terça-feira, 12 de outubro de 2010

“A morte da alma nacional”

O jornalista Aloysio Biondi (1936/2000), voz competente e consistente em defesa do Brasil, autor de um minucioso inventário da privataria neoliberal (o livro Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado), publicou na revista Bundas, em agosto de 1999, o artigo A morte da alma nacional.

Revisitado, por esses dias, pelo sítio Carta Maior, que lhe dedica uma série, o artigo é de oportuna releitura nesses dias em que o Brasil defronta-se com uma equação dramática, devendo decidir, no próximo 31, no contexto de dois projetos antagônicos que se confrontam, qual o caminho que escolherá.

Biondi inicia seu texto com uma frase de Celso Furtado: “Nunca estivemos tão longe do país com que sonhamos um dia”. Eram os anos FHC quando o jornalista produziu sua reflexão e o grande economista brasileiro desabafou seu amargor.

Biondi faz uma breve retrospectiva da história recente do País, coberta por crises de todos os tipos, para indicar que, diante de cada uma dessas crises, algumas severas, outras muito severas, havia uma contrapartida poderosa a robustecer o alento dos brasileiros.“Havia um povo que sonhava virar Povo”, escreveu, “e estudantes, intelectuais, empresários, trabalhadores, agricultores, classe média envolvidos no debate pelo desenvolvimento, conscientes, todos, de que havia um preço a pagar, resistências a enfrentar. Inimigos, interesses externos a vencer. Um país com alma, sonhos”.

Nos anos 90, entretanto, a situação mudou. Sem meias palavras Biondi dedica parte do seu texto para mostrar como a alma nacional estava maculada naquela década maldita e como, em sua opinião, os brasileiros da época deveriam se comportar. O artigo é antológico. Nada melhor que reproduzir, ipsis litteris, por sua inteira pertinência à atualidade brasileira, seus quatro últimos parágrafos.

Em cinco anos, o governo Fernando Henrique Cardoso não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Para isso, e com a ajuda dos meios de comunicação, jogou o consumidor contra os empresários nacionais, “esses aproveitadores”; o contribuinte contra os funcionários públicos, “esses marajás”; o pobre contra os agricultores, “esses caloