da Presidente da República (e com as mãos mais livres que as da Presidente). É a nova cara do ‘novo’ PMDB decidido a manobrar diretamente o Poder como senhor e sujeito, e não mais sob as asas do PT. Para tanto todos estão dispostos a vender a alma ao diabo.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Na guerra é desanimador para o general comandante da batalha a descoberta de que seus inimigos estão dos dois lados da linha de fogo. Mas, certamente, pior ainda é descobrir que seus comandados perderam o ânimo do combate. O mesmo se aplica à política, e aos partidos quando suas militâncias arrefecem na luta. O general fica sem condições de defender sua cidadela e enfrentar o inimigo; o político se vê de mãos atadas na defesa e seu governo. Na guerra e na política deixar-se acuar é reconhecer a derrota.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Os dados estão na mesa e a partida teve início. As pedras brancas, como sempre, são as primeiras a se movimentar e caminhando no rumo da área adversária prosseguirão, se não conhecerem resistência.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">A conjuntura internacional desfavorável é uma peça no tabuleiro, como a crise econômica nacional tendente ao agravamento com a crise hídrica e, dela também consequente, a provável crise energética, mais ajuste fiscal, mais lava-jato, mais a <i>media</i> de sempre, mais o Congresso que temos, mais a base partidária de apoio do governo, sustentada pelo fisiologismo descarado. Os dados da economia alimentam a crise política que também a ceva, com a contribuição inestimável de uma oposição partidária disposta a apelar para a desestabilização e o golpismo, e uma imprensa, sua aliada, que, na sua parcialidade antigoverno, ultrapassa as raias da ética. O enredo é conhecido.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Qualquer que seja a política do Planalto, seu ponto de partida deve ser o fortalecimento do governo e da figura presidencial, o que depende das ruas, dos movimentos sociais, mas, igualmente, <span>de uma ordem partidária que, a começar pelo atônito PT, precisa vencer a anomia e recuperar a capacidade de luta.</span></span><br />
<span><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Mas este é, igualmente, o momento das grandes lideranças, das lideranças partidárias, das lideranças políticas, das lideranças sociais, das lideranças estudantis. E, acima de tudo, da afirmação da liderança da Presidente Dilma Rousseff.</span></div>
</div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-36523997016406845162015-02-04T04:24:00.002-08:002015-02-04T04:24:39.855-08:00"Não confio na política dos EUA".<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><strong><span style="font-size: x-small;">Luiz Manfredini</span></strong> *</span><br />
<span style="font-family: Georgia;"></span><br />
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<h2 style="color: #333333; line-height: 22px;">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: small;"><em>Há um forte ranço de cautela e desconfiança no processo de reaproximação entre Cuba e EUA, cujo passo inicial – o restabelecimento das relações diplomáticas - foi anunciado no último dia 17 de dezembro pelos presidentes Raul Castro e Barack Obama.</em></span></h2>
<br /><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Obviamente não se deve subestimar tal iniciativa e tal processo, que rompem uma separação – bastante dolorosa para Cuba - de 54 anos. Espera-se que, muito em breve, a Ilha venha a contar com novas e melhores oportunidades para receber investimentos e ampliar seu comércio exterior, com ampla repercussão no desenvolvimento econômico do país e nas condições de vida do povo. Para a economia estadunidense, seduz a oportunidade de aproveitar um mercado tão próximo de 11 milhões de pessoas.<br /><br /> Ainda assim, a precaução dos cubanos e daqueles que lhes são solidários, possui fortes razões históricas. Afinal, os apetites norte-americanos sobre a Ilha – até mesmo para anexá-la ao seu território - remontam ao fim do século 18. Com a vitória da revolução, em 1959, as pressões foram excepcionalmente agravadas, a começar pelo perverso bloqueio comercial, econômico e financeiro imposto a partir de 1961, provocando prejuízos de bilhões de dólares ao país caribenho e sofrimentos enormes ao seu povo.<br /><br /> Além do bloqueio, a desconfiança vê-se também alimentada pelo vasto cardápio de hostilidades dos EUA em relação a Cuba nos últimos 55 anos, todas voltadas para desestabilizar e, por fim, derrubar o regime. Inclui-se aí o financiamento, pela CIA, de mercenários para a invasão da Baía dos Porcos, em 1961, as mais de 600 tentativas de assassinato de Fidel Castro, o envenenamento da agricultura e pecuária cubanas, emissões de rádio e TV e lançamento de panfletos convocando os cubanos a derrubar seu governo, o apoio financeiro e material para a oposição golpista, etc., etc., etc. Tudo isso é muito conhecido.<br /><br /> Não foi por menos que o taxista que me conduzia, alguns anos atrás, a um hotel no centro de Havana, em meio a uma conversa cujo teor já não me recordo, tenha afiançado, convicto: “Los americanos son siempre tramposos”. Também não foi gratuita e desprovida de sentido uma afirmação recente – em fins de janeiro último - do próprio Fidel, em carta enviada à Federação Estudantil Universitária (FEU). Embora sem discordar das iniciativas do governo no sentido da reaproximação, o líder da Revolução Cubana declarou: “Não confio na política dos EUA”. <br /><br /><strong>Suavidade e porrete</strong><br /><br /> Por mais de meio século obstinados em derrubar o socialismo cubano, por que os EUA procederiam agora de modo diferente? Vejamos a afirmação de Barak Obama, no tradicional discurso do Estado da União pronunciado no Congresso: "Estamos pondo fim a uma política que já passou há muito do prazo de validade. Quando aquilo que você está fazendo não funciona há 50 anos, é hora de tentar algo novo". Em outras palavras: o que os EUA patrocinaram até agora para derrotar, pela força, o regime cubano, não funcionou, então “é hora e tentar algo novo”. Para quê? Para continuar, com outros métodos, em busca dos mesmos objetivos. <br /><br /> Isso faz jus à política do “grande porrete (“big stick”), criada pelo presidente estadunidense Theodore Roosevelt para garantir aos EUA um papel de polícia no ocidente, especialmente seus interesses econômicos na América Latina. Ou seja: um forte poder para retaliar caso fosse necessário, com base no provérbio africano “fale com suavidade e tenha à mão um grande porrete”. No caso cubano, o porrete foi usado primeiro. Não funcionou, então agora a alternativa é falar com a suavidade das relações diplomáticas e a tentativa de destruir o socialismo cubano com a invasão do comércio, da cultura e da ideologia. <br /><br /> Em contrapartida aos duvidosos interesses dos EUA, os cubanos, escolados na luta cotidiana por sua soberania, se mantém, como sempre, firmes. Falando na Terceira Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC), que aconteceu dias atrás em San José, capital da Costa Rica, o presidente Raul Castro deixou claro que a “normalização só virá com o fim do bloqueio, com a devolução do território ilegalmente ocupado pela Base Naval de Guantânamo, e com o término das transmissões de rádio e televisão com provocações, transmissões estas que violam as normas internacionais”. A reaproximação também deverá implicar, segundo Raul, numa compensação “justa para o nosso povo pelos danos humanos e econômicos que sofreu” com o bloqueio.<br /><br /> Raul também apontou que “não se deve pretender, para que as relações com Estados Unidos melhorem, que Cuba renuncie às ideias pelas quais tem lutado durante mais de um século, pelas quais seu povo derramou muito sangue e correu os maiores riscos”. Para Raul, “Cuba e Estados Unidos devem aprender a arte da convivência civilizada baseada no respeito pelas diferenças entre os dois governos e na cooperação em áreas de interesse comum visando contribuir para a resolução dos desafios enfrentados pelo hemisfério e o mundo”.<br /><br />Isso posto, é de se aguardar o desenrolar desse que é um dos acontecimentos mais importantes da atualidade. O tempo dirá que rumo tomará, sobretudo sua influência sobre o prosseguimento da construção do socialismo em Cuba.</span></span></div>
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Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-82801310367149448862015-02-02T06:53:00.000-08:002015-02-02T06:53:28.719-08:00Eduardo Cunha abre era regressiva<a class="vcard" href="http://paulomoreiraleite.com/author/pml2/"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><strong>Paulo Moreira Leite</strong></span></a><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> </span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<em><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> </span></em><div class="olho">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><em>Com vitória arrasadora na Câmara, candidato do PMDB é adversário da democratização da mídia, da proibição de financiamento de campanha por empresas privadas e outras medidas progressistas</em> </span></div>
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><hr />
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</div>
<div class="intro">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Para entender o alcance da votação de hoje na Câmara de Deputados, convém compreender as propostas do candidato vitorioso, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).</span></div>
<div class="intro">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span> </div>
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Ao derrotar Arlindo Chinaglia por 267 votos a 136, Eduardo Cunha cravou a vitória em primeiro turno e deu um golpe duro na agenda de medidas progressistas que o país debateu nos últimos anos. Cunha teve uma vitória arrasadora. Com cinco votos a mais, teria obtido o dobro do apoio obtido pelo petista Chinaglia.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Se o comando da campanha do PT chegou a imaginar uma eleição emparelhada, o resultado mostra uma situação muito mais adversa e difícil. A incapacidade de chegar a um segundo turno mostra o vigor do espírito anti-governo no Congresso.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">A reeleição de Renan Calheiros, por uma margem igualmente folgada (49 a 31) sobre Luiz Henrique (PMDB-SC), na disputa pela presidência do Senado, não pode ser desprezada. Mostra que a Casa continua um local de refúgio para o Planalto proteger seus interesses. A votação na Câmara, porém, aponta para um governo de mãos atadas.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Do ponto de vista do cidadão, a vitória de Cunha tira espaço para mudanças essenciais para o país. O novo presidente é adversário absoluto do ponto principal da reforma política, que consiste em proibir financiamento de campanhas eleitorais por parte de empresas privadas. A democratização dos meios de comunicação, que já era um assunto difícil, tornou-se um debate ainda mais complicado, quem sabe inviável. Cunha também é contra qualquer mudança nessa área. Ao fazer menção a Deus e à Sua Vontade durante o discurso em que apresentou sua candidatura, o novo presidente confirmou que irá cultivar a simpatia de correntes evangélicas, que se tornaram a ponta de lança do conservadorismo — no plano do comportamento — no Congresso, a começar pela proteção aos direitos dos homossexuais e a legalização do aborto.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Cunha já assumiu, publicamente, o compromisso de aprovar projeto que dá caráter mandatário às emendas parlamentares — a mais conhecida janela para deputados terem acesso a verbas do Orçamento e irrigar suas bases eleitorais com recursos públicos, de controle difícil e mesmo impossível.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Se foi uma vitória incontestável pelos votos obtidos, a vitória de Eduardo Cunha pode colocar a Câmara numa trilha conservadora com poucos antecedentes em sua história. Mesmo no regime militar, quando a imprensa estava sob censura e os generais não hesitavam em cassar mandatos de parlamentares mais combativos, a Câmara demonstrou uma postura progressista.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Votou contra a cassação do deputado Marcio Moreira Alves. Em 1984 deu maioria de votos para a emenda das Diretas-Já, que só não foram aprovadas porque era preciso atingir o quorum de dois terços. Mas em 1988 fez uma Constituição com vários pontos progressistas, que instituiu o mais prolongado regime de liberdades públicas de nossa história. Em 2005, quando Severino Cavalcanti derrotou o petista Luiz Eduardo Greenhalgh e tornou-se presidente da Câmara, os deputados deixaram claro que queriam atingir o governo — mas não estavam organizados em torno de uma plataforma conservadora, como a de Eduardo Cunha.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">No meio da tarde, quando estava claro que Arlindo Chinaglia dificilmente chegaria a votação imaginada nos dias anteriores, um parlamentar fazia uma confissão numa rodinha de colegas: “Eu não gostei de nada daquilo que a Marta Suplicy disse ao romper com o governo. Mas sou obrigado a concordar com uma coisa que ela disse: ou o PT muda ou acaba.”</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Para o governo Dilma Rousseff, a vitória de Eduardo Cunha não poderia ocorrer num momento pior. Aguarda-se para os próximos dias a divulgação, por parte do Procurador Geral da República, da relação de dezenas de políticos e autoridades com direito a foro privilegiado que são acusadas na Operação Lava Jato. Conforme o volume de acusados, e por sua qualificação na estrutura do governo, pode-se imaginar o tamanho do estrago a ser produzido quando isso acontecer — e seu reflexo numa Câmara que ontem mesmo já discutia a reabertura das CPIs da Petrobrás.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">O tempo irá dizer como um Congresso com este perfil, à direita, irá conviver com um país que tem dado sinais à esquerda, como se viu na reta final eleição presidencial. Não custa observar que as urnas de 2015 repetiram, o mesmo comportamento de três eleições presidenciais anteriores.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">As chances de choque político e paralisia do Estado são grandes, como se vê nas sucessivas tensões entre o democrata Barack Obama e o Congresso dos EUA, republicano num padrão radical, onde se assiste a um conflito semelhante. A diferença reside na postura do Judiciário.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, no Brasil a Justiça tem assumido uma postura de oposição ao governo Lula-Dilma desde o processo da Ação Penal 470. Em artigo publicado neste domingo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu apoiar a Operação Lava Jato como um caminho não apenas para apurar e punir responsabilidades entre empresas e políticos acusados de corrupção, o que sempre irá merecer aplauso, mas também para modificar o sistema político, atribuição que pertence ao Congresso.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">FHC escreveu: “ou há uma regeneração ‘por dentro’, governo e partidos reagem e alteram o que deve ser alterado, ou a mudança virá “de fora”. O ex-presidente acrescentou: “no passado, seriam golpes militares. Não é o caso, não é desejável nem se veem sinais.” O presidente conclui: “Resta, portanto, a Justiça.”</span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Neste ambiente, o Planalto conseguiu uma vitória importante ao garantir a vitória de Renan Calheiros no Senado. A maioria no Senado pode auxiliar o governo a derrubar projetos de lei aprovados pela Câmara de Deputados, ainda que o preço seja, sempre, algum desgaste. O senado tem a última palavra em diversos matérias financeiras. Renan Calheiros mostrou sua fidelidade ao Planalto quando impediu a realização de uma sessão no qual a oposição pretendia debater a mudança no superávit primário, assunto que poderia colocar, inclusive, forçando um debate sobre impeachment da presidente. Os membros do senado ainda tem o poder de aprovar — ou reprovar — as indicações de Dilma ao Supremo Tribunal. Já existe uma vaga a ser preenchida, deixada pela aposentadoria de Joaquim Barbosa. No final do ano, abre-se outra, de Celso de Mello, que completará 70 anos. São posições de grande importância, quando se avalia os próximos passos da Lava Jato. A decisão de aprovar um processo de julgamento do presidente da Republica necessita do voto de dois terços dois deputados, ou 342 cabeças. Caso o processo seja aprovado, o julgamento ocorre no Senado.</span>Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-40910558975835508892015-01-28T06:43:00.001-08:002015-01-28T06:43:29.640-08:00No primeiro dia, governo grego cancela privatizações <strong>Esquerda.net</strong><br />
<div class="img_editorial_detalhe" id="pag" style="float: left; margin-top: 30px; max-width: 668px;">
<img alt="matthew_tsimitak / Flickr" height="213" src="http://cartamaior.com.br/arquivosCartaMaior/FOTO/150/D4CD61C9BE682877349581E46EFBCA44E605672786319782C6056DF9FA05A7F2.jpg" style="clear: left; float: left; margin: 5px 20px 10px 0px; max-width: 668px;" title="matthew_tsimitak / Flickr" width="320" /> <div id="pag_1">
<div class="texto_detalhe" id="texto_detalhe">
<div class="texto_detalhe">
O novo ministro da Energia da Grécia, Panagiotis Lafazanis, anunciou esta quarta-feira que vão ser cancelados os planos de privatização da Empresa Pública de Energia (DEH, sigla em grego), da qual o Estado grego ainda é o acionista maioritário.</div>
<div class="texto_detalhe">
</div>
<div class="texto_detalhe">
A chamada “liberalização do mercado energético” foi uma das condições impostas pela troika à Grécia. O governo anterior tinha aprovado legislação para vender 30% da empresa aos grupos privados, mas o Syriza prometera durante a campanha cancelar esse e outros planos de privatização. A promessa está assim a ser cumprida no primeiro dia do governo liderado por Alexis Tsipras.<br /><br />Lafazanis disse ainda que a eletricidade e o gás natural são muito caros na Grécia e não ajudam os cidadãos, anunciando que o governo vai preparar um novo plano para a energética. Para já, disse o ministro, o governo irá fornecer energia gratuita a 300 mil lares de famílias que viram o fornecimento cortado por não conseguirem pagar as contas.<br /><br /><b>Porto do Pireu também não será privatizado</b><br /><br />Também a privatização do porto do Pireu, o maior da Grécia, foi suspensa. O governo anterior estava a vender 67% da Autoridade Portuária do Pireu ao Grupo Cosco (chinês). “O negócio com o Cosco será revisto em benefício do povo grego”, disse o vice-ministro Thodoris Dritsas, esclarecendo que o caráter público do porto do Pireu será mantido.<br /><br />Também o ministro adjunto para a Infraestrutura, Christos Spirtzis, anunciou o cancelamento da privatização de infraestrutuas, como os aeroportos. Entre outras medidas, o governo anterior previra a privatização de 14 aeroportos regionais e a venda de milhares de hectares do antigo aeroporto de Atenas.</div>
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Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-56087656384277257172015-01-26T09:00:00.000-08:002015-01-26T09:00:02.079-08:00Lições gregas podem ser úteis ao Brasil<br />
<hr />
<div class="ssba">
<div style="text-align: left;">
<strong>por Paulo Moreira Leite</strong>, <strong>publicado originalmente em seu site.</strong></div>
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</div>
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<div style="text-align: left;">
A vitória do Syriza nas eleições gregas, já admitida por seus adversários, lembra uma dessas viradas históricas na vida de um país.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
</div>
Terá profunda repercussão na Europa, onde Espanha, Portugal e Itália, enfrentam um recessão prolongada depois do colapso financeiro de 2009.<br />
<br />
A vitória pode produzir efeitos imprevisíveis sobre a economia mundial, caso, perante uma enfática manifestação das urnas, a União Europeia se mostre sem disposição política para aliviar o sufoco de cinco anos dessa população de 9,8 milhões, o que pode gerar novas ondas de choque e instabilidade.<br />
A causa do resultado eleitoral é fácil de ser decifrada. Envolve questões universais, que preocupam a humanidade em toda parte — emprego, recessão, colapso de serviços públicos — e costumam resolver eleições no mundo inteiro. Até por essa razão, permite paralelos com o Brasil.<br />
<br />
Lula e Dilma teriam sido aniquilados, levando consigo as conquistas obtidas pela população a partir de 2003, como aconteceu com os social-democratas do Pasok, caso o governo brasileiro tivessem seguido a política que Atenas praticou nos últimos cinco anos — e que era recomendada pelos centros financeiros internacionais.<br />
<br />
Se a eleição deste domingo na Grécia reuniu conflitos típicos da luta de classes também colocou, de forma aguda, a questão nacional. A crise de 2009 colocou o conflito da soberania nacional da Grécia frente aos poderes coloniais das grandes economias europeias, que nos últimos cinco anos submeteram o conjunto da população a um programa de descontrução da economia local.<br />
<br />
E é por que tem esse caráter nacional que a eleição abriu caminho para uma remodelagem do sistema político, anunciando uma aposentadoria prolongada — quem sabe falencia definitiva — de partidos tradicionais.<br />
Após uma austeridade prolongada e selvagem, num ambiente de chantagem no qual os mercados atravessaram várias regras da democracia para impor seus interesses — inclusive para impedir um referendo onde o povo diria sim ou não às propostas de austeridade — o eleitorado foi às urnas para fazer o ajuste de contas com a pobreza, o desemprego e a falta de perspectiva.<br />
<br />
A mensagem é clara: venceu um partido que há poucos anos tinha uma presença simbólica ao lado de legendas tradicionais — mas cresceu com um discurso firme contra os programas de pobreza. O crescimento de um partido nazista dá bem uma ideia do ambiente de radicalização e confronto em que se encontra a Grécia.<br />
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Como acontece em países onde a situação atingiu um patamar desesperado — nos últimos anos, famílias de classe média arruinada disputavam vagas na fila das instituições de caridade destinada preferencialmente a população pobre — era possível encontrar eleitores do Syriza nos bairros chiques, nas lojas de artigos de luxo, entre empresários que em outros tempos eram votos assegurados à direita, revela Helen Smith, correspondente do Guardian em Atenas.<br />
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Os bilionários programas aprovados pela Troika — União Europeia, Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional — destinavam-se a confortar os credores estrangeiros, ampliando a dívida do país – sem nada deixar para os investimentos que poderiam animar a economia e os programas sociais que protegiam o povo.<br />
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É normal, assim, que empresários e ex-empresários locais, interessados em reativar seus negócios, voltassem sua atenção a uma sigla que, em outros tempos, só causaria repulsa. A vitória teria sido ainda mais expressiva se, numa manobra burocrática, o governo conservador da Nova Democracia não tivesse impedido o alistamento de uma numerosa parcela de eleitores jovens — evitando a presença, nas urnas, da parcela mais sacrificada da população, reservatório natural de votos para o Syriza.<br />
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Do ponto de vista da economia, as urnas de domingo se encerram com vários pontos de interrogação — a começar pela provável resistência do governo de Angela Merkel para aceitar mudanças na política da União Europeia em relação a Grécia, permitindo que o país tenha acesso a uma parcela do pacote superior a 1 trilhão de euros recém-aprovado pelo Banco Central Europeu, que poderia dar oxigênio para a economia, estimulando os investimentos, o crédito e o crescimento. O futuro do governo do Syriza irá depender, fundamentalmente, de sua capacidade de conservar o apoio popular para transformar as propostas de palanque em medidas concretas, capazes de aliviar o imenso sofrimento da população grega e abrir uma nova perspectiva para o país.<br />
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Para os brasileiros, chega a ser irônico que, seis anos depois da crise dos derivativos, os gregos tenham escolhido um governo que denuncia a austeridade e, há um mês, em Brasília, Dilma Rousseff tenha escolhido Joaquim Levy para ocupar o ministério da Fazenda, no lugar de Guido Mantega, que teve um papel decisivo na política de estímulo que permitiu ao país atravessar a crise de 2009.<br />
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A verdade é que não há termo de comparação entre os programas impostos a Grécia ao longo dos últimos anos e as propostas de ajuste que Levy e a equipe econômica. São universos separados pela geografia, pela história e pela política. Mas o afundamento do tradicional sistema político da Grécia demonstra que o eleitorado costuma ser impiedoso com partidos que não correspondem a suas promessas e compromissos. A indignação do eleitorado explica por que o desgaste do conservador Nova Democracia, que aplicou os programas de austeridade, encurvado perante a Troika, tenha sido até menor que o desmoronamento dos socialistas, eleitos com a promessa de promover o bem-estar e proteger os direitos dos trabalhadores.<br />
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O principal objetivo do ajuste consiste em recuperar a confiança dos empresários, mercadoria que, concordam monetaristas e desenvolvimentistas, é indispensável para fazer a economia capitalista funcionar. Comprometida com a perspectiva de “arrumar a casa”, a presidente tem se demonstrado particularmente zelosa quando se trata dos direitos dos trabalhadores. É bom que seja assim.<br />
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Três dias depois de ser empossado no Ministério do Planejamento, Nelson Barbosa anunciou que estava em curso uma mudança na legislação do salário mínimo. Acabou obrigado pela presidente a divulgar uma nota à imprensa na qual dizia que tudo seguirá como está. Na semana passada, quando o Financial Times atribuiu a Joaquim Levy a afirmação de que o seguro-desemprego estava ultrapassado, o próprio ministro da Fazenda foi levado a divulgar nota corrigindo o jornal. Para que não restasse um fiapo de dúvida, o ministro Miguel Rossetto, secretário particular da Presidência da República, definiu o seguro-desemprego como cláusula pétrea, conceito constitucional em que se encontra a proibição do país produzir armas nucleares, por exemplo.Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-74412611855797405002015-01-25T15:03:00.003-08:002015-01-25T15:03:45.466-08:00A crise, o Brasil, os dilemas de Dilma<h1>
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: small;">Por Walter Sorrentino*</span></span></h1>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Governo que vem de acentuar a férrea fórmula macroeconômica, ancorada agora na retomada do superávite primário, a qual decididamente não é a que o país precisa para avançar. Ficou escrito: o país não vai retomar o crescimento em 2015, quiçá em 2016. A medida acrescenta combustível para instabilidades sociais e, naturalmente, agudiza instabilidades políticas, quanto a coesionar a base de sustentação no Congresso, sem falar dos desdobramentos da Operação Lava a Jato.<br /><br /> No primeiro semestre de 2014, PT e PCdoB confluíram nas propostas para a campanha Dilma tendo por centro a realização das reformas estruturais. Para ambos, o desafio da produtividade e competitividade da economia brasileira eram centrais, para o quê a elevação dos investimentos públicos e privados em inovação era a base. <br /><br /> Em junho de 2014, o PCdoB ofereceu ao programa da disputa diretrizes básicas interligadas, entre as quais o redesenho da política macroeconômica. O superávit primário deveria, para isso, ter duas submetas explícitas e obrigatórias: uma, financeira, de estabilizar a dívida pública; outra, de meta fiscal para maior investimento público. Ao mesmo tempo, propôs ampliar para 36 meses o horizonte para o cumprimento da meta da inflação, permitindo acomodar instabilidades e, simultaneamente, promover a desindexação de contratos progressivamente – causa notável da inflação brasileira. Por fim, nesse desenho, deveria se buscar uma taxa de câmbio competitiva, praticando uma política industrial horizontal capaz de diminuir custos da produção.<br /><br /> Mas, perante a situação econômica do país e do mundo, Dilma tratou de “recompor a confiança dos investidores”, “arrumar a casa”, mediante a âncora de um ajuste fiscal, com subsequente cortes no orçamento, elevação dos juros e “ajoelhar-se no milho” para comprovar a confiança de honrar a dívida pública mediante superávit primário.<br /><br /> O fato é que a opção tomada, com a nova orientação no Ministério da Economia, promoverá ajuste recessivo da economia, com diminuição da capacidade de investimento público, elevação dos juros e “ajoelhando-se no milho” para demonstrar capacidade de honrar a dívida pública mediante o superávite primário, pesado ônus que consumirá energias do país em benefício dos financiadores da dívida pública, predominantemente rentistas. <br /><br /> Enfim, a Presidenta manobrou para sair da tentativa de isolamento e cerco a que está submetida por parte dos setores conservadores políticos e midiáticos. É uma gestão política da situação, nas condições de força existente no Brasil em meio à crise econômica mundial em curso. Estabeleceu-se uma espécie de consórcio respeitado de parte a parte, com desejadas fronteiras e prazos definidos, entre o programa da disputa presidencial sustentada pela candidata e a indicação de Levy ao Ministério da Economia. Aparentemente, espera-se que seja um freio de arrumação, um passo atrás, para permitir dois passos ulteriores à frente, ainda durante o seu mandato. <br /><br /> A grita se avoluma, à esquerda e à direita. Nem sempre com muita luz, sempre com muito calor. <br /><br /> A força atuante de fundo é que o país segue aprisionado nas tenazes do tempo. <br /><br /> À direita é preciso desmascarar sua falácia. Não há porque subestimar o peso da crise econômica mundial. Fora dela não se compreenderá nada das relações de força que de desdobram no mundo atual. Em última instância, o sistema financeiro resgatou-se da crise emitindo dinheiro contábil, com profundos efeitos sociais regressivos, que comprometem toda uma geração. Resgate que sequestra os próprios Estados nacionais e Bancos Cenrais em sua lógica financeira, e aprofunda a crise econômica e social. Afinal, foi respondida a pergunta feita em 2008 se os países emergentes seriam capazes de sustentar o ritmo da economia mundial. Não foram. Enfrenta-se a terceira onda da crise, afetando o crescimento econômico dos países emergentes, após a aguda situação nos EUA, primeiro, seguida da crônica situação europeia e japonesa, aquela patinando na austeridade. Estagnação é o mote mundial, coexistindo com deflação nos países mais centrais e inflação nos emergentes, com as exceções de praxe.<br /><br /> O Brasil não foi imune a isso. Tem que arcar com o movimento das economias mais poderosas em face da formidável luta em torno de interesses de Estados e blocos. Os profundos efeitos desestablizantes sobre os países emergentes das ações de facilitação quantitativa promovida pelos EUA e, agora, Europa, bem o demonstram, jogando a relação dólar-real numa gangorra. <br /><br /> Aliás, após a descoberta do Pré Sal e a mudança de paradigma em sua exploração, o Brasil entrou ne tela de radar de modo mais agudo e central: a espionagem flagrada por parte dos EUA; a IV Frota no Atlântico Sul, pressões quanto ao preço das comodities etc, estão longe de serem eventos de geração espontânea. Afinal, está se lidando com o status quo dominante mundial imperialista (a palavra é bem usada, creiam), ainda inexpugnado, que é a força das finanças e a hegemonia da orientação econômica e cultural neoliberal. Como dizia Lênin, são forças capazes de arrastar nações inteiras ao abismo, hoje ainda mais que em seu tempo.<br /><br /> À esquerda, não há porque desconsiderar esse panorama mundial constrangendo a economia brasileira e reduzindo suas margens de manobra. A nação não tem ainda as forças necessárias para a inteira defesa de seu interesse e Estado nacional, em meio a essa realidade de crises e instabilidades mundiais. Nesse sentido, não foram os erros, mas a coragem, que se deve destacar nas medidas arrojadas tomadas pelo primeiro governo Dilma: juros em queda, mantendo emprego, renda, elevação dos salário mínimo, estimulando o consumo e os investimentos públicos, num movimento contracíclico. <br /><br /> É preciso considerar que fora da política não há como nenhum governo gerir os dilemas e contradições com que se lida. Seria inconsequente a crítica que não levasse isso em conta. Falar em submissão de Dilma seria desconsiderar a integridade e os compromissos da presidenta, e fazer vistas grossas ao fato de que a indicação de alguém como Joaquim Levy para a Economia teve a pressão de Lula, nada mais, nada menos – um cálculo político, portanto. <br /><br /> Falar em viragem estratégica, como foi a de Miterrand na França em 1982, que perdurou pelos outros 13 anos de seus mandatos, é ficar nas analogias aparentes. Não há porque deixar de reiterar a confiança da pregação da candidata, quanto a não aceitar retrocessos no emprego, renda, salário e conquistas sociais. Ela é íntegra e consequente, tem claro o norte. Seu governo deverá ser julgado em quatro anos deste novo mandato. <br /><br /> O que é indispensável é a crítica progressiva, a que esclarece, une forças, apresenta alternativas, mobiliza. Para isso as forças de esquerda, políticas e sociais, não precisam nem podem ocupar o mesmo lugar político do governo, embora devam sustentá-lo contra o retrocesso do projeto estratégico. <br /><br /> <span style="font-size: small;">Diante</span> da nova orientação macroeconômica, não há, portanto, por que as forças políticas e sociais avançadas deixarem de batalhar renhidamente contra quaisquer retrocessos sociais – até ajuda-se a presidenta em seu compromisso. Envolve pressão, luta autônoma para disputar o governo e, sobretudo, a sociedade. Envolve constituir consensos e mobilizações mais elevados e avançados. Por que um ajuste fiscal com superávite que premia os detentores de títulos públicos com altos juros, condenando a produção e consumo? Por que não, mesmo que essa manobra se impusesse temporariamente, uma reforma tributária, num novo consenso de distribuição de renda e diminuição das desigualdades? Por que não firmar nova parcela do Fundo Social do Pré-Sal para investir em um grande esforço de inovação para a produtividade e competitividade da economia brasileira, destacada nas propostas do PCdoB apontadas acima? <br /><br /> Por que não imposto sobre herança e sobre grandes fortunas, se se precisa ampliar a arrecadação? Por que não caminhar, progressivamente, para um pacto universalista na disputa do orçamento público, ou seja, voltado para os grandes empreendimentos da reforma urbana, saúde e educação?<br /><br /> O governo não pode garantir tudo que o povo trabalhador, a nação e seu projeto estratégico carecem – isso era uma ilusão (ou acomodação) no tempo do lulismo. O mínimo que se pode dizer é que a sociedade brasileira está inquieta, em parte temerosa de retrocessos no crescimento econômico e de suas conquistas, em parte aspirando a mais conquistas. Inquieta mas em boa parte desreferenciada politicamente. A esquerda brasileira não pode perder seu principal ativo: estabelecer uma agenda mais ambiciosa, para um horizonte mais largo e profundo, um projeto de nação e de Estado nacional capaz de sustentá-lo.<br /><br /> O que é preciso são forças mais poderosas para avançar. O governo e seu poderio são parte delas, por isso lutamos tanto por conquistá-lo e sustentá-lo. Mas a parada se decide em luta, em mobilização pela força das ideias e mobilização de largos contingentes sociais, novos consensos que gerem referências políticas renovadas para lidar com uma sociedade que vivencia profundas transformações progressivas materiais e espirituais. <br /><br /> Essa reunião de forças está a exigir um bloco político-social de esquerda e progressista, para atuar com uma plataforma comum, respeitando as contradições existentes nesse campo, agindo no governo e nas ruas, nos movimentos sociais e na sociedade civil, disputando as opiniões na sociedade. Sem isso, vence-se eleições, mas não se tem hegemonia política e cultural. Sem isso, blasfema-se contra a escuridão, mas não se faz luz nem movimento. A “cara” desse bloco é a grande luta pelas reformas reformas estruturais, acentuadas na campanha e reclamadas pela sociedade.</span> <br /><br /><span style="font-size: small;"><em>*<strong>Walter Sorrentino</strong> é médico e secretário nacional de Organização do PCdoB. Texto originalmente publicado no portal Vermelho.</em></span></span></span>Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-72663109828682834352015-01-23T04:23:00.000-08:002015-01-23T04:23:41.791-08:00Concentração da riqueza e perspectiva do socialismo<h1>
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: small;"><strong>José Carlos Ruy</strong> *</span></span></h1>
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><strong><em>Não se pode considerar apenas do ponto de vista moral o relatório divulgado nesta semana pela </em>Oxfam <em>sobre a concentração da riqueza no mundo, por escandalosos que sejam os números apresentados. A realidade objetiva ali descrita ilustra a essência do capitalismo e é dessa maneira que aqueles dados precisam ser avaliados.</em></strong></span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"></span></span><br />
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<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Ele tem um título significativo: Wea<i>lth: having all wanting more</i> (<i>Riqueza - tendo tudo e querendo mais,</i> numa tradução livre; o relatório pode ser lido, em inglês, no endereço </span><a href="http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/file_attachments/ib-wealth-having-all-wanting-more-190115-en.pdf" target="_blank"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/file_attachments/ib-wealth-having-all-wanting-more-190115-en.pdf </span></a><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">). <br /><br /> Ele descreve uma situação que não é nova nem surpreendente para os analistas criticos do capitalismo - sistema cuja tendência, como Karl Marx denunciou faz mais de 150 anos, é concentrar de maneira extrema a riqueza no polo formado pelos donos do capital e disseminar a pobreza por todo lado.<br /><br /> Concentrar renda e riqueza faz parte da natureza do modo de produção capitalista. O relatório da Oxfam é a descrição mais recente e atualizada dessa tendência que se acentuou nas últimas décadas: aquele 1% de privilegiados viu sua parcela da riqueza crescer 60% nos últimos 20 anos apesar da crise econômica. <br /><br /> Aquela parcela mínima de seres humanos privilegiados detinha, em 2014, 48% da riquerza existente, e sua parcela cresce apesar da crise econômica mundial. Em 2009, eram donos de 44% da riqueza; daqui a dois anos, sua fatia poderá superar 50% do total, dando então àquele 1% mais riqueza do que terão todos os demais 99% dos seres humanos. <br /><br /> Outro dado que ilustra essa extrema concentração mostra que apenas 80 supermiiionários tem mais dinheiro do que a metade mais pobre dos habitantes do planeta, formada por , 3,5 bilhões de pessoas. Esse dado fica ainda mais dramátrico quando se leva em conta que mais de um bilhão de pessoas mal tem dinheiro para comer, sendo forçadas a sobreviver com menos de R$ 3,00 (três reais) por dia. <br /><br /> Segundo o relatório, considerando o grupo intermediário dos 20% da população (que seria dono de 46% da riqueza), sobraria para os demais 80% dos seres humanos apenas 5,5% da riqueza existente. Pelo cálculo da Oxfam, cada um dos mais ricos tem tanto dinheiro quanto 700 dos mais pobres!<br /><br /> A Oxfam surgiu na Inglaterra em 1942 para combater a fome e a pobreza. Ela faz parte de uma linhagem de organizações que aparecem de tempos em tempos para tentar dar uma face mais “humana” ao capitalismo. <br /><br /> Neste sentido, o relatório agora divulgado tem o objetivo de sensibilizar os multimilionários reunidos no Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça) onde vai debater os problemas e impasses provocados pela extrema concentração da riqueza. Na mais autêntica linhagem dos socialistas utópicos do passado, que se dirigiam aos muito ricos por reformas no capitalismo, dirige-se à cúpula multimilionária com o mesmo objetivo.<br /><br /> Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam e co-presidente do Fórum Econômico Mundial, não esconde a perplexidade e preocupação com os dados recentes e pensa que se a tendência à concentração não for controlada, haverá uma ameaça à estabilidade global. "A amplitude das desigualdades mundiais é vertiginosa", disse.<br /><br /> O estudo reafirma a existência de riscos que já apontou em relatórios anteriores. Além da ameaça cada vez maior de guerras e de crises políticas, a concentração de riqueza em poucas mãos de poucos inibe o desenvolvimento da economia e representa riscos ambientais.<br /><br /> Estas questões, que são relevantes, impõe uma pergunta: é possível, no limiar do modo de produção capitalista, eliminar os males apontados?<br /><br /> O modo de produção capitalista prepara, em seu desenvolvimento, as condições para a nova forma de organizar a vida que vai substituí-lo. Um modo de produção resulta do desenvolvimento econômico, social, cultural e ideológico da humanidade e, até agora, nenhum deles foi eterno, qualidade de durabilidade no tempo que o capitalismo também não tem. O capitalismo,desde que surgiu, fez a riqueza disponivel avançar de maneira nunca vista até então, e isto foi reconhecido pioneiramente por Marx e Engels, no próprio <i>Manifesto do Partido Comunista</i>, de 1848. <br /><br /> Mas, ao lado da riqueza e dos avanços, o modo de produção capitalista trouxe contradições que pensalizam o povo e os trabalhadores. A mais severa delas talvez seja a tendência natural no capitalismo da concentração da renda e da riqueza. <br /><br /> Esta tendência pode ser vista também como uma das contradições que pode acelerar a superação final deste sistema por outra forma de organização da vida. Por várias razões. Uma delas decorre do fato de que a concentração de renda e riqueza, que se acelera nos momentos de crise econômica deste sistema, coloca em xeque o funcionamento da lei do valor e pode comprometer a capacidade do capitalismo reproduzir-se como sistema. <br /><br /> A tendência à concentração opera aqui de duas maneiras, ambas igualmente nocivas para o sistema capitalista. Por um lado, ela cresce nos momentos em que as crises econômicas provocam desemprego em massa e queda nos salários dos trabalhadores. São momentos em que se acentua a concorrência intercapitalista, provocando maior aplicação da ciência à produção capitalista (a chamada tecnologia). Ao lado disso crescem também os investimentos financeiros, quase sempre improdutivos (buscam ganhos em juros e não na produção). O resultado aqui é o velho conhecido dos trabalhadores: o desemprego em massa.<br /><br /> Em consequência há forte queda na produção de riqueza nova e, assim, da mais valia apropriada pelo capital. Dito de outra maneira, a queda nos investimentos produtivos, o desemprego e a crescente aplicaçlão da ciência à produção alteram aquilo que Marx chamou de “composição orgânica” do capital. Cresce o chamado capital constante (máquinas e equipamentos) e diminui a parcela relativa do capital variável (formado pelos salários pagos aos trabalhadores). Como a taxa de lucro na produção capitalista resulta da relação entre capital constante e capital variável, a alteração em que aquele cresce e este diminui tem uma consequência funesta para o capital: a tendência à queda na taxa de lucros. Com o corolário das dificuldades crescentes para a reprodução do capital.<br /><br /> Uma das ameaças citadas no relatório da Oxfam pode ser entendida como uma referência a estas dificuldades; ela diz respeito explicitamente às ameaças que a concentração de riqueza representa para o desenvolvimento da produção. <br /><br /> Outro aspecto das “ameaças” representadas pela concentração de renda e riqueza é aquele em que esta concentração pode ser encarada como uma antessala do socialismo. Riqueza e propriedade concentradas em poucas mãos significam também o aumento do número de pessoas dedicadas à sua administração. Um capitalista não é um super-homem com poderes excepcionais e capaz de administrar sozinho, ou num pequeno grupo, tanta propriedade e dinheiro. É um trabalho que exige verdadeiros exércitos de trabalhadores, em escritórios ou mesmo nas formas contemporâneas de trabalho em domicílio. Eles aplicam seus conhecimentos e talentos para gerir propriedades e interesses alheios. Ao dedicar-se a esta tarefa antecipam também tarefas semelhantes que poderão desempenhar no futuro - só que num sistema de outra natureza, gerido por uma lógica oposta à do capitalismo. Se neste sistema servem ao lucro e à ganância, num sistema que o substitua poderão servir à vida e ao bem estar de todos. </span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;"><br />De novo está recolocada para a humanidade a mesma encruzilhada já apontada faz tantos anos por Engels e Rosa Luxemburg: socialismo ou barbárie. A humanidade acumulou conhecimentos e produção material suficientes para um novo passo civilizatório. E só a ousadia desse passo poderá significar a superação das mazelas e ameaças apontadas pelo relatório da Oxfam.</span><br />
</span><em>José Carlos Ruy é jornalista, membro da Comissão Editorial da revista </em>Princípios <em>e do Comitê Central do PCdoB</em> <br />
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Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-764599622822001412015-01-20T08:26:00.000-08:002015-01-20T08:26:58.466-08:00O terror, o "ocidente" e a semeadura do caos<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;"><strong><span style="background-color: white; color: black; font-family: Times;"><em>Por Mauro Santayana, em sua coluna do </em>Jornal do Brasil</span></strong><br /><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;"></span></span></span><br />
<div class="post-body entry-content">
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="color: black;"><span style="font-weight: normal;">H</span><span style="font-weight: normal;">á alguns dias, terroristas franceses, ligados, aparentemente, à Al Qaeda, atacaram a redação do jornal satírico parisiense Charlie Hebdo, em represália pela publicação de caricaturas sobre o profeta Maomé.</span></span></span></span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Doze pessoas foram assassinadas, entre elas alguns dos mais famosos cartunistas e intelectuais do país, e dois cidadãos de origem árabe, um deles, estrangeiro, que trabalhava há pouco tempo na publicação, e um membro das forças de segurança que estava nas imediações.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Logo em seguida, houve, também, outro ataque, a um supermercado kosher na periferia de Paris, em que 4 judeus franceses e estrangeiros morreram.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Dias depois, milhões de pessoas, e personalidades de vários países do mundo, se reuniram nas ruas da capital francesa, para protestar contra o atentado, e se manifestar contra o terrorismo e pela liberdade de expressão.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Na mesma primeira quinzena de janeiro, explodiram carros-bomba, e homens-bomba, também ligados a grupos radicais islâmicos, no Líbano (Beirute), na Síria (Aleppo), na Líbia (Benghazi), e no Iraque (Al-Anbar), com dezenas de mortos, em sua maioria civis.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Mas, como sempre, não seria normal esperar que algum destes fatos tivesse a mesma repercussão do atentado em Paris, capital de um país europeu, ou que a alguém ocorresse produzir cartazes e neles escrever Je suis Ahmed, ou Je suis Ali, ou Je suis Malak, Malak Zahwe, a garota brasileira, paranaense, de 17 anos, que morreu na explosão de um carro-bomba, junto com mais 4 pessoas (20 ficaram feridas), no dia 2 de janeiro, em Beirute.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">No entanto, os homens, mulheres e crianças, mortos, todos os dias, no Oriente Médio e no Norte da África, são tão frágeis e preciosos, em sua fugaz condição humana, quanto os que morreram na França, e vítimas dos mesmos criminosos, criados pela onda de radicalização e rápida expansão do fundamentalismo islâmico, nos últimos anos.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Raivosas, autoritárias, intempestivas, numerosas vozes se alçaram, em vários países, incluído o Brasil, para gritar - em raciocínio tão ignorante quanto irascível - que o terrorismo não tem que ser "compreendido" e, sim, "combatido".</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Os filósofos e estrategistas chineses ensinam, há séculos, que sem conhecê-los, não é possível vencer os eventuais adversários, nem mudar o mundo.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Além disso, não podemos, por aqui, por mais que muitos queiram emular os países "ocidentais", em seu ardoroso "norte-americanismo" e "eurocentrismo", esquecer que existem diferenças históricas, e de política externa, entre o Brasil, os EUA, e países da OTAN como a França. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Podemos dizer que Somos Charlie, porque defendemos a liberdade e a democracia, e não aceitamos que alguém morra por fazer uma caricatura, do mesmo jeito que não podemos aceitar que uma criança pereça bombardeada pela OTAN no Afeganistão ou na Líbia, ou porque estava de passagem, no momento em que explodiu um carro-bomba, por um posto de controle em Aleppo, na Síria. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Mas é preciso lembrar que, ao contrário da França, nunca colonizamos países árabes e africanos, não temos o costume de fazer charges sobre deuses alheios em nossos jornais, não jogamos bombas sobre países como a Líbia, não temos bases militares fora do nosso território, não colaboramos com os EUA em sua política de expansão e manutenção de uma certa "ordem" ocidental e imperial, e, talvez, por isso mesmo - graças a sábia e responsável política de Estado, que inclui o princípio constitucional de não intervenção em assuntos de outros países - não sejamos atacados por terroristas em nosso território.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">As raízes dos atentados de Paris, e do mergulho do Oriente Médio na maior, e, com certeza, mais profunda tragédia de sua história, não está no Al Corão ou nas charges contra o Profeta Maomé, embora estas últimas possam ter servido de pretexto para ataques como o que ocorreu em Paris.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Elas começaram a se tornar mais fortes, nos últimos anos, quando o "ocidente", mais especificamente alguns países da Europa e os EUA, tomaram a iniciativa de apoiar e insuflar, usando também as redes sociais, o "conto do vigário" da Primavera Árabe em diversos países, com a intenção de derrubar regimes nacionalistas que, com todos os seus defeitos, tinham conquistado certo grau de paz, desenvolvimento e estabilidade para seus países nas últimas décadas.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Inicialmente promovida, em 2011, como "libertária", "revolucionária", a Primavera Árabe iria, no curto espaço de três anos, desestabilizar totalmente a região, provocar massacres, guerras civis, golpes de Estado, e alcançar, por meio da intervenção militar direta e indireta da OTAN e dos EUA em vários países, a meta de tirar do poder, a qualquer custo, regimes que lutavam para manter um mínimo de independência e soberania em suas relações com os países mais rico</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Quando os EUA, com suas "primaveras" - que não dão flores, mas são fecundas em crimes e cadáveres - não conseguem colocar no poder um governo alinhado com seus interesses, como na Ucrânia e no Egito, jogam irmão contra irmão e equipam com armas, explosivos, munições, terroristas, bandidos e assassinos para derrubar quem estiver no comando do país. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">O objetivo é destruir a unidade nacional, a identidade local, o Estado e as instituições, para que essas nações não possam, pelo menos durante longo período, voltar a organizar-se, a ponto de tentar desafiar, mesmo que em pequena escala, os interesses norte-americanos.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Foi assim que ocorreu com a intervenção dos EUA e de aliados europeus como a Itália e a França - contra a recomendação de Brasil, Rússia, Índia e China, no Conselho de Segurança da ONU - no Iraque, na Líbia e na Síria. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Durante décadas, esses países - com quem o Brasil tinha, desde os anos 1970, boas relações - viveram sob relativa estabilidade, com a economia funcionando, crianças indo para a escola, e diferentes etnias, religiões e culturas, dividindo, com eventuais disputas, o mesmo território.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Estradas, rodovias, sistemas de irrigação, foram construídos - também com a ajuda de técnicos, operários e engenheiros brasileiros - com os recursos do petróleo, e países como o Iraque chegavam a importar automóveis, como no caso de milhares de Volkswagens Passat fabricados no Brasil, para vender aos seus cidadãos de forma subsidiada. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Na Líbia de Muammar Kadafi, segundo o próprio World Factbook da CIA, 95% da população era alfabetizada, a expectativa de vida chegava, para os homens, segundo dados da ONU, a 73 anos, e a renda per capita e o IDH estavam entre os maiores do Terceiro Mundo, mas esses dados nunca foram divulgados normalmente pela imprensa "ocidental". </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Pode-se perguntar a milhares de brasileiros que estiveram no Iraque, que hoje têm entre 50 e 70 anos de idade, se, naquela época, sunitas e xiitas se matavam aos tiros pelas ruas, bombas explodiam em Basra e Bagdá todos os dias, como explodem hoje, a qualquer momento, também em Trípoli ou Damasco, ou milhares de órfãos tentavam atravessar montanhas e rios sozinhos, pisando nos restos de outras crianças, mortas em conflitos incentivados por "potências" estrangeiras, ou tentavam sobreviver caçando, a pedradas, ratos por entre escombros das casas e hospitais em que nasceram. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">São, curdos, xiitas, sunitas, drusos, armênios, cristãos maronitas, inimigos?</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Antes, trabalhavam nos mesmos escritórios, viviam nas mesmas ruas, seus filhos frequentavam as mesmas salas de aula, mesmo que eles não tivessem escolhido, no início, viver como vizinhos.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Assim como no caso de hutus e tutsis em Ruanda, e em inúmeras ex-colônias asiáticas e africanas, as fronteiras dos países do Oriente Médio foram desenhadas, na ponta do lápis, ao sabor da vontade do Ocidente, quando da partilha do continente africano por europeus, obedecendo não apenas ao resultado de Conferências como a de Berlim, em 1884, mas também à máxima de que sempre se deve "dividir para comandar", mantendo, de preferência, etnias de religiões e idiomas diferentes dentro de um mesmo território ocupado pelo colonizador.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Eram Saddam Hussein e Muammar Kadafi, ditadores? É Bashar Al Assad, um déspota sanguinário?</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Quando eles estavam no poder, não havia atentados terroristas em seus países. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">E qual é a diferença deles e de seus regimes, para os líderes e regimes fundamentalistas islâmicos comandados por xeques e emires, na mesma região, em que as mulheres - ao contrário dos governos seculares de Saddam, Kadafi e Assad - são obrigadas a usar a burka, não podem sair de casa sem a companhia do irmão ou do marido, se arriscam a ser apedrejadas até a morte ou chicoteadas em caso de adultério, e não há eleições, a não ser o fato de que esses regimes são dóceis aliados do "ocidente" e dos EUA?</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Se os líderes ocidentais viam Kadafi como inimigo, bandido, estuprador e assassino, por que ele recebeu a visita do primeiro-ministro britânico Tony Blair, em 2004; do Presidente francês Nicolas Sarkozy - a quem, ao que tudo indica, emprestou 50 milhões de euros para sua campanha de reeleição - em 2007; da Secretária de Estado dos EUA, Condoleeza Rice, em 2008; e do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi em 2009? </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Por que, apenas dois anos depois, em março de 2011 - depois de Kadafi anunciar sua intenção de nacionalizar as companhias estrangeiras de petróleo que operavam, ou estavam se preparando para entrar na Líbia (Shell, ConocoPhillips, ExxonMobil, Marathon Oil Corporation, Hess Company) esses mesmos países e os EUA, atacaram, com a desculpa de criar uma Zona de Exclusão Aérea sobre o país, com 110 mísseis de cruzeiro, apenas nas primeiras horas, Trípoli, a capital líbia, e instalações do governo, e armaram milhares de bandidos - praticamente qualquer um que declarasse ser adversário de Kadafi - para que o derrubassem, o capturassem e finalmente o espancassem, a murros e pontapés, até a morte? </span></span><span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;"> </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Ora, são esses mesmos bandidos, que, depois de transformar, com armas e veículos fornecidos por estrangeiros, a Líbia em terra de ninguém, invadiram o Iraque e, agora, a Síria, e se uniram para formar o Estado Islâmico, que pretende erigir uma grande nação terrorista juntando o território desses três países, não por acaso os que foram mais devastados e destruídos pela política de intervenção do "ocidente" na região, nos últimos anos. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Foram os EUA e a Europa que geraram e engordaram a cobra que ameaça agora devorar a metade do Oriente Médio, e seus filhotes, que também armam rápidos botes no velho continente. Serpentes que, por incompetência e imprevisibilidade, depois da intervenção na Líbia, a OTAN e os EUA não conseguiram manter sob controle. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Os Estados Unidos podem, pelo arbítrio da força a eles concedida por suas armas e as de aliados - quando não são impedidos pelos BRICS ou pela comunidade internacional - se empenhar em destruir e inviabilizar pequenas nações - que ainda há menos de cem anos lutavam desesperadamente por sua independência - para tentar estabelecer seu controle sobre elas, seu povo e seus recursos, objetivo que, mesmo assim, nunca conseguiram alcançar militarmente.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Mas não podem cometer esses crimes e esses equívocos, diplomáticos e de inteligência, e dizer, cinicamente, que o fizeram em nome da defesa da Liberdade e da Democracia. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Assim como não deveriam armar bandidos sanguinários e assassinos para combater governos que querem derrubar, e depois dizer que são contra o terrorismo que eles mesmos ajudaram a fomentar, quando esses mesmos terroristas, além de explodir bombas e matar pessoas em Bagdá, Damasco ou Trípoli, todos os dias, passam a fazer o mesmo nas ruas das cidades da Europa ou dos próprios Estados Unidos.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">O "terrorismo" islâmico não nasceu agora. </span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Mas antes da balela mortífera da Primavera Árabe, e da Guerra do Iraque, que levou à destruição do país, com a mentirosa desculpa da posse, por Saddam Hussein, de armas de destruição em massa que nunca foram encontradas - tão falsa quanto o pretexto do envolvimento de Bagdá no ataque às Torres Gêmeas, executado por cidadãos sauditas, e não líbios, sírios ou iraquianos - não havia bandos armados à solta, sequestrando, matando e explodindo bombas nesses 3 países.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Hoje, como resultado da desastrada e criminosa intervenção ocidental, o terror do Estado Islâmico, o <i>ISIS</i>, controla boa parte dos territórios e da sofrida população síria, iraquiana e líbia, e, a partir deles, está unindo suas conquistas em torno da construção de uma nação maior, mais poderosa, e extremamente mais radical do ponto de vista da violência e do fundamentalismo, do que qualquer um desses países jamais o foi no passado.</span></span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">O ataque terrorista à redação e instalações do semanário francês Charlie Hebdo, e do Mercado Kosher, em Vincennes, Paris, foram crimes brutais e estúpidos. </span></span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Mas não menos brutais, e estúpidos, do que os atentados cometidos, todos os dias, contra civis inocentes, entre muitos outros lugares, como a Síria, o Iraque, a Líbia, o Afeganistão.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Quem quiser encontrar as sementes do caos que também atingiram, em forma de balas, os corpos dos mortos do Charlie Hebdo poderá procurá-las no racismo de um continente que acostumou-se a pensar que é o centro do mundo, e que discrimina, persegue e despreza, historicamente, o estrangeiro, seja ele árabe, africano ou latino-americano; e no fundamentalismo branco, cristão e rançoso da direita e da extrema direita norte-americanas, cujos membros acreditam piamente que o Deus vingador da Bíblia deu à "América" do Norte o "Destino Manifesto" de dirigir o mundo.</span></span></h2>
<h2 style="text-align: justify;">
<span style="color: #cccccc; font-family: Verdana, sans-serif; font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Em nome dessa ilusão, contaminada pela vaidade e a loucura, países que se opuserem a isso, e milhões de seres humanos, devem ser destruídos, mesmo que não haja nada para colocar em seu lugar, a não ser mais caos e mais violência, em uma espiral de destruição e de morte, que ameaça a sobrevivência da própria espécie e explode em ódio, estupidez e sangue, como agora, em Paris, neste começo de ano.</span></span></h2>
</div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-32210663560560953412015-01-19T08:40:00.001-08:002015-01-19T08:45:59.462-08:00Umberto Eco e o manual do mau jornalismo<h1 class="documentFirstHeading">
<em><span style="font-size: large;">"Número Zero", novo romance do escritor italiano, é ambientado em 1992 e mostra a história de um jornal criado para difamar. Texto publicado originalmente pela revista Carta Capital.</span></em> <span class="documentPublished"> </span> </h1>
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<img alt="Umberto Eco" src="http://www.cartacapital.com.br/cultura/umberto-eco-e-o-manual-do-mau-jornalismo-1617.html/umberto-eco/@@images/dc9e6f7d-1f97-4334-82cd-75a4526ada5e.jpeg" height="266" title="Umberto Eco" width="400" /><br />
<div class="discreet">
Umberto Eco fala sobre o jornalismo em seu novo livro</div>
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<strong>Por Kelly Velazquez</strong></div>
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O famoso escritor e ensaísta italiano Umberto Eco apresentou nesta semana na Itália seu novo romance, <i>Número zero</i>, uma espécie de manual do mau jornalismo ambientado na redação de um jornal imaginário.<br />
<br />
O novo livro do influente intelectual italiano, autor do famoso romance <i>O nome da rosa</i> e de importantes tratados de semiótica, é uma história de ficção ambientada em 1992, um ano particular para a Itália contemporânea, marcado pelos escândalos de corrupção e pela investigação "Mani Pulite" (Mãos limpas), que arrasou com boa parte da classe política da época.<br />
<br />
O livro se concentra, sobretudo, nos mistérios não resolvidos que sacudiram nestes anos a Itália, entre eles o protagonizado pela loja maçônica Propaganda 2 do temido Licio Gelli, que queria dar um "golpe branco". "É o primeiro romance de Eco que fala de uma época tão recente", reconhece Elisabetta Sgarbi, diretora da editora Bompiani.<br />
<br />
Eco descreve a redação imaginária de um jornal, criado naquele ano, para desinformar, difamar adversários, chantagear, manipular, elaborar dossiês e documentação secreta. "Para mim é um manual da comunicação de nossos dias", sustenta Roberto Saviano, renomado jornalista antimáfia da Itália, que vive sob escolta pelas ameaças de morte que recebe das organizações criminosas.<br />
<br />
Em uma conversa entre Eco e Saviano, publicada pela revista <i>L'Espresso</i>, o semiólogo afirma que não quis escrever um "tratado de jornalismo", mas contar uma história sobre os limites da informação, sobre como funciona uma máquina de denegrir, e não tanto sobre o trabalho de informar. "Escolhi o pior caso. Quis dar uma imagem grotesca do mundo, ainda que o mecanismo da máquina para sujar, de lançar insinuações, já fosse usado durante a Inquisição", comentou Eco.<br />
<br />
Saviano, que considera que as redes sociais multiplicaram esta forma de denegrir gerando verdadeiros monstros, acredita que o magnata das comunicações e ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi marcou o início dessa era, entre boatos e informações, vida e vícios tanto privados quanto públicos. "Escolhi 1992 porque considero que este ano marca o momento de um declínio na história da sociedade italiana", disse Eco em uma entrevista ao <i>Corriere della Sera</i>.<br />
<br />
No livro, o semiólogo se diverte citando frases famosas ou lugares comuns do jornalismo, como "no olho do furacão", "um duro revés" ou "com a água no pescoço". "Não é necessário estrangular a avó para perder a credibilidade. É suficiente contar que o juiz usa meias na cor laranja. Por que será?", contou Eco citando um caso verdadeiro durante uma longa entrevista à <i>RAI</i>.<br />
<br />
Graças aos delírios de um redator paranoico, Eco conta fatos concretos, mas reconstruídos a partir de teorias bizarras ou que se entrelaçam estranhamente com outras e que terminam por criar uma nova notícia.<br />
<br />
É o caso da loja maçônica P2, do suposto assassinato do papa Luciani (João Paulo I), dos cúmplices das brigadas vermelhas que trabalhavam para os serviços secretos, dos tentáculos da CIA, dos atentados e até de um falso cadáver de Benito Mussolini com o qual conseguiram salvá-lo e enviá-lo à Argentina. Todas são histórias que o leitor não conseguirá determinar se são fatos inventados ou a descrição da realidade, segundo o escritor.<br />
<br />
Trata-se do sétimo romance de Eco, que publicou, entre outros, <i>O Cemitério de Praga</i> e <i>O Pêndulo de Foucault</i>.</div>
</div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-48400199382181110642015-01-17T05:50:00.000-08:002015-01-17T05:50:39.541-08:00Por que a extrema esquerda fracassou e acabou isolada<span style="color: black; font-size: large;"><em>Esse fracasso da extrema esquerda hoje é generalizado nos países de governos progressistas, como Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador e Brasil.</em></span> <br />
<br />
<div class="texto_blog_destaque">
<span class="detalhe_autor" id="detalhe_autor"><strong>por Emir Sader em seu blogue.</strong></span> </div>
<div class="texto_blog_destaque">
</div>
<div class="texto_blog_destaque">
<br />Quando foram sendo eleitos governos na onda do fracasso e rejeição aos governos neoliberais, predominantes nos anos 1990 na América Latina, ao mesmo tempo foram se reconstituindo as forças de extrema esquerda, na crítica desses governos.<br /><br />Nenhum deles foi poupado, mas inicialmente o governo Lula foi objeto mais concentrado dessas críticas. Motivos não pareciam faltar. Desde a “Carta aos brasileiros”, Lula parecia encaminhar-se para o abandono das teses históricas da esquerda, repetindo a experiência histórica que os trotskistas sempre anunciaram: a social democracia se comporta como força de esquerda, quando está na oposição, mas basta chegar ao governo, para romper com as teses históricas da esquerda, “traindo” a esquerda e os trabalhadores, para se revelar como uma manobra de engano do povo e de continuidade, sob outra forma dos governos da direita.<br /><br />Uma equipe econômica conservadora, uma reforma regressiva da previdência, discurso tímido – tudo parecia confirmar a tese da “traição”. Cabia, perfeitamente, uma critica pela esquerda, sobre a questão central do período: a superação do modelo neoliberal, que era feita pela esquerda do PT.<br /><br />Discutia-se se o governo seguia estando sob disputa entre tendências conservadoras e de esquerda, até que um grupo considerou que era um governo “perdido”, saiu do PT e a fundou um novo partido. O grupo foi rapidamente hegemonizado por trotskistas (da tendência morenista, de origem na Argentina), que enquadravam a evolução do PT no governo no modelo clássico da “traição”.<br /><br />Porém, ao invés de elaborar uma crítica de esquerda e formular alternativas, rapidamente esse grupo pegou carona nas denúncias do “mensalão”, que a mídia lançou contra o PT. Fazendo com que a “traição” tivesse uma conotação de “corrupção”, como sintoma de uma degradação moral do governo.<br /><br />A líder do grupo, Heloisa Helena, com seu destempero verbal, tratava o governo como “gangue” e com outros epítetos afins, tão ao gosto da classe média. Esse grupo, que supostamente saia pela esquerda para fundar o PSOL, rapidamente somava-se, de maneira subordinada à ofensiva da direita contra o governo.<br /><br />A campanha eleitoral de 2006 foi a consagração dessa aliança tácita: todos contra o governo Lula, inimigo fundamental de uns e dos outros. Nela, o PSOL consolidou sua opção pela critica moralista, da “traição” do Lula. Quem trai, se torna cada vez pior, reprime, reproduz exatamente o governo da direita. Dai as armadilhas em que caiu o PSOL.<br /><br />Se concentrou em tentar demonstrar, primeiro, que não teria havido “herança maldita”, desconhecendo totalmente a profunda e prolongada recessão produzida pelo governo FHC e a situação herdada do Estado, do mercado interno, da exclusão social, da precarização das relações de trabalho, entre outras. Pior ainda do que isso, passou a desconhecer – da mesma forma que a direita – as diferenças do governo Lula com o governo FHC, em particular a prioridade das políticas sociais.<br /><br />Além de que desconhece que a polarização neoliberalismo/antineoliberalismo é o enfrentamento central do período histórico atual e, por isso, desconhece que o governo Lula faz parte do movimento histórico da região de construção de governos posneoliberais. Desconhece o papel dos novos governos latinoameicanos, como único polo mundial de resistência ao neoliberalismo.<br /><br />A aliança oportunista com a direita contra o governo Lula se deve à consciência de que só teriam espaço, se o PT fracassasse. Então se somam a essa frente, que toma o governo Lula como seu inimigo fundamental.<br /><br />A essa aliança se soma a atitude ultra esquerdista de, no segundo turno, entre Lula e Alckmin, ficar equidistante, como se fosse o mesmo que ganhasse um ou outro. Imaginem o Alckmin presidente do Brasil diante da crise de 2008! Bastaria isso para nos darmos conta da posição absurda no segundo turno, mas coerente com a opção feita pelo PSOL.<br /><br />Depois do brilhareco momentâneo das eleições de 2006, em que o desempenho da Heloisa Helena, presidente do partido, chegou a ser vergonhoso, promovida pela Globo para permitir a chegada ao segundo turno, o perfil do partido claramente baixou. Se deram conta que seu projeto de construir uma alternativa nacional tinha fracassado. A candidatura de Marina, que herdou boa parte dos votos de Heloisa Helena, confirmou isso. As posições posteriores da ex-candidata complementaram a imagem de uma pessoa individualista, reacionária em relação a temas como o aborto e a democratização dos meios de comunicação, descontrolada, sem condições de liderar um partido de esquerda.<br /><br />Enquanto isso, ao invés de ser derrotado, o governo Lula, pelos efeitos das politicas sociais, foi ampliando seu apoio popular, de forma constante, até o fim do governo Lula, permitindo a eleição da Dilma.<br /><br />O desempenho do candidato do PSOL nas eleições seguintes, Plinio de Arruda Sampaio, que contou com muitos espaços na mídia, na mesma busca de votos para chegar ao segundo turno contra o PT, confirmou o fracasso politico do partido, quando teve 1% dos votos, menos até que outros grupos pequenos, com muito menos espaços na mídia. Desde então o partido tem uma postura de marcar posição, sem nunca ter formulado projeto estratégico alternativo para o Brasil, ficando reduzido a uma força do campo de denuncias do “mensalão”.<br /><br />Enquanto que uma força de esquerda radical deveria, antes de tudo, ter uma analise especifica da sociedade brasileira, do grau de penetração do neoliberalismo, para propor um projeto de superação desse modelo, que articule antineoliberalismo com anticapitalismo. Deveria analisar o governo do PT reconhecendo os avanços realizados e apoiá-los, ao mesmo tempo que criticar suas debilidades. Se propor a ser aliado do governo à sua esquerda, nos aspectos comuns e crítico nos outros.<br /><br />Teria que apoiar a política externa do governo, suas políticas sociais, seu resgate do papel ativo do Estado nos planos econômico e social. Que apoiar o conjunto de governos progressistas na região, que protagonizar os processos de integração regional.<br /><br />Caracterizar o governo como força progressista, força moderada no campo da esquerda, enquanto esse partido seria uma força mais radical do mesmo. Para isso precisaria ter clareza dos inimigos fundamentais, que compõem o campo da direita – EUA, PSDB e seus aliados, a mídia oligárquica, o sistema bancário. Para impedir qualquer risco de se confundir com a direita contra o governo.<br /><br />Essa via foi inviabilizada pela opção que o PSOL assumiu e reafirmou ao longo do governo do PT, isolando-se, sem apoio popular, valendo-se dos espaços que a mídia direitista lhe concede, quando entende que podem prejudicar o governo.<br /><br />Virou um partido denuncista, de causas corretas e outras duvidosas. Nem sequer valoriza o imenso processo de democratização social que tem transformado positivamente o Brasil na ultima década.<br /><br />Esse fracasso da extrema esquerda hoje na é generalizado nos países de governos progressistas – Venezuela, Argentina, Uruguai, Bolívia, Equador -, com desempenhos mais ou menos similares, mas a mesma incapacidade de compreender a natureza do periodo histórico neoliberal e o papel progressista que tem esses governos. A extrema esquerda terminou tomando como seus inimigos fundamentais a esses governos, aliando-se, tácita ou explicitamente à direita contra eles, abandonando a possibilidade de compor um quadro da esquerda, onde seriam a alternativa mais radical. Ficam isoladas, em posturas denuncistas, sem propostas alternativas. Enquanto que os governos progressistas, a esquerda na era neoliberal, se constituem, em escala mundial, na referencia central na luta antineoliberal.</div>
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<span style="color: #660000; font-size: x-large;">A França e a falsificação histórica</span> </h3>
<div class="post-body entry-content">
<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<b>Por
Paulo Moreira Leite, em seu <a href="http://paulomoreiraleite.com/2015/01/13/o-fantasma-da-falsificacao-historica/"><span style="color: #36741b;">blog</span></a>, reproduzido pelo blogue do Miro.</b><br />
<div>
<br />
Antes de completar uma semana, a justa indignação diante do assassinato
dos profissionais da revista Charlie Hebdo pode transformar-se num espetáculo
inesquecível de falsificação histórica.<br />
<br />
Submetidos a um longo passado de
segregação, preconceito e violência, os 6 milhões de franceses que seguem a
religião muçulmana agora são apresentados como a principal ameaça à segurança e
ao progresso de seu país. Saudadas como reivindicações legítimas por várias
décadas, suas aspirações a uma vida menos desigual, sem exclusão, passaram a ser
vistas como inconvenientes e perigosas.<br />
<br />
<a href="https://www.blogger.com/null" name="more"></a>O fantasma do
“radicalismo muçulmano” ganhou um reforço ontem, quando se anunciou que cinco
mil soldados foram deslocados para garantir a segurança de escolas judaicas do
país. Falando de Paris, um radialista afirma que a polícia estima que 1400
jihadistas armados se encontrem na França.<br />
<br />
Como acontece em qualquer
outro país, os franceses só teriam a ganhar se utilizassem episódios obscuros de
sua própria história para refletir sobre os perigos da vida presente. A
perseguição ao capitão do Exército Alfred Dreyfus, que em 1895 chegou a ser
aprisionado a ferros ao sol da Guiana sob a falsa acusação de traição a patria,
ajuda a lembrar os riscos de permitir que o preconceito oriente decisões da
política e da Justiça. Dreyfus foi reabilitado em 1906 mas em 1940, quando as
tropas de Hitler entraram em Paris, a mesma multidão que pressionou pela
condenação do capitão judeu deu sustentação ao governo colaboracionista do
Marechal Petain.<br />
<br />
De maior utilidade nos dias que correm, o mais
prolongado conflito entre franceses e muçulmanos - naquele tempo eles eram
chamados de “árabes” - foi a Guerra da Argélia. Prolongou-se por oito anos,
entre 1954 e 1962 e deixou lições dolorosas para um país que, em outras épocas,
teve pleno direito de dar lições de democracia e liberdade ao conjunto de homens
e mulheres do planeta, independente de classe, raça ou nacionalidade. Suas
lições são preciosas e surpreendentes.<br />
<br />
Invadido e conquistado em 1830,
por mais de um século o território argelino foi destinado a colonos franceses
que se mudavam para o norte da África em busca de uma vida melhor. Em 100 anos
de atividade colonial naquele lugar as áreas cultiváveis em poder dos franceses
e seus descedentes passaram de 11.500 hectares para 2,7 milhões, concentração
que, entre outras coisas, estimulou as primerias levas de imigração nativa em
direção ao outro lado do Mediterrâneo. Nas imensas áreas recém-conquistadas,
agricultores de origem francesa plantavam na colonia e vendiam, na metrópole,
“os frutos da terra roubada,” como definiu Jean-Paul Sartre, uma das grandes
consciências da França do século XX, autor de reflexões de grande utilidade
sobre o tema — como você verá em outros parágrafos desta nota. Como se pode
imaginar, a cobiça cresceu um pouco mais depois que se descobriram as imensas
reservas de petróleo.<br />
<br />
Em 1945, num primeiro levante contra os ocupantes
franceses, uma massa calculada em até 70 000 pessoas foi massacrada em Létif.
“Exterminando a esse subproletariado, (os franceses) se arruinaram a si mesmos,”
disse Sartre, sem deixar de observar que a tragédia ocorreu “no momento em que
ia nascer o Tribunal de Nueremberg,” aquele que julgou os comandantes de Adolf
Hitler.<br />
<br />
Nove anos depois, quando os revolucionários da Frente de
Libertação Nacional anunciaram que “a longa noite de colonialismo terminou”, o
então ministro do Interior, François Mitterrand - socialista como François
Holland - pronunciou uma frase inesquecível: “A Argélia é a França. Quem entre
vós hesitaria em empregar todos os meios para salvar a França?”<br />
<br />
Nenhum
meio foi recusado mas nada se salvou. Incapaz de aceitar a noção de que seria
impossível de vencer os argelinos em sua própria terra natal, e que era mais
prudente negociar um acordo de paz, o exército francês decidiu abandonar os
métodos de guerra convencional e adotar a tortura como método preferencial de
interrogatórios, com objetivo de dizimar as organizaões revolucionárias,
exatamente como mostra a obra prima A Batalha de Argel.<br />
<br />
Os militares
franceses não inventaram a tortura, conhecida há muito tempo. Mas ajudaram a
generalizar o procedimento. Desenvolveram técnicas, aperfeiçoaram métodos,
inovaram - inclusive através do assassinato e desaparecimento de prisioneiros,
que nunca poderiam ser localizados nem identificados. Tampouco teriam seus
restos mortais devolvidos aos familiares, exatamente como seria feito, duas
décadas mais tarde, na Argentina, no Chile e no Brasil.<br />
<br />
Num depoimento à
jornalista Marie-Dominique Robin, autora de “Esquadrões da morte: a escola
francesa”, o general Paul Aussarenesses fala em 3.000 desaparecidos - um número
brutal, equivalente a um milionésimo da população total da Argélia, hoje. Apesar
da tortura, logo ficou claro que a luta dos argelinos iria prosseguir - com mais
força, mais dura.<br />
<br />
Convencidos de que o governo civil, em Paris,
tornara-se fraco demais para assegurar a vitória, os generais do comando militar
na Argélia não hesitaram mais uma vez. Ferindo o frágil regime democrático,
deram um golpe de Estado, levando o general Charles De Gaulle de volta ao
governo.<br />
<br />
Num mundo onde a luta anti-colonial estava em vário pontos do
mapa da Áfica, Asia, na América Latina, a nova especialidade tornou-se muito
procurada. Em pouco tempo a Escola Superior de Guerra, em Paris, passou a
oferecer cursos para oficiais estrangeiros, revela Ceferino Reato, autor do
livro “Disposición Final,” dedicado a esclarecer a máquina de morte da ditadura
Rafael Videla, na Argentina. Sob supervisão de oficiais formados nos
interrogatórios de Argel, logo apareceram alunos de outros países, “portugueses
e israelenses, ” escreve Reato. Em 1960 - a guerra nem havia terminado - o
esforço para exportar esse tenebroso conhecimento se ampliou.<br />
<br />
Oficiais
franceses estabeleceram uma missão permanente em Buenos Aires, no décimo segundo
andar do Edifício Libertador, sede do Exércio, ao lado da Casa Rosada, palácio
presidencial argentino, o que permite concluir que o aprendizado argelino ajudou
a construir a mais violenta das ditaduras do ciclo militar
sul-americano.<br />
<br />
Em outubro de 1961, quando estava claro que a derrota do
império colonial francês caminhava para a derrota definitiva, a polícia decidiu
dispersar por todos os meios um protesto de 30 000 argelinos, em Paris. Ocorreu
uma matança. No dia seguinte, dezenas de cadáveres foram vistos boiando pelo
Senna. No início de 1962, quatro meses antes do acordo de paz, os chefes
militares providenciaram outra inovação: a anistia para seus crimes, ideia que
em 1979 seria importada pelos militares brasileiros. Aprovaram uma medida que
envolveu “todos os fatos cometidos no marco das operações de manutenção da ordem
dirigidas contra a insurreição argelina.” Graças a essa decisão, antigos
oficiais-torturadores seguiram carreira acadêmica, enquanto outros se
converteram à vida parlamentar. Jamais foram processados - como ocorreu com seus
colegas brasileiros.<br />
<br />
O coronel Marcel Bigeard, que na Batalha de Argel
ensina seus homens a maltratar prisioneiros, terminou a carreira como um dos
oficiais mais condecorados da história da França e chegou a ministro da Defesa.
A doutrina para a guerra contrarevolucionária, eufemismo para o ensinamento de
técnicas cruéis de interrogatório, passou a ser ensinada e exportada de maneira
oficial, com base em acordos bilaterais de assessoramento. Quando a paz foi
feita entre Paris e Argel, o ambiente era de guerra e loucura entre franceses.
Através de uma organização secreta, oficiais se organizaram para tentar
assassinar De Gaulle.<br />
<br />
Descrevendo um império que desabava, Sartre deixou
um retrato daquele processo histórico, em que as duas partes só conseguem se
prejudicar: “quando o colonialismo está prestes a se arruinar, a metrópole e a
colonia são vitimas de seu enfraquecimento. Na tentativa de manter a
colonização, a metrópole perde tudo o que foi lucrado com o sistema. E a colonia
se enfraquece demasiadamente por causa da violência dos
colonizadores.”<br />
<br />
Sartre se referia à França e à Argelia, mas também
poderia estar falando da colonia francesa do Haiti. Dois séculos antes, em 1789,
quando os revolucionários de Paris anunciaram os Direitos do Homem, os escravos
da América Central se levantaram para exigir o fim do cativeiro. Foram
massacrados.<br />
<br />
Também seria possível referir-se a derrota da Indochina,
futuro Vietnã - de onde veio Jean-Marie Le Pen e o discurso do ressentimento
contra estrangeiros.<br />
<br />
Filho de uma professora que tinha uma admiração
especial pela cultura francesa e uma imensa vontade de conhecer Paris,
oportunidade que a vida não lhe ofereceu, cresci ouvindo Edith Piaf. Assisti aos
filmes de Jean-Luc Godard na idade certa e acompanhei, de longe, o fogo do maio
de 1968. Conheci dezenas de exilados brasileiros que encontraram refugio na
Franças, durante a ditadura militar. Vivi dois anos em Paris como correspondente
e, graças ao ambiente cultural da cidade, na época, encontrei a oportunidade de
reconstruir a formação que trazia do Brasil.<br />
<br />
Três décadas depois, é
razoável perguntar qual opção o governo de François Holland irá tomar franceses
diante de um atentado que merece repúdio universal – mas não pode ressuscitar
assombrações de seu próprio passado.</div>
</div>
</div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-35204251220850956242015-01-14T04:56:00.000-08:002015-01-14T05:41:00.602-08:00<h1>
<span style="color: #660000;">A mídia brasileira está usando o sangue do</span> <span style="color: #660000;">Charlie em causa própria</span></h1>
<h2 style="color: #333333; letter-spacing: normal; line-height: 22px;">
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">Paulo Nogueira, no DCM*</span></h2>
<h2 style="color: #333333; font-size: 21px; letter-spacing: normal; line-height: 22px;">
<em><span style="font-size: small;">Um jornalista britânico pergunta, no Independent, se haveria a mesma comoção se o atentado contra o Charlie Hebdo tivesse como alvo uma publicação de extrema direita. Respondo com uma pergunta. Alguém consegue imaginar uma marcha, no Brasil, que congregue pessoas emocionalmente arrasadas que segurem cartazes que digam: “Sou a Veja?” Ou mesmo: “Sou a Globo?” Ou ainda: “Sou a Folha?”</span></em> <br /><!-- Box Imagem Esquerda --></h2>
<div class="imagem-box imagem-box-1" style="background: rgb(238, 238, 238); font-size: 10px; width: 475px;">
<address style="padding-left: 5px; padding-right: 5px;">
</address>
<img alt="Enquanto isso, no Brasil …" src="http://imagem.vermelho.org.br/biblioteca/image98-600x45073529.jpg" style="padding-right: 10px;" /><br />
<br />
<br />
<span style="background: rgb(238, 238, 238);">Enquanto isso, no Brasil … </span> </div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px;"></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="font-size: small;">Ou indo para pessoas físicas. Feche os olhos e veja multidões com cartazes assim: “Eu sou Jabor”. Ou: “Eu sou Merval”. Ou: “Eu sou Reinaldo Azevedo”. Ou: “Eu sou Sheherazade”.<br /><br />A direita tem poder e dinheiro, mas não comove ninguém. Não muito tempo atrás, festas nas ruas celebraram na Inglaterra a morte de Margaret Thatcher.<br /><br /> Testemunhei uma delas, em Trafalgar Square, berço da majestosa coluna de Nelson, o almirante que impôs a primeira grande derrota à França de Napoleão.<br /><br /> As grandes empresas de jornalismo do Brasil e seus porta-vozes – os reais chapas brancas da mídia — são o exato oposto do Charlie. Defendem um mundo de privilégios que provocava vômitos mentais nos cartunistas mortos.<br /><br /> Isso não tem impedido a mídia brasileira de usar a tragédia do Charlie, cinicamente, em causa própria.<br /><br /> O sangue dos cartunistas franceses vem sendo utilizado sobretudo para barrar a discussão em torno da regulação da mídia no Brasil.<br /><br /> A liberdade de expressão pela qual morreram os jornalistas do Charlie seria, aspas, e pausa para uma gargalhada, ameaçada pela regulação.<br /><br /> Já que falamos de Nelson, evoquemos também Wellington, o herói inglês de Waterloo: quem acredita nisso acredita em tudo.<br /><br /> A “liberdade de expressão” pela qual se batem as empresas jornalísticas brasileiras pode ser resumida assim: vale tudo para defender os próprios privilégios.<br /><br /> Você pode assassinar reputações sem prova e sem consequências jurídicas. Você pode usar concessões públicas como rádios e tevês como arma de propaganda contra ideias e pessoas que representam ameaças, reais ou imaginárias, às mamatas. Você pode concentrar o direito à opinião em quatro ou cinco famílias. Você pode formar monopólio impunemente.<br /><br /> Você pode tudo, em suma – e sem contrapartida. Numa disputa com dois barões da mídia na década de 1930, o então premiê britânico Stanley Baldwin produziu uma frase ainda hoje amplamente citada no Reino Unido.<br /><br /> Depois de dizer que os jornais de ambos eram na realidade “máquinas de propaganda” para servir a interesses pessoais, e não públicos, Baldwin afirmou: “O que os donos desses jornais querem é poder, mas poder sem responsabilidade, coisa que no correr dos tempos tem sido o atributo das marafonas.”<br /><br />De Baldwin para cá, a opinião pública inglesa esteve constantemente vigilante em relação aos barões da mídia.<br /><br /> O último deles, Rupert Murdoch, virou um pária social depois que os ingleses souberam os métodos que um jornal seu empregava para obter furos.<br /><br /> Sob a fúria da opinião pública, Murdoch foi obrigado a fechar o jornal, e jamais voltou a ter um vestígio do poder e da influência que tivera na Inglaterra.<br /><br /> Ainda em consequência do escândalo, a Inglaterra se pôs a discutir, prontamente, uma nova regulação da mídia. Os detalhes finais estão sendo elaborados, mas essencialmente foi decretado o fim da auto-regulação por ter se provado pateticamente ineficaz.<br /><br /> No Brasil, não chegamos ainda, neste terreno, aos anos 1930 de Baldwin.<br /><br /> Que presidente brasileiro ousou dizer a barões – e à sociedade, principalmente — as verdades que Baldwin disse?<br /><br /> Diversos ocupantes do Planalto não apenas silenciam como patrocinam os barões com o Bolsa Imprensa, o dinheiro público farto e constante que sempre abastece as grandes empresas na forma de publicidade federal.<br /><br /> É esse estado de coisas que a mídia está defendendo mais uma vez, com o caso do Charlie – e não, não e ainda não a “liberdade de expressão”.</span></span></span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 18px;"><span style="font-family: Times; font-size: small;"></span><br /> <em><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: small;">*Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo (DCM).</span></em></span>Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-42757576870590966432015-01-13T14:00:00.000-08:002015-01-13T14:00:12.491-08:00<span style="color: #660000; font-size: large;"><strong>Do Estado, do Direito e da Política: reflexões</strong></span> <br />
<h2 class="titulo_detalhe" style="color: #8b8b83; font-size: 12pt;">
<span style="color: black;"><em>Os conceitos de Estado, de Direito e de Política se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.</em></span> <em><span style="color: black;">Abaixo, uma aula didática do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.</span></em></h2>
<div style="clear: both;">
</div>
<div class="img_editorial_detalhe" id="pag" style="float: left; margin-top: 30px; max-width: 668px;">
<img alt="Márcia Kalume/Agência Senado" src="http://cartamaior.com.br/arquivosCartaMaior/FOTO/149/A08BADABCEB803BD4434FBA7D45A6F445340808C1BF02FC119A861CA7C2C9C57.png" style="clear: left; float: left; margin: 5px 20px 10px 0px; max-width: 668px;" title="Márcia Kalume/Agência Senado" /> <div id="pag_1">
<div class="texto_detalhe" id="texto_detalhe">
<div class="texto_detalhe">
Introdução<br /><br />Os conceitos de Estado, de Direito e de Política muitas vezes, em teoria, são apresentados e discutidos de forma distinta. Em realidade, se encontram tão profundamente interligados que não se pode com proveito analisá-los de forma separada.<br /><br />Não há Direito sem Estado, pois a aceitação e a observância das normas jurídicas e sua eventual sanção em caso de descumprimento dependem da existência e da força do Estado que se expressam através de suas agências, entre elas e muito em especial sua polícia. A afirmação de que não há Direito sem Estado não significa negar a existência de direitos humanos inalienáveis. Todavia, somente a luta política pela consagração desses direitos e pelo seu reconhecimento pela legislação e pelo Estado é que permite impor sua observância. <br /><br />Não há Direito sem Política, pois as normas jurídicas não são elaboradas, executadas e interpretadas em gabinetes acadêmicos a partir de conceitos e de estruturas lógicas cartesianas, mas, sim, em processos conflituosos de disputa de interesses no seio da sociedade e dos organismos do Estado, ainda que cada grupo de interesses conte nestes processos com o auxílio precioso de seus juristas para melhor articular a defesa de seus pontos de vista.<br /><br />Não há Estado sem Política, pois os dirigentes das distintas agências do Estado, isto é das múltiplas agencias que compõem os seus três Poderes - Legislativo, Executivo e Judiciário - são escolhidos através de processos políticos, mesmo quando esses processos são disfarçados como procedimentos de aparência tecnocrática, de reduzida transparência e nenhuma participação popular, como ocorre em regimes ditatoriais.<br /><br />Há uma tendência em certas áreas de estudos acadêmicos e de certos autores a se estabelecer uma distinção e uma separação entre Sociedade Civil e Estado, entre Economia e Estado. A Sociedade Civil é apresentada com uma aura e uma natureza inerentemente boa, um lugar ideal onde os cidadãos, iguais e livres, conviveriam em harmonia se não fora pela existência do Estado, ente maléfico e autoritário que perturba e impede o desabrochar da sociedade civil. A Economia é representada como um espaço livre, dinâmico e criativo, onde empresários, capitalistas e investidores são responsáveis pelo progresso e pela prosperidade de todos enquanto que o Estado aparece como uma entidade intervencionista, ineficiente, corrupta e corruptora.<br /><br />Todavia, não existe Sociedade Civil sem Estado, mesmo quando este aparece como instrumento de um regime ditatorial ou autoritário, pois sem o Estado e sem normas jurídicas, a sociedade seria tão somente um emaranhado confuso de lutas violentas de interesses. A não ser nos territórios coloniais, onde as instituições do Estado colonial aparecem como criaturas da potência estrangeira, alheia e opressora da sociedade local, se pode falar de separação entre Sociedade Civil e Estado.<br /><br />Por outro lado, não há Economia sem Estado, pois são as normas jurídicas que regulam as atividades econômicas e que, através das agências do Estado, garantem a observação das relações entre trabalho e capital (lato sensu), qualquer que seja o sistema econômico de uma determinada sociedade: agrária primitiva, antiga, feudal, capitalista, socialista ou comunista.<br /><br />Hoje há uma tendência a considerar que a expressão mais moderna da Sociedade Civil seriam as organizações não governamentais, que representariam melhor os interesses do povo, principalmente em Estados em que as classes hegemônicas são conservadoras e opressoras. Todavia, em muitas circunstâncias, as organizações não governamentais que atuam em um país, em especial quando é ele subdesenvolvido, representam em realidade interesses particulares e estrangeiros e estão longe de representar a sociedade civil. De toda forma, não têm essas organizações representatividade e legitimidade já que seus integrantes se auto-escolheram, e assim é de estranhar e de preocupar a tendência atual de incorporar representantes de ONGs em organismos do Estado.<br /><br />Ao tratar dos temas do Estado, do Direito, da Política, da Sociedade e da Economia há sempre uma certa repetição de ideias e de argumentos, devido à sua estreita interelação, pelo que me penitencio.</div>
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Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-12055324425611091812014-12-20T14:44:00.000-08:002014-12-20T14:44:57.655-08:00"Pessoas estão mais ricas, nas vida hoje é mais pobre", diz filósofo<strong><em>Ao reiniciar meu blogue, que andou parado, faço-o postando uma entrevista do filósofo canadense Barry Stroud, veiculada há dias pela </em>Folha de S. Paulo. <em>Ao criticar o modo de vida nos EUA, Stroud critica a sociedade capitalista contemporânea. Já veiculei essa entrevista na minha página no facebook, mas julgo pertinente reproduzi-la aqui, dada sua importância para se compreender os dias que correm.</em></strong><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A vida virou uma carreira. As pessoas
estão focadas o tempo todo no seu sucesso profissional. É preciso ganhar o
máximo de dinheiro, ter uma família, casa grande -tudo junto. Consumismo,
individualismo, carreirismo. A vida contemporânea, apesar dos avanços
materiais, é mais pobre. <o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O diagnóstico é do filósofo canadense
Barry Stroud, 79, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA).
Autor de obras sobre David Hume (1711-1776) e Ludwig Wittgenstein (1889-1951),
sua especialidade é o ceticismo como filosofia -basicamente o oposto do que
ocorre hoje com o pensamento dominante nos EUA e mundo afora. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Leitor de romances policiais e adepto
de caminhadas, Stroud observa com pessimismo a rotina moderna de hiperconexão,
que leva à dispersão e à falta de tempo para a reflexão. Aponta para a
superficialidade dos jovens superricos, que só sabem comprar carros e barcos. E
ataca o crescente poder das finanças.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="MsoNormalTable" style="border-collapse: collapse; mso-yfti-tbllook: 1184;">
<tbody>
<tr style="mso-yfti-firstrow: yes; mso-yfti-irow: 0;">
<td rowspan="2" style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt; width: 2.5pt;" width="3"><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span>
</td>
<td style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt;" valign="top">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
</td>
<td rowspan="2" style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
</td>
<td style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt;" valign="top">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
</td>
<td style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt;" valign="top">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
</td>
<td style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt;" valign="top">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
</td>
</tr>
<tr style="mso-yfti-irow: 1; mso-yfti-lastrow: yes;">
<td style="background-color: transparent; border: rgb(0, 0, 0); padding: 0.75pt;" valign="top">
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
</td>
</tr>
</tbody></table>
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nesta entrevista, concedida em Campos
do Jordão, onde participou do 16º congresso da Associação Nacional de
Pós-Graduação de Filosofia, ele critica a universidade e os filósofos. Ela
virou uma corporação. Eles estão se especializando em demasia, tendem a lidar
com um universo estreito. "É como uma visão dentro de um túnel",
afirma. <o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Seu livro "Engagement and
Metaphysical Dissatisfaction" está em fase de tradução no Brasil (ainda
sem prazo para a edição) e há planos de versão para o seu clássico "The
Significance of Philosophical Scepticism". <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
<b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Folha - Qual sua visão do momento
atual?<o:p></o:p></span></b><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><b>Barry Stroud -</b> Sociedades divididas do ponto de vista econômico estão se
dirigindo para extremos. Os ricos estão ficando mais ricos, enquanto os pobres
mais pobres. É o que está acontecendo nos EUA e na Europa. O que mudou nos
últimos 20 anos é o tremendo poder das finanças, que funcionam um pouco como
uma jogatina. O grande produtor de riqueza nesses países não é o real produtor
de bens. Há poucas razões para achar que isso não vai continuar, pois falta
regulamentação nesses mercados. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como esse quadro se reflete na maneira
como as pessoas pensam no mundo?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Encoraja as pessoas que não têm muito a tentar viver o tipo de vida que eles
acham que aqueles que ganham muito dinheiro têm. É focar em ganhar vantagem.
Consumismo e individualismo. A pressão para o avanço profissional e o sucesso é
muito profunda, principalmente na cultura norte-americana. Sou professor em uma
das melhores universidades do mundo. Ensino filosofia, área que não significa
ficar rico. Mesmo meus melhores alunos são forçados a pensar neles como iniciantes
de uma carreira profissional, são focados no carreirismo em detrimento do
verdadeiro assunto de seu estudo. Mesmo entre professores isso ocorre e é
terrível. Há uma grande profissionalização na sociedade. Não quero dizer que as
pessoas não estejam fazendo trabalhos sérios em suas áreas, na ciência, por
exemplo. Mas o que as pessoas que estão fazendo isso pensam de suas vidas? Elas
pensam nas suas carreiras profissionais. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Após a Segunda Guerra Mundial o
pensamento dominante era diferente. É correto dizer que havia mais
solidariedade?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sim. Muitas pessoas que não eram de classe média prosperaram. Foram consumistas
de certa forma, mas havia a ideia de fazer tudo aquilo em conjunto; houve
movimentos e avanços sociais. Havia pessoas ricas, mas não tantas comparado ao
que existe hoje. Existia mais igualdade, melhor distribuição de riqueza. Mas,
nos anos 1960, começou a destruição gradual dos sindicatos afetando os
movimentos de classe média que tinham sido inspiradores. Quando comecei a
lecionar em Berkeley, grupos iam para o Sul dos EUA para apoiar os negros,
ocorriam protestos contra a guerra do Vietnã, havia uma oposição generalizada
mobilizando a classe média. Não sei se alguma coisa parecida poderia acontecer
agora. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por quê? O que mudou?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mais pessoas estão mais preocupadas em olhar para si mesmas. Não estão
inclinadas a se engajar em movimento sociais. O Occupy Wall Street foi uma
tentativa, mas não havia um alvo reconhecível. Pedir para o mercado financeiro
parar o que eles estão fazendo? Eles não param porque há manifestação. É muito
difícil achar um tema que possa se transformar em um movimento social forte nos
EUA. Eu estava em Berkeley quando do movimento pela liberdade de expressão. Em
1968, durante a guerra do Vietnã, houve protestos enormes, a polícia jogou gás
lacrimogêneo, foi uma guerra. Isso é nostalgia. É difícil imaginar isso nos
dias de hoje. Estudantes protestam contra isso ou aquilo, mas geralmente são
temas locais. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Qual a influência da situação econômica
mundial no ceticismo, que é o seu objeto de estudo?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ceticismo é uma palavra que aparece na vida cotidiana. Não se toma nada como
garantido. Na filosofia, tem um significado mais especifico, que não está
desconectado do sentido popular do termo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A ideia, originária dos gregos, era
olhar com cuidado para as coisas. Na Grécia, havia os que pensavam que existia
uma única maneira de viver -dentro de uma forma muito racional e organizada.
Era preciso achar esses princípios e segui-los para ter uma vida de sucesso. Os
céticos defendiam a ideia de que não há de fato esses princípios, que são, na
maior parte, defensivos. Diziam que alcançavam uma vida diferente daquela forma
racional e ordeira. Que isso lhes dava uma certa paz e satisfação que não era
atingível em outra concepção de vida -que sempre estabelece que é preciso viver
assim ou assado. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Hoje há revistas populares de ceticismo
que geralmente são antirreligiosas. Não é disso que se trata o ceticismo no
terreno da filosofia. O ceticismo como forma de vida não toma as coisas como
garantidas, não há procura de princípios para formas de vida. Falando assim,
parece um discurso dos anos 1960. Você vai com o fluxo das coisas. Em certo
sentido, o profissionalismo na atual vida norte-americana é o oposto do ceticismo.
Hoje o que vigora é o princípio de que o que se deve tentar fazer na vida é
ganhar o máximo de dinheiro. Ficar rico, ter uma família, uma casa grande, tudo
junto. É a ideia de que a vida é uma carreira, esse é o objetivo. O Brasil é
provavelmente o maior lugar para viver a vida que eu conheço. Aqui mais
filósofos e historiadores estão interessados em conhecer o ceticismo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como se encaixa nesse pensamento
dominante a ideia do empreendedorismo?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É o objetivo definitivo do norte-americano: ser um empreendedor. Isso envolve
risco e ousadia e é inatingível para a maioria das pessoas. Bill Gates teve
ideias brilhantes quando era estudante em Harvard. Não se importou em concluir
a faculdade; saiu para colocar suas ideias em prática. Aí surge o pensamento de
que não é preciso ter educação. Mas quantas pessoas são como ele? O
empreendedorismo é parte disso tudo. Agora está no setor financeiro. Você tem
que ser um executivo rico de um fundo como prova o sucesso. É o
empreendedorismo financeiro no lugar do empreendedorismo de negócios
produtivos. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Existe também a ideia de que o
indivíduo é o único responsável pelos seus fracassos, sem considerar a situação
social, econômica e política, certo?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Exato. Essa é a mentalidade norte-americana. É o que falam para as pessoas
pobres, com baixa escolaridade, muitas vezes negros e hispânicos. Que é
responsabilidade delas. Vejam o que eu fiz! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Houve alguma mudança nessa mentalidade
após a crise?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Difícil dizer. As pessoas com muito dinheiro não podem dizer que sofreram muito
com a recessão de 2008 porque os seus bancos foram resgatados com o dinheiro
público. Muitas pessoas perderam seu dinheiro, suas casas e ficaram
desempregadas. Estão desesperadas. Como seria possível colocar essas pessoas
juntas? Qual seria o foco? De outro lado, há pessoas prosperando nos EUA. É o
que se vê nos filmes, que apresentam o modelo para se viver. Olhe para essa
casa! <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como o sr. analisa o movimento
filosófico pelo mundo?<o:p></o:p></span></b></div>
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"></span><br />
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A filosofia, que é um vasto campo com uma longa história, também está ficando
muito profissionalizada. Envolve temas como conhecimento, natureza das coisas,
modos de viver, organização da sociedade, política. A filosofia que está sendo
feita em universidades <i>quem mais pagaria para ver filósofos filosofarem?</i>
seguiu os princípios de organização das ciências. E as ciências tomaram o
caminho da especialização. Pessoas trabalham nessa pequena parte da física ou
nessa pequena parte do cérebro. Avanços são obtidos assim. Não acho que isso
funcione tão bem na filosofia. Professores organizam suas carreiras para
produzir o máximo que puderem para demonstrar que são muito ativas. É como a
filosofia e outras humanidades estão funcionando. As pessoas escolhem uma
pequena área para trabalhar. Um fica especializado em Jane Austen e escreve
livros sobre ela. A profissionalização é boa, mas leva a estreitar os assuntos.
Pior: as pessoas ficam nesses universos estreitos e não precisam saber de mais
nada para fazer o que fazem. É como uma visão dentro de um túnel. <o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O problema está nas universidades?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Estou na mesma universidade há mais de 50 anos. Foi o único emprego que eu
tive. Vi que ela mudou tremendamente. Virou uma corporação. A GM é uma
corporação e faz carros. O que a universidade faz? Na universidade, estudantes
entram e saem, mas o foco é na corporação, não naquele produto. Mas temos que
ter estudantes com sucesso. O que são eles? São aqueles que passam pela
universidade e pegam bons empregos, pois obtêm conhecimento técnico. A
universidade tem cada vez mais a função de ser um lugar por onde os alunos
passam quatro anos para entrar no mercado de trabalho. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas os alunos não estão aprendendo?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sim. Porque muitos sabem o que eles querem saber quando terminarem o curso.
Estão aprendendo habilidades. Isso se enquadra no carreirismo. Não é que tenha
havido um tempo em que não havia o carreirismo. Mas hoje parece que ele é a
única coisa. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Filósofos ganham dinheiro nos EUA?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na universidade o salário é bom. Não há praticamente outros lugares para
trabalhar como filosofo. A lógica, um segmento da filosofia, fez parte da
revolução dos computadores. Alguns de meus alunos de lógica, nos anos 1960,
foram por esse caminho, não como filósofos, e fizeram muito dinheiro. Foram
parcialmente fundadores da revolução dos computadores. Nesse sentido, aquele
foi um bom tempo para ser filosofo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O fato de as pessoas hoje estarem
sempre conectadas muda a forma de pensar?<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Drasticamente. A atenção das pessoas é menor hoje, elas leem menos. Quase
nenhum dos meus colegas lê livros em papel. Suponho que muitos dos meus alunos
nunca tenham segurando um livro. As pessoas leem na tela. Outro dia um colega
me disse que ninguém lê livros se pode dar um Google. É perturbador. Além
disso, o foco é na cultura visual. Na filosofia, as pessoas dão palestras com Power
Point. Não uso isso. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span><b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em geral, há menos tempo para a
reflexão?<o:p></o:p></span></b></div>
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
Sim. As pessoas gastam tempo nenhum em reflexão. Raramente se vê pessoas
sozinhas andando sem estar com fones de ouvido, telefones. Vejo isso da janela
do meu escritório no campus. Conto quantos estão sozinhos sem falar ao
telefone. O número é muito pequeno. <o:p></o:p></span><br />
<br />
<b><span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O sr. está otimista ou pessimista?<o:p></o:p></span></b><br />
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
Sou pessimista. As pessoas vivem melhor do que há 50 anos. Os negros, apesar de
ainda estarem pior do que os brancos, vivem melhor. Mas, na vida contemporânea
nos EUA, a maioria das pessoas têm vidas menos ricas do que as que viviam
confortavelmente há 50 anos. Suas vidas são menos ricas -não economicamente. As
pessoas pensam em preencher suas vidas com coisas, não têm interesses variados,
veem TV -que é terrível. Ler livros, ver pinturas, escutar música olhar a paisagem,
caminhar pela natureza -tudo isso trazia uma vida mais rica do que ficar em
frente à TV, falar ao celular, entrar em redes sociais. A amizade mudou. Hoje é
clicar no computador. Amizade não é mais uma coisa rica, de falar, olhar e
fazer coisas junto. <o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="color: black; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Minha filha trabalhou numa empresa de
desenvolvimento de programas de computador. Muitos de seus colegas têm em torno
de 20 anos e ganham muito dinheiro. Perguntei a ela o que eles fazem com tanto
dinheiro. Ela me disse: apenas compraram o que seriam brinquedos. Mas
brinquedos grandes: vários carros, barco, sem falar nas traquitanas
tecnológicas. Trabalham muito; não têm tempo para viajar. São apenas crianças
grandes com a chance de fazer o que quiserem. E o que eles fazem é comprar
objetos. É uma vida superficial. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-68313064836508258552013-03-10T15:51:00.000-07:002013-03-10T15:51:08.042-07:00O coronel, os intelectuais e a cadeia<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgNIlWqFW8LUz8_yinLRYtZ8lOJkdYJ4Q6KarTWF9wdyE489G9EAYpFej_RUvQUN7CvUOIyMreP5nQJQIutMUpkFbssUCz2SVZpbSx2Dm9sw1HXKQek8MAH4gpC3TkTo5SdFdk-28EvVk/s1600/jura03.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="263" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgNIlWqFW8LUz8_yinLRYtZ8lOJkdYJ4Q6KarTWF9wdyE489G9EAYpFej_RUvQUN7CvUOIyMreP5nQJQIutMUpkFbssUCz2SVZpbSx2Dm9sw1HXKQek8MAH4gpC3TkTo5SdFdk-28EvVk/s400/jura03.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"></td></tr>
</tbody></table>
<br /><strong><em>Luiz Manfredini</em></strong><br /><br />Comentou-se, à época – março de 1978 – que o general Ernesto Geisel, então presidente da República, passou mal (com vômito e tontura) ao se deparar, no Jornal do Brasil, com as ferinas críticas que lhe foram endereçadas por um subordinado, o tenente-coronel Tarcísio Nunes Ferreira. A informação jamais foi comprovada, mas inegável que a entrevista do militar – ácida contra Geisel, contra o que considerava desvios do “movimento militar de 1964” e a favor da abertura do regime – causou, digamos, certo frisson na caserna.<br /><br />Não por menos: pela primeira vez desde o golpe um militar da ativa criticava abertamente o “status quo”. E não um militar qualquer. Este comandava o 13o Batalhão de Infantaria Blindada, a mais poderosa unidade da 5a Região Militar (Paraná e Santa Catarina), com sede em Ponta Grossa, a pouco mais de 100 quilômetros de Curitiba.<br /> <br />A entrevista de página inteira realizada por mim, então repórter da sucursal paranaense do Jornal do Brasil, e publicada há exatos 35 anos, em 11 de março de 1978, desenvolvia o que o coronel já defendera para cerca de 200 membros do Lions Club de Ponta Grossa uma semana antes. A palestra, que valeu a Tarcísio prisão domiciliar de dois dias, inaugurou o curto período de três semanas em que o País se agitou a partir de Curitiba, pois à palestra e à entrevista sucederam nova detenção do militar, dessa feita de 30 dias, o sequestro de uma professora por um grupo paramilitar e a prisão de 11 intelectuais pela Polícia Federal, acusados de ensinar marxismo-leninismo a crianças em duas pré-escolas. Sobretudo estas prisões provocaram grande mobilização da opinião pública, não só na capital paranaense, como em todo o Brasil, com expressiva repercussão internacional.<br /><br />Os episódios daquele março turbulento em Curitiba marcaram um capítulo a mais, talvez um capítulo decisivo da conflagração entre duas alas do regime militar – conhecido então como “o sistema” –, divididas entre os defensores da “distensão lenta, gradual e segura” do presidente Geisel e os que se opunham a ela, a chamada “linha dura”. Meses antes, em outubro de 1977, os duros haviam sofrido importante revés com a demissão do general Sylvio Frota do Ministério do Exército.<br /><br /> <strong>Fiel, mas crítico</strong><br /><br />Aos 47 anos na época, 26 dos quais dedicados ao Exército, o Coronel Tarcísio Nunes Ferreira deixou clara sua “fidelidade aos ideais do movimento de 31 de março de 1964”, mas criticou o que considerava sua deformação: “Nós saímos de um processo totalitário que se tentava, através do governo, pela desordem, para um processo totalitário feito pelo governo, pelo excesso de ordem”. Para ele, “numa sociedade o que é preciso é a harmonia, e não a ordem”.<br /><br />Na longa entrevista, o coronel defendeu a imediata abertura democrática no país, com pluripartidarismo (mas sem a participação do Partido Comunista), quebra dos instrumentos de exceção dos quais a ditadura ainda se valia, anistia e até mesmo uma assembleia constituinte. E endereçou ao presidente Ernesto Geisel críticas corrosivas. Opôs-se ao seu conceito de democracia relativa e aos poderes imperiais da Presidência.<br /><br />Mas certamente o que mais repercutiu foi a exortação: “É preciso que, de alguma forma, os militares quebrem o silêncio” para defender o que Tarcísio considerava pensamento hegemônico nas forças armadas, ou seja, a abertura democrática. Mais grave foi o militar sustentar que “há momentos em que se justifica a quebra da disciplina em nome da legitimidade”, principalmente quando “estão lançando nos nossos ombros a culpa de todos os erros que estão aí patentes”. Era incitação à rebeldia militar, logo naqueles tempos bicudos.<br /><br />Nunca se soube o quanto Tarcísio Nunes Ferreira estava ligado a outros setores militares e civis. Ao longo do tempo, ele atribuiria sua entrevista a iniciativa meramente pessoal. Mas sempre foi intrigante o fato dele praticamente escolher o Jornal do Brasil para conceder a entrevista, combinando inclusive a data da publicação. Sobre um móvel da sala de sua casa, observei um punhado de bilhetes aéreos. Na ocasião o coronel negou que fizesse viagens pelo Brasil. Mesmo assim, alguns analistas o viram simpático à candidatura presidencial do ex-governador de Minas Gerais Magalhães Pinto, tido como o líder civil do golpe de 1964. Três meses depois da entrevista, um dos mais entusiastas apoiadores do coronel, o ex-ministro Ivo Arzua Pereira, aderia à Frente Nacional de Redemocratização, capitaneada por Magalhães e Tancredo Neves. A Frente desembocaria na candidatura do general Euler Bentes Monteiro contra a do também general João Batista Figueiredo, patrocinada por Geisel.<br />
<br /><strong>Sequestro e prisões</strong><br /><br />No final da tarde de sexta-feira, 17, o coronel já cumpria, no 5o Grupamento de Artilharia de Campanha, no bairro do Boqueirão, a pena de 30 dias de detenção que recebera por conceder a entrevista, quando paramilitares sequestraram a jornalista e professora Juracilda Veiga na saída do colégio Cônego Camargo, onde lecionava. Treze horas depois, no amanhecer de sábado, a Polícia Federal prendia 11 pessoas ligadas às escolas Oca e Oficina, de educação infantil. Além de mim, estavam presos o também jornalista Walmor Marcelino, o advogado Edésio Passos, o engenheiro Paulo Sá Brito, os publicitários Reinoldo e Sueli Atem, o professor Léo Kessel, a pedagoga Silvia Magalhães e as sociólogas Bernadete Zaneti Sá Brito, Lígia Mendonça e Ana Lange. Segundo nota oficial da PF, “as escolas vinham doutrinando crianças dentro de princípios marxistas, desenvolvendo-lhes uma visão materialista e dialética do mundo, incutindo nelas a negação de valores como a religião, a família e a tradição histórica”.<br /><br />É provável que os acontecimentos não tenham sido tramados intencionalmente, mas trocaram influências recíprocas. Os detidos no caso das pré-escolas foram escolhidos a dedo entre aqueles com mais extensos antecedentes na luta contra a ditadura. No meu caso, por exemplo, eu havia tido com a escola Oficina uma relação meramente pontual anos antes, mas meu prontuário na polícia política e o fato de haver entrevistado o coronel de Ponta Grossa, ajudavam os duros do regime e comporem seu raciocínio: a ditadura não poderia retroceder, pois os subversivos – como eram chamados, na época, os opositores mais firmes – tanto se mantinham atuantes que agora se infiltravam até em pré-escolas e açulavam militares contra seus superiores.<br /><br />Mas ocorreu o que, para a “linha dura”, era inesperado: a instantânea, larga e intensa reação da sociedade. O sequestro de Juracilda Veiga, embora sem relação aparente com as prisões, colocou no cenário a Igreja Católica, pois a professora e jornalista era militante das comunidades eclesiais de base. Não podendo solidarizar-se apenas com Juracilda, o clero local esteve à frente das mobilizações por todos. Nas missas celebradas no domingo, 19, nas mais de cem paróquias de Curitiba, foi lida uma carta-aberta à população assinada pela Comissão de Justiça e Paz do Paraná e outras 34 organizações da sociedade civil, reunidas em assembleia permanente na Cúria Metropolitana. A carta manifestava preocupação com o “clima de terror e insegurança”. Exigia a imediata libertação dos presos, esclarecimentos sobre o sequestro de Juracilda Veiga e “apuração de atos ilegais do clandestino Comando de Caça aos Comunistas”.<br /><br /><strong>Protestos com humor</strong><br /><br />As prisões em Curitiba ecoaram por todo o Brasil, provocando condenações generalizadas. A imprensa, cujos patrões naquele momento já começavam a se descolar do projeto dos militares, que eles apoiaram em 1964, repercutiu à larga os acontecimentos. Curitiba ficou coalhada de correspondentes dos jornais nacional. A inglesa Patrícia Feeney, coordenadora do Departamento de Pesquisa Internacional para a América Latina da Anistia Internacional, aportou na cidade para melhor acompanhar os fatos. Mais de oito mil telegramas chegaram do exterior e de vários estados à sede da Polícia Federal, pedindo liberdade para os detidos.<br /><br />Além da violência, o episódio continha também boa dose de ridículo. A alegação de que os 11 detidos ensinavam marxismo-leninismo às crianças das duas pré-escolas foi logo incorporada ao anedotário nacional. Luiz Fernando Veríssimo produziu uma hilária “cartilha marxista” que estaria sendo aplicada aos meninos e meninas de Curitiba. Em sua coluna do Jornal do Brasil, o poeta Carlos Drumond de Andrade noticiou declarações do garoto Fifico, de três anos e meio de idade, segundo as quais sua professora trocou o livro “Circo de Coelhinhos”, do escritor Marques Rebelo, pelo “O Capital”, de Karl Marx. “Marques e Marx, tudo é a mesma coisa”, teria alegado a professora. No mesmo Jornal do Brasil, Carlos Eduardo Novaes em longa crônica intitulada “A subversão infantil”, informou que, nas duas pré-escolas de Curitiba, as aulas começavam com historinhas que poderiam ser “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Reacionário”, como “A Branca de Neve, Lacaia do Capitalismo, e os Sete Anões Explorados” ou ainda “Pluf, o fantasma do imperialismo”.<br /><br />Entre humor e protestos políticos, a pressão foi tal que os detidos acabaram sendo soltos já a partir do terceiro dia após as prisões. Uma semana depois, no domingo, 26, os três últimos deixaram a cela: eu, o também jornalista Walmor Marcelino e o advogado Edésio Passos. Juracilda Veiga permaneceu 24 horas nas mãos dos sequestradores, sempre encapuzada, sofrendo choques elétricos e ameaças em dez 10 longos interrogatórios. O coronel Tarcísio Nunes Ferreira deixou o 5o Grupamento de Artilharia de Campanha em meados de abril, sendo transferido para uma função burocrática em Recife, a do serviço militar. Em 1995, o jornalista, escritor e cineasta Valencio Xavier narrou as prisões no premiado vídeo-documentário “Os Onze de Curitiba – Todos nós”.<br /><br />O revés na capital paranaense, no entanto, não impediu que a extrema-direita voltasse a agir. Explodiu bombas em bancas de jornal de várias capitais, nas sedes da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio, ameaçou, sequestrou e espancou lideranças da oposição e, em 31 de abril de 1981, uma bomba detonou por acidente no colo de um dos terroristas – um capitão do Exército – antes que ele a armasse nas instalações do Riocentro, onde cerca de 20 mil pessoas comemoravam o 1º de Maio.<br /><br />Mas as ações da extrema-direita – a “linha dura” militar e seus aliados civis – não impediram a progressiva decomposição da ditadura, que prosperava já desde meados da década de 1970. O prenúncio da derrocada ocorreu nas eleições de 1974, quando o MDB – o partido de oposição no bipartidarismo consentido pelos militares – derrotou fragorosamente a governista Arena. Para se ter uma ideia, o MDB passou de sete para 20 senadores e de 87 para 165 deputados federais. A sociedade civil começava a se posicionar francamente contra a ditadura, o que se confirmou nas maciças reações à morte do jornalista Vladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho, nas dependências do DOI-CODI paulista, em outubro de 1975 e 1976, respectivamente.<br /><br />Quando o coronel Tarcísio Nunes Ferreira concedeu a entrevista, os estudantes já tratavam de reorganizar a UNE, o que ocorreria em 1979. Exatos dois meses depois dos episódios de Curitiba, a greve dos trabalhadores da Scania, no ABC paulista, marcava o reingresso do movimento operário na cena política brasileira. Despontava ali a liderança do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. A ditadura já não tinha como manter instrumentos de exceção como o AI-5, afinal revogado em dezembro de 1978. Daí em diante o regime dos militares despencou ladeira abaixo, sem poder resistir à pressão popular. Seguiu-se a anistia, em agosto de 1979, as eleições diretas para governadores, em 1982, o gigantesco movimento das Diretas-Já, em 1984 e, no ano seguinte, a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. A ditadura perdia-se diante da forte oposição no terreno que ela própria criara para se preservar.<br /><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #c00000; font-family: "Garamond","serif"; font-size: 18pt;"><o:p> </o:p></span></b></div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-91253593986531323682013-02-26T10:15:00.000-08:002013-02-26T10:15:12.840-08:00O presente e o futuro do comunismo<strong><em>Domenico Losurdo [*]</em></strong><br /><br />Aproxima-se o centenário da grande revolução de Outubro. Como acontece muitas vezes com revoluções, aquela principiada há aproximadamente um século seguiu um percurso completamente imprevisto. Estamos em todo caso na presença de um gigantesco processo de emancipação que modificou a face da Terra e que está bem longe de ter chegado à sua conclusão.<br /> <br /> Continuo a julgar correta a visão da “Ideologia Alemã”, segundo a qual o comunismo é sobretudo “o movimento real que abole o atual estado de coisas”. Observemos as mutações que se verificaram no mundo a partir da primeira revolução que se reclamou de Marx e Engels. Antes de Outubro de 1917 não havia democracia, mesmo no Ocidente: era o reino das três grandes discriminações para com as mulheres, as classes subalternas, os povos coloniais e de origem colonial.<br /><br />Com Fevereiro e Outubro de 1917, a Rússia revolucionária reconheceu às mulheres direitos políticos e ativos e passivos. A República de Weimar (nascida da revolução que explodiu na Alemanha um ano após a revolução de Outubro) tomou o mesmo caminho, seguido pelos Estados Unidos. É certo que na Itália, Alemanha, Áustria e Inglaterra o sufrágio universal (masculino) estava mais ou menos afirmado, mas ficava neutralizado por uma Câmara alta que permanecia o apanágio da nobreza e da grande burguesia.<br /> <br /> A discriminação racial apresentava-se sob uma forma dupla: considerados como indignos de se constituírem como Estado nacional independente, os povos coloniais eram submetidos à dominação absoluta das grandes potências. <br /> <br /> Num país como os EUA, os afro-americanos eram excluídos dos direitos políticos (e por vezes mesmo dos direitos cívicos). A ultrapassagem da discriminação racial sob estes dois aspectos não pode ser pensada sem o capítulo da história aberto por Outubro de 1917.<br /> <br />O papel desempenhado pelos Partidos Comunistas nas revoluções anticoloniais é notável. E no que se refere aos Estados Unidos? Em Dezembro de 1952, o ministro da Justiça enviava ao Tribunal Supremo, ocupado a discutir a questão da integração nas escolas públicas, uma carta eloquente: “A discriminação racial leva a água ao moinho da propaganda comunista”. O desafio comunista desempenhou um papel essencial igualmente na ultrapassagem do regime da supremacia branca.<br /><br />Os direitos sociais e econômicos fazem parte da democracia tal como a esquerda a entende. E foi este patriarca do neoliberalismo, Hayek, que denunciou o fato de que a teorização e a presença no Ocidente destes direitos remetiam à influência, por ele considerada nefasta, da “revolução marxista russa”.<br /><br />Compreende-se portanto que, à atenuação do desafio comunista, corresponda no Ocidente uma restauração. Não se trata só do desmantelamento do Estado social. O peso da riqueza é tão forte que, mesmo nas colunas do New York Times, podem-se ler denúncias considerando que o regime em vigor nos Estados Unidos assemelha-se mais a uma “plutocracia” do que à democracia.<br /><br />A contrarrevolução é evidente igualmente nos casos do colonialismo, reavaliada pelo teórico da “sociedade aberta”, Karl Popper: “Nós libertamos estes Estados (as antigas colônias) muito apressadamente e de modo demasiado simplista”.<br /><br />Vejamos, em sentido contrário, o que se passa num país continente que ficou sob a direcção do Partido Comunista. Pondo fim à catástrofe provocada pelas guerras do ópio e a agressão colonialista, a China devolveu a centenas de milhões de pessoas o primeiro dos direitos do homem, a saber, o direito à vida. <br /> <br /> O Estado social começa aqui a dar os seus primeiros passos, ao passo que doravante ele é renegado no Ocidente, inclusive no plano teórico.<br /><br />Mas isto não é tudo: ao reduzir rapidamente seu atraso tecnológico em relação aos países capitalistas mais avançados, a China põe fim à “era de Colombo”, que havia começado com a descoberta-conquista da América e que viu o Ocidente sujeitar o planeta inteiro.<br /> <br />Veem-se criar as condições para frustrar as tentações colonialistas e democratizar as relações internacionais. O declínio da doutrina Monroe, à qual a revolução cubana infligiu pela primeira vez um golpe severo, está lá para confirmar.<br /><br />Como acontece muitas vezes com revoluções, aquela principiada há aproximadamente um século seguiu um percurso completamente imprevisto. Estamos em todo caso na presença de um gigantesco processo de emancipação que está bem longe de ter chegado à sua conclusão.<br /> <br /><em> [*] Filósofo, professor da Universidade de Urbino, Itália. Texto publicado origianalmente no sítio Resistir.</em>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; margin: 0cm 0cm 0pt; mso-background-themecolor: background1; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-84491027888218198122013-02-26T10:02:00.000-08:002013-02-26T10:02:51.040-08:00Os serviços de Marina Silva<br /><strong><em>Luiz Manfredini</em></strong><br /><br />Nos anos 90, a direita dispunha de um programa para o Brasil: o programa neoliberal. Beneficiária da atmosfera regressiva criada pela queda do Muro de Berlin e dissolução da União Soviética, no curso de uma ampla crise do socialismo e de um notável avanço do capital, ela sensibilizou o eleitorado brasileiro com suas propostas aparentemente inovadoras de privatizações, Estado mínimo e outros quejandos. E indicou para representá-la um egresso da esquerda, o então senador Fernando Henrique Cardoso, que cumpriu dois mandatos presidenciais. Digamos assim: a direita estava com tudo.<br /><br />Mas o modelo neoliberal sofreu reveses decisivos no Brasil e no mundo. A partir de 2003 o Governo Lula inaugurou um novo modelo que, a despeito de equívocos e limitações, confrontou-se com o receituário neoliberal, vitaminou o crescimento econômico com justiça social e soberania nacional e, assim, ganhou a alma da maioria dos brasileiros. A Presidente Dilma se elegeu no bojo desse movimento para a esquerda. E a direita ficou sem programa e, portanto, órfã de propostas para o Brasil. Nos últimos anos, amparada em seu vasto poderio midiático, restou-lhe atacar o governo a partir do velho cantochão do moralismo e de pontos isolados que estão longe de se constituírem uma alternativa à plataforma da esquerda.<br /> <br />Mas isto não basta para a direita vislumbrar alguma perspectiva, que não a derrota, nas eleições de 201. Assim, procura construir ou ajudar a construir cenários adicionais que, mesmo indiretamente, a favoreçam. Um desses cenários é o da fragmentação do quadro partidário e de alianças eleitorais, na esperança de evitar a vitória da Presidente Dilma já no primeiro turno, como apontam as pesquisas. Daí a grande mídia privada e mesmo próceres da direita saudarem o lançamento, no dia 16 de fevereiro, em Brasília, do partido da ex-senadora Marina Silva, a tal Rede Sustentabilidade, ou simplesmente Rede.<br /><br />Marina não dispõe mais dos 20 milhões de votos que auferiu em 2010 em circunstâncias políticas irrepetíveis. Mas seu capital eleitoral – ali pelos 9%, segundo estimam pesquisas atuais - ainda é respeitável. A direita conta com eles para tentar impedir a vitória de Dilma já no primeiro turno. E se esforça para isso, inclusive oferecendo quadros ao novo partido. O deputado federal paulista Walter Feldman, por exemplo, um tucano histórico e sempre muito bem votado, é apontado como um dos fundadores da agremiação de Marina. Claro que não será fácil amealhar, até outubro, as 500 mil adesões necessárias para legalizar o partido, mas a direita certamente vai ajudar.<br /><br />Mas o partido da ex-senadora pelo Acre, além dos serviços que prestará à direita, ainda que indiretamente, contém singularidades que não passaram desapercebidas. A primeira, nas palavras da própria Marina: "Estamos na época ao paradoxo, nem situação, nem oposição a Dilma. Precisamos de posição”. Nem oposição, nem situação, mas posição? O que é isso? Parece tiradinha de publicitário. E mais: “Nem direita, nem esquerda. Estamos à frente". Mas onde está o partido, em que galáxia? Isso me cheira à senha para o oportunismo, pois numa agremiação que assim se define, cabe todo mundo. Também a afirmação de Marina de que o Rede vai romper com “a lógica de partidos a serviços de pessoas” soa como embuste. Não está a serviço de pessoas, mas só ela é quem aparece.<br /><br />Não vai o partido de Marina aceitar contribuições de empresas de cigarro, armas, agrotóxicas e bebidas alcoólicas. Mas nada fala a respeito das doações de bancos e empreiteiras. Uns, como o deputado Walter Feldman, falam que a agremiação só aceitará dirigentes e candidatos com ficha limpa, regra que não vale para filiados em geral. Outros, como um dos fundadores, João Paulo Capobianco, asseguram que a legenda vai "coibir a entrada de ficha suja". Ingressa ficha suja ou não? A confusão está precocemente formada, o que não soa estranho a um partido que não possui carta programática, no qual metade dos filiados poderá ter a opinião que desejar, à margem das orientações partidárias.<br /><br />Tais orientações foram coletadas entre os primeiros aderentes. No evento de lançamento, em Brasília, os participantes – alguns deles se denominam “sonháticos” - relataram sonhos ao microfone ou por escrito. Como notou, em artigo recente, o biólogo e professor Pedro Luiz Teixeira de Camargo, “as ideias eram as mais divergentes possíveis, passando pelo mote ‘mais Joaquim Barbosa, por favor’, até a palavra mágica "amor". Para ele, “a partir do momento em que metade dos filiados não precisa seguir um programa partidário, busca-se o enfraquecimento dos partidos políticos”. E aí está um ponto crucial nessa iniciativa, a primeira que busca desclassificar a instituição partido como instrumento primordial da política. Diz Marina: . "Estamos num processo de desconstrução de que o partido tem monopólio da política, queremos quebrar isso”. É a ação declarada contra os partidos, a tentativa de despolitização da sociedade.<br /><br />Em seu oportuno artigo, Pedro Luiz Teixeira de Camargo conclui:<br /> <br />“É fundamental mostrar a toda a sociedade a verdadeira faceta de Marina Silva e de sua Rede: servir de legenda para deputados insatisfeitos em seus partidos, garantir um partido para a realização pessoal da ex-senadora e, principalmente: servir de sublegenda para a direita neoliberal. Desgastada devido aos bons governos de Lula e Dilma, a direita tradicional precisa se repaginar, e nada melhor que usar uma ex-militante de esquerda, ainda mais se puderem pintar o tucano de verde, que pode deixar de ser a cor da esperança para passar a ser a cor da preocupação”.<br /><br />Gelatinoso como é, o partido da ex-senadora mereceu definição antológica do jornalista Cláudio Gonzalez: “Não é um partido, é uma ONG que receberá dinheiro do fundo partidário”. Ou, como afirmou o impagável José Simão, dia desses: a Rede de Marina “é o PSD que não come carne”.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-78994304946696623042013-02-13T05:08:00.000-08:002013-02-13T05:08:06.550-08:00Charles Fourier no Brasil<strong><em>Luiz Manfredini</em></strong><br /><br />Há dois meses me dedico – sempre que a áspera luta pela sobrevivência me permite – a um novo romance, desta vez sobre o médico francês Jean Maurice Faivre, que aportou no Brasil em fins de 1826 e, entre 1847 e 1858, quando morreu, tentou criar na selva paranaense uma colônia influenciada pelo socialismo utópico do também francês Charles Fourier. Não foi a única tentativa de trazer ao Brasil um projeto fourierista. Seis anos antes, em 1841, outro francês e igualmente médico, Benoit Jules Mure (introdutor da homeopatia no Brasil), criou a Colônia Industrial do Saí – também conhecida como o Falanstério do Saí – nas margens da baía de Babitonga, no norte catarinense.<br /><br /> Foram as duas únicas iniciativas sob influência fourierista que se tem notícia no Brasil. A Colônia Cecília, instalada em Palmeira, no Paraná, nos anos 1890, pelo italiano Giovani Rossi, estava mais ligada ao anarquismo. Todas elas faliram enquanto projetos utópicos, da mesma forma que fracassaram as mais de 70 colônias desse tipo implantadas nos Estados Unidos ao longo do século XIX.<br />
<br /> A utopia socialista daqueles precursores (com destaque para os franceses Saint-Simon e Charles Fourier e o inglês Robert Owen) que, logo após a revolução francesa, se desencantaram com os efeitos deletérios do capitalismo liberal sobre as massas de trabalhadores explorados e empobrecidos, era generosa e, de certo modo, visionária. Buscava uma interpretação totalizante do mundo – e, por decorrência, um projeto societário - capaz de livrar a humanidade das iniquidades que a pervertiam.<br /><br /> Fourier abominava o comércio, segundo ele fonte primordial da mesquinhez da civilização, e imaginava a solução dos problemas econômicos e sociais como resultado da harmonização das 12 paixões que, a seu ver, movem o ser humano. Paixões sensoriais, afetivas, paixões pela ordem e pela harmonia e também pela variação e pela mudança (a paixão borboleteante). Tal harmonização se daria no falanstério, unidade isolada do contágio da civilização, onde viveriam 1.600 pessoas sob um regime de propriedade privada limitada pela repartição igualitária dos benefícios da produção realizada coletivamente. Fourier imaginava que, a partir desses falanstérios, seria possível modificar radicalmente as estruturas básicas da vida humana, instalando-se a “sociedade harmoniosa”.<br /><br /> Mas se cabiam bem na mente privilegiada dos seus criadores, tais doutrinas que, mais tarde, Marx e Engels viriam a definir como “socialismo utópico”, pouco combinavam com a realidade, pois desligadas das circunstâncias socioeconômicas e histórico-culturais das sociedades em que pretenderam se implantar. Daí a razão do seu fracasso.<br /><br /> <strong>Fourierismo na selva paranaense</strong><br /><br />Nascido em 1795 num vilarejo do Jura, a montanhosa fronteira da França com a Suíça, e formado pela Faculdade de Medicina de Paris em 1825, Jean Maurice Faivre chegou ao Brasil em fins de 1826. No país recém-independente, logo seria nomeado para o Hospital Militar da Corte. Três anos depois estava entre os cinco fundadores da Academia Imperial de Medicina. No final da década de 1840, valeu-se de suas relações na corte, sobretudo da amizade com a Imperatriz Teresa Cristina, de quem foi médico, para financiar, ao menos em parte, uma espécie de falanstério que fundou em 1847 no interior da então Quinta Comarca da Província de São Paulo, hoje Estado do Paraná. Era a Colônia Teresa, nas margens do rio Ivaí, inicialmente composta por 25 famílias que o médico – e agora colonizador – recrutou na França.<br /><br /> A despeito de servir a alguns objetivos importantes do império, como a ocupação da fronteira oeste, a catequese de índios e estudos sobre a navegabilidade do rio Ivaí com vistas à ligação fluvial com a Província de Mato Grosso, a colônia de Faivre destacou-se pelo regime social e econômico sob o qual foi criada. Seguindo, grosso modo, o ideário fourierista, que conhecera em Paris, ainda como estudante, Faivre imaginou que se refugiando na selva, junto com seus aderentes, desenvolvendo vida livre e igualitária, estaria a salvo das iniquidades – sobretudo morais - que haviam assolado o mundo das cidades.<br /><br /> Na colônia, onde proibiu a escravidão 40 anos antes de sua abolição no Brasil, distribuiu terras gratuitamente aos membros da comunidade, aos quais já havia oferecido dinheiro para pagarem suas dívidas no Jura e se sustentarem nos dois primeiros anos da colônia. As despesas do trabalho e da vida social eram divididas e, igualmente, os lucros. A colônia apresentou certo desenvolvimento: produziu aguardente e rapadura, construiu uma olaria e desenvolveu uma agricultura de subsistência. Mas logo a maioria dos franceses que trouxera o abandonou. O isolamento da colônia e outros fatores apressaram sua decadência. Em 1858 Faivre morreu tragado por febre traiçoeira sem ver realizados seus sonhos.<br /><br /> Para o historiador paranaense Ermelino Agostinho de Leão, presidente da Província entre 1864 e 1875, Faivre visava “estabelecer no sertão ínvio um núcleo de população que, obedecendo a novos princípios sociais e econômicos, conseguisse implantar um regime de franca felicidade. Visava ensaiar uma sociedade despida de ambição monetária, apoiada no princípio da solidariedade humana, reformando os abusos dos centros industrialistas que começavam a imperar”.<br /><br />Ainda Ermelino de Leão: “Sua doutrina socialista, respeitando os vínculos sociais da família e da religião e praticando o comunismo sem as extremas doutrinas anarquistas que visam o destruir para reconstruir somente sob o ponto de vista econômico, tendia a criar um sodalício igualitário, sem escalas sociais criadas pelos bens de fortuna”.<br />
E mais: “Suprimida a riqueza individual, distribuída a produção coletiva de conformidade com as necessidades de cada indivíduo, nivelados todos, pensava o humanitário médico que a regeneração humana estaria implantada e que, em vez das rudes lutas econômicas, ao serviço de ambições, desenvolvendo-se em uma série de atritos e conflitos, dos quais resultavam vencedores e vencidos, imperaria a solidariedade, o amor, o altruísmo a bafejar de venturas no núcleo social que praticasse a sonhada reforma. Para ele, o dinheiro era o inimigo capital da felicidade humana”.<br /><br />A trajetória de 63 anos da vida de Jean Maurice Faivre mostra-se como emblemática de algo que marcou o século XIX, ou seja, a busca por alternativas civilizatórias para a sociedade que superassem as iniquidades do capitalismo. O ponto alto dessa busca deu-se com a formulação do marxismo. Mas até que se chegasse a ele, sensíveis corações e mentes repletos de indignação e generosidade moveram-se, muitos obsessivamente, em direção, sobretudo, da justiça social. Foi um século de problemas e soluções para a sociedade humana, que o bom Faivre, a seu modo e nas fronteiras das suas limitações, procurou viver em plenitude. Convenhamos, bom tema para um romance-histórico.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /> <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKjH9IuMvEOjuvihq8rrVYyOnskEtWauvWryPx2mUNro0Uh_scCdZolIrOEhfz0dsF8f1zNfTOHXeGEGM7hye33_Hk2ZUqFZcz0LgVfEcx8BL98BC68hURuw9gxcKhE_7sv6StD_GrjDw/s1600/Paulo+Wright.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKjH9IuMvEOjuvihq8rrVYyOnskEtWauvWryPx2mUNro0Uh_scCdZolIrOEhfz0dsF8f1zNfTOHXeGEGM7hye33_Hk2ZUqFZcz0LgVfEcx8BL98BC68hURuw9gxcKhE_7sv6StD_GrjDw/s320/Paulo+Wright.jpg" width="205" /></a><strong>Luiz Manfredini</strong><br /><br />Esquadrinhando meus livros, dia desses, me deparei com um volume de não mais que 130 páginas, já um pouco empoeirado (a edição é de 1993), sob o título “O coronel tem um segredo” e o subtítulo “Paulo Wright não está em Cuba”. Folheei o livro, detendo-me aqui e ali no relato sensível de Delora Jan Wright, filha do reverendo Jaime Wright (que trabalhou com dom Paulo Evaristo Arns no projeto “Brasil: nunca mais”) e sobrinha de Paulo. Naveguei por trechos do livro e pelos escaninhos da minha memória, buscando mais uma vez capturar das névoas do passado a figura desse revolucionário destemido, sensível e fervoroso que em julho próximo completaria 80 anos. Em algum dia de setembro de 40 anos atrás ele foi preso e trucidado pela ditadura.<br /><br /> Filho de missionários norte-americanos da Igreja Presbiteriana que se estabeleceram no Brasil em 1923, Paulo nasceu em Herval, Oeste catarinense, em julho de 1933. Desde cedo foi dedicado militante cristão em favor das causas sociais. Aos 23 anos, depois de formar-se em sociologia e política pelo “College of the Ozarks”, em Arkansas (EUA), tirou sua carteira de trabalho como servente em São Paulo. Desejava, como registrou Delora Wright, “viver a vida, os sacrifícios, as alegrias e as dores de um trabalhador”. Mais tarde, já casado em Joaçaba (SC), empregou-se como torneiro mecânico e ajudou a fundar o sindicato local dos metalúrgicos e organizou os trabalhadores da construção civil e da indústria de papel e papelão. Dois anos depois, de volta a São Paulo, empregou-se como operário da Lambretta do Brasil e associou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos. Durante o dia trabalhava na fábrica e, à noite, lecionava sociologia no Instituto Metodista. Em 1960 era secretário regional da União Cristã de Estudantes do Brasil. Depois voltou à Joaçaba, onde disputou a Prefeitura.<br /><br /> Nessa época de grande efervescência política no Brasil – o final do governo JK, o efêmero governo de Jânio Quadros e o início do período João Goulart – Paulo disseminou palestras e conferências, participou de movimentos como o que defendia a revolução cubana e organizou 27 cooperativas de pescadores. Eleito deputado estadual em 1962, no ano seguinte aproximou-se da recém-fundada Ação Popular, organização reformista de origem católica à qual se dedicaria por inteiro nos dez anos seguintes, sua última década de vida.<br /><br /> A cassação do seu mandato parlamentar pelos militares golpistas, em maio de 1964, lançou Paulo Wright para um breve exílio no México e em Cuba. Breve porque, já em 1965, estava de volta ao Brasil, agora clandestino. O nome Paulo perdia-se nas sombras, dando lugar ao de João, o mais usado por ele – entre outros – na vida subterrânea. Tornou-se dirigente nacional da AP, acompanhou a rota da organização do reformismo à revolução, mas não se incorporou ao PCdoB como fez a maioria dos seus companheiros entre 1972 e 1973. Tornou-se marxista-leninista, certamente sem deixar de ser cristão. Como afirmou o cardeal Arns, no prefácio do livro de Delora, Paulo Wright era “um cristão que teve a coragem de levar suas convicções às últimas consequências”.<br /><br /> Recentemente o “Vermelho” dedicou um editorial aos que “foram quadros políticos sem igual na esquerda brasileira, homens extraordinários, guerreiros do povo brasileiro”, dedicados “à luta pelo ideal comunista, pela revolução político-social e o socialismo”, e que “deram suas vidas à democracia, às causas patrióticas, aos direitos do povo, à solidariedade internacional”. Paulo Wright foi um desses gigantes da história. Haroldo Lima e Aldo Arantes, que na direção da AP divergiram de Paulo Wright quanto à incorporação da organização ao PCdoB, passando a trilhar caminhos diversos, o homenagearam nas “Palavras finais” de seu livro “História da Ação Popular: da JUC ao PCdoB”: “Manifestamos nosso respeito à memória de Paulo Stuart Wright, combatente sério e dedicado que, preso pela ditadura militar fascista, em setembro de 1973, foi torturado e morto, tendo-se portado com dignidade revolucionária”.<br /><br />Entre 1968 e 1973, ou seja, entre os meus 18 e 23 anos, mantive vários encontros com Paulo Wright em Curitiba, São Paulo, no interior de Santa Catarina e em Salvador, cobertos sempre pelo manto da clandestinidade. Jovem em busca de exemplos modelares, aprendi a admirar profundamente aquela figura de larga bonomia, paciente para ouvir com atenção a todos, dedicado ao extremo às suas convicções e à luta revolucionária. Nosso último encontro foi no início de setembro de 1973, em São Paulo. Circulamos de carro pela cidade e estacionamos numa ruazinha estreita e arborizada do Morumbi. O povo vibrava no estádio e nós, dentro de um fusca, conversávamos sobre os desafios da revolução brasileira. Ali permanecemos um bom tempo, após o que Paulo se despediu e seguiu pela ruazinha com seu andar cansado. Dias depois embarcaria num trem urbano com destino a Santo André para nunca mais aparecer.<br /><br /> Prestei a Paulo Wright singela homenagem em meu romance “Memória de Neblina”, fazendo-o encontrar-se com dois personagens, Sebastião e Lau, num “aparelho” da clandestinidade, dias após a decretação do Ato Institucional número 5, em dezembro de 1968.<br /><br /><em>Paulo Wright entrou pela porta dos fundos, maneiroso como sempre, sorridente como sempre, desempenhando o papel de tio do Sebastião, o tio César, de passagem pela cidade. (...) Alto, forte, a cabeleira puxada para trás, em ondas, aqueles bigodões cuja contundência era amenizada pelos olhos azuis que conferiam à sua fisionomia uma aura de bondade quase ingênua.</em><br /><br />Passaram a tarde num quartinho do sótão. Conversaram sobre a grave situação do País e as perspectivas revolucionárias.<br /><br /><em>Paulo Wright, voz de brisa primaveril adestrada no mundo dos segredos, enveredou a conversa para a vida de cada um dos dois, tão jovens e tão dispostos.<br /><br />Logo em seguida os deixou.<br /><br />Lau e Sebastião nunca mais o viram.<br /><br /> Quatro anos depois Paulo Wright foi tragado pela violência que previra e desapareceu no oceano de sombras do regime. Seu nome nunca deixou de frequentar a lista dos desaparecidos, sobre os quais jamais se teve notícia alguma.</em><br /><br /> </div>
Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-11379072495808174292013-01-18T10:28:00.000-08:002013-01-18T10:28:18.838-08:00Lula de volta às ruas<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlUch7_su76t8p2uOWvDP1GziDg9um9VwxgV3o0zrVm56o7bR_qBXex09WuL-MDw5wjUZ2CxJe_flsP8GfSBB-hrNr2YbTqjk57bxyulw5HZn-wFo78FJepX_K1RuOsm2Vn_FWZ0jla30/s1600/lula-povo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlUch7_su76t8p2uOWvDP1GziDg9um9VwxgV3o0zrVm56o7bR_qBXex09WuL-MDw5wjUZ2CxJe_flsP8GfSBB-hrNr2YbTqjk57bxyulw5HZn-wFo78FJepX_K1RuOsm2Vn_FWZ0jla30/s320/lula-povo.jpg" width="320" /></a><br /><strong><em>Luiz Manfredini</em></strong><br /><br />Lula anunciou sua volta às ruas a partir de fevereiro. "No ano que vem, para alegria de muitos e tristeza de poucos, voltarei a andar por este país”, disse. E acrescentou: “Vou andar pelo Brasil porque temos ainda muita coisa para fazer, temos de ajudar a presidenta Dilma e trabalhar com os setores progressistas da sociedade".<br /><br /> Oficialmente Lula retornará às suas caravanas da cidadania. Mas sabe-se o que realmente vai fazer. Vai para as ruas, para junto do povo enfrentar a ofensiva política que a direita ensaia no pós Ação Penal 470 e com vistas às eleições de 2014. É o estilo de ex-presidente, já utilizado no final de 2005, quando os demo-tucanos batalharam pelo impeachment no bojo da CPI dos Correios. Inviabilizado o impedimento, a direita decidiu sangrá-lo de modo que chegasse, exangue, para ser derrotado nas eleições de 2006. Nas ruas, com o povo, Lula virou o jogo.<br /><br />Sem programa e perdendo votos a cada eleição, as oposições não se conformam em testemunhar que o PT de Lula e seus aliados tenham vencido a disputa de 2012 em mais de 80% dos municípios brasileiros e que ele e a presidente Dilma ostentem uma popularidade que beira os 80% (segundo as pesquisas, qualquer um dos dois seria imbatível, em qualquer cenário, se as eleições de 2014 fossem hoje). Então as oposições e seu beligerante aparato midiático, voltam à tática de 2005: colocar Lula sob sua mira, agora tentando, por todos os meios, ligá-lo ao suporto “mensalão”, qualificando-o como corrupto e, assim, iniciando a operação para desconstrui-lo por inteiro. Agora o famigerado Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, anuncia que provavelmente enviará à primeira instância o depoimento de Marcos Valério onde ele diz que recursos do suposto “mensalão” foram utilizados para pagar despesas pessoais de Lula. É isso, a campanha da direita está na rua, ou melhor, nas imagens da TV e nas páginas dos jornais e revistas da grande mídia privada, o que lhe multiplica a repercussão na busca de um consenso social reacionário.<br /><br />A campanha contra Lula está ligada, obviamente à disputa que se avizinha para 2014 (a presidente Dilma ainda não entrou propriamente no foco do ataque), mas contém um ingrediente para além da luta política concreta. Um ingrediente ideológico, de furioso ódio de classe da casa grande contra um atrevido da senzala que ousou altear-se na política nacional, chegando – pasmem – à Presidência da República. Não é gratuita, portanto, a execração que o complexo midiático-conservador promove contra o ex-presidente, uma campanha carregada de menosprezo, de cruel abominação, que impõe, como solução final, não apenas derrotar Lula politicamente, mas também desmoralizá-lo, humilhá-lo, desqualifica-lo como pessoa e cidadão, como a dizer à sociedade que o trabalhador deve trabalhar, produzir riqueza, mas nunca atrever-se a liderar o País.<br /><br /> Ressalvadas as proporções e circunstâncias históricas, o que as elites conservadores pretendem assemelha-se ao que os portugueses fizeram com Tiradentes, executado e esquartejado por liderar a Inconfidência Mineira, com os pedaços do seu corpo espalhados por onde realizara sua pregação revolucionária. Arrasaram a casa em que morava, jogando sal no terreno para que nada lá germinasse. Sua memória e decendentes foram declarados infames.<br /><br />Nessa guerra sistemática, cotidiana, a grande mídia privada – o supremo arauto à frente das maquinações direitistas - não se vexa em inventar e manipular fatos, propalar mentiras, montar fotos, espalhar boatos. É a guerra de classe sem fim. Getúlio Vargas e João Goulart foram vítimas de campanhas semelhantes, embora sua condição de grandes proprietários rurais os tenha livrado do ódio de classe que se abate sobre Lula. Foram campanhas sórdidas contra o progressismo daqueles governos, mas sob a mesma capa do moralismo cretino e falseador. A expressão “mar de lama”, com a qual a direita sempre atacou os governos progressistas, foi criação de Carlos Lacerda, em suas histéricas investidas contra Getúlio no início dos anos 1950.<br /><br />Mas já na crise de 2005 Lula garantiu que não teria o fim que tiveram os dois ex-presidentes – o suicídio de um, a deposição de outro. Lutaria. E lutaria nas ruas, leito por onde a história costumeiramente marca seus espasmos e garimpa suas soluções. É o que anuncia para fevereiro. Não é do seu estilo choramingar dificuldades, abater-se diante delas como, lamentavelmente, procede expressiva parte do seu partido, atada a um certo – e nocivo - fatalismo. Diante da crise, Lula se agiganta. Sabe que a ofensiva midiático-conservadora, a despeito de tê-lo como o centro do alvo, mira também o projeto de esquerda que ele encarna e todos os seus atores (e não apenas o PT, como julgam alguns). Por isso, logo estará nas ruas.<br /><br /><br /><em>Luiz Manfredini é jornalista e escritor em Curitiba, representa no Paraná a Fundação Maurício Grabois e é autor de “As moças de Minas”, “Memória de Neblina”, “Sonhos, utopias e armas” e “Vidas, veredas: paixão”.</em><br /></div>
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Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-7099948154044442892013-01-10T12:43:00.000-08:002013-01-10T12:43:55.251-08:00Chávez e a nossa América<em>Redigimos estas notas em meio aos rumores, quase todos pessimistas, sobre a saúde de Hugo Chávez. Muitos, que não conseguem ocultar o regozijo, afirmam que o líder venezuelano agoniza. Outros – e é o caso de Evo Morales, da Bolívia - rezam para que ele sobreviva.</em> <br /><br /><em><strong>Mauro Santayana</strong>, em seu blog</em><br />
<br /><span>Infelizmente, segundo observações médicas, só um milagre poderá devolver Chávez a Caracas, vivo e apto a retornar ao poder. As indomáveis circunstâncias, que o fizeram soldado, revolucionário e chefe de governo e de Estado em seu país, retiram-se agora de seu destino, dele fazendo um enfermo comum, que vem lutando, com coragem, mas sem armas efetivas, contra o câncer.<br /><br />Ele, ao ser diagnosticada a enfermidade, observou, sob o riso desdenhoso de alguns, que o câncer estava, em coincidência muito suspeita, atingindo líderes do continente. Citou Lula e Cristina Kirchner e ele mesmo, como exemplos. O fato é que, em nossos dias, é fácil provocar enfermidades fatais em pessoas com saúde, e é também certo que o poder, com sua ansiedade e angústias, vulnera o organismo e favorece o seu acosso.<br /><br />Chávez, queiram ou não seus opositores, ocupou a História da Venezuela com uma presença só comparável à de seu ícone, Simon Bolívar. Não cabe discutir – e o debate exige tempo e espaço – se as medidas que tomou irão prevalecer no futuro. O seu grande êxito foi o de dar à maioria do povo venezuelano, o seu lado mais sacrificado e oprimido, antes e depois da independência, a consciência de ser, e de pertencer a uma pátria pela qual vale lutar.<br /><br />O coronel é um mestiço andino, embora tenha nascido ao sopé de um dos segmentos mais imponentes da Cordilheira, o de Mérida, mas em terras planas. Sua forma de ver o mundo está na contradição dialética entre os mitos pré-colombianos e o pensamento ocidental. Em homens de sua origem e formação, prevalece, em certos momentos, a força instintiva dos autóctones, em outros, o racionalismo europeu.<br /><br />Nesse jogo mental ele construiu o seu discurso às massas, muito superior ao de outros líderes continentais, pela simplicidade e pelo uso de imagens oferecidas pelo cotidiano.<br /><br />O destino do socialismo bolivariano está vinculado, neste momento, à sobrevivência do discurso de Chávez. Como em todas as experiências políticas do passado, é difícil que o sistema, como ele o construía, se complete. Mas é certo de que os trabalhadores da cidade e dos campos de seu país não aceitarão voltar à submissão, dócil, aos oligarcas que têm dominado o país, com pequenos intervalos de governos honrados e efêmeros – como o do grande romancista Romulo Gallegos, que durou apenas nove meses, em 1948. <br /><br />Chávez já é um dos grandes homens da América.</span>Blog do Manfredinihttp://www.blogger.com/profile/14115477765824377802noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5539374683880256474.post-27580105159807912832013-01-10T05:34:00.001-08:002013-01-10T05:34:32.175-08:00Última chance para derrubar Dilma<em>A oposição sabe que o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória, mas de que haja segundo turno em 2014.<br /><br /><strong>Antonio Lassance</strong></em><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 3.75pt;">
<b><span style="font-family: "Garamond","serif"; font-size: 14pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></b> </div>
A oposição sabe que o ano-chave das eleições não é 2014, é 2013. Ou ela começa já a derrubar a popularidade de Dilma, incentiva candidaturas competitivas e estigmatiza de vez o partido da presidenta, ou pode dar adeus não só às suas remotas chances de vitória, mas de que haja segundo turno em 2014. O “timing” para fazer isso é 2013, ou será tarde demais para conseguir tirar a vantagem que hoje tem a presidenta contra qualquer adversário.<br /> <br /> Ao contrário de campanhas anteriores, os tucanos já definiram seu candidato com bastante antecedência. A antecipação ocorreu porque a tarefa da oposição é ingrata. A popularidade de Dilma anda na estratosfera (73%) e resistiu aos escândalos direcionados contra seu governo, ao julgamento da Ação Penal 470 e à desaceleração da economia. A presidenta e o PT não só atravessaram tudo isso como conseguiram ampliar o número de prefeituras e derrotar o PSDB na cidade com o maior eleitorado do país. Uma dificuldade extra para a política em 2014 será o clima de copa do mundo de futebol, mais intenso e que se estenderá por mais tempo no Brasil.<br /> <br /> Na batalha para garantir que pelo menos haja segundo turno, os que fazem oposição ao governo Dilma sabem que não podem confiar só no PSDB. Torcem por um maior número de candidatos com pelo menos 10% de intenções de voto cada. Faz parte do jogo trazer Marina Silva de volta à cena, falando de meio-ambiente; dar voz ao Psol para falar de corrupção; estimular Eduardo Campos – que já disse que não é candidato - a se tornar candidato. Nessa divisão do trabalho, os tucanos centram seu foco na economia, ou melhor dizendo, no tema das finanças (públicas e privadas).<br /> <br /> Na nova estratégia oposicionista, o tempo é a variável fundamental. A estigmatização dos adversários e a editorialização da política já são armas corriqueiras. Os alvos também continuam, em grande medida, os mesmos. Incluem os clichês da tradicional espiral de pessimismo: "a inflação está alta demais", "os gastos públicos fugiram do controle", "o país vai crescer menos que o Haiti", "a saúde está pela hora da morte", "a educação só piora".<br /> <br /> Os estigmas mais fortes virão dos desdobramentos do mensalão. A oposição ambiciona as imagens de petistas indo para a carceragem, se possível, algemados; melhor ainda se forem pegos de pijama e seguirem para a prisão em camburões, filmados pelos helicópteros das redes de TV.<br /> <br /> Os novos alvos ficam por conta da batalha pela redução das tarifas de energia, confrontada com o fantasma do apagão, e da gestão da prefeitura de Haddad, que poderá ser alvo da mesma tentativa de erundinização que se viu na campanha de 1989 contra Lula, quando uma administração boa e séria foi transformada em um péssimo exemplo pelos adversários.<br /> <br /> Está certíssimo o ministro Gilberto Carvalho, que disse que “2013 vem aí e vem muito bravo”. A questão é saber: diante dos ataques, o que farão a presidente, seu governo, Lula e o PT?<br /> <br /> Uma grande expectativa está sendo depositada em uma presença pública mais intensa de Lula, com suas caravanas, seu contato com o povo, sua língua ferina contra os adversários, seu improviso, suas metáforas. Esse estilo direto e mambembe de fazer política sempre ajudou o PT a inverter o jogo em momentos difíceis.<br /> <br /> Mas será que isso basta? Lula será fundamental para defender o PT e a si próprio dos duros ataques que vem sofrendo. Também pode fazer, melhor do que ninguém, a defesa de seu legado. Em 2013, completamos 10 anos do início de muitas mudanças que agora fazem parte da paisagem socioeconômica do país. Mas há toda uma nova geração de brasileiros que já não se recorda do que era este país antes de Lula. Não sabe o que era a educação sem Fundeb, sem Pró-Uni, sem Cefet’s, sem as universidades que foram criadas ou ampliadas. Não sabe o que era a Saúde sem a Política Nacional de Urgência e Emergência - da qual fazem parte o SAMU e as Unidades de Pronto Atendimento - e sem “Brasil Sorridente”.<br /> <br /> Tem gente que não se lembra o que era a infraestrutura do país antes do PAC, nem da época em que engenheiros começavam a aparecer nas esquinas vendendo cachorro-quente. Muita gente não tem ideia do que era a vida dos mais pobres com a taxa de desemprego acima de dois dígitos, sem o Bolsa Família, sem o “Minha Casa, Minha Vida”, sem o “Luz para todos”. Antes da criação das contas populares, que permitiram a bancarização de milhões de brasileiros, muitos tinham vergonha de entrar em uma agência bancária e só conseguiam crédito recorrendo à agiotagem. Neste sentido, Lula pode ajudar muito a refrescar a memória do país.<br /> <br /> Mas, e Dilma? Estamos falando de seu governo, e não só do governo Lula. É da presidenta a responsabilidade primordial de dizer o que é e o que faz seu governo. Seria bom que fizesse isso mudando ou no mínimo variando mais seu padrão de comunicação, incluindo entrevistas a blogueiros, a rádios e veículo do interior, sindicais e comunitários.<br /> <br /> Se quiser fazer frente a seus adversários e ao tamanho dos desafios colocados, Dilma vai ter que falar mais, que viajar mais. Vai precisar explicar mais o que está acontecendo, o que está fazendo e o que está em jogo para o futuro do país. Terá que se rodear menos de ministros e celebridades, e mais do povo das ruas. Afinal, este ano de 2013 começou com altas temperaturas e com cara de primeiro turno.<br /> <br /><em>Antonio Lassance é cientista político e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).</em> <br /><br />
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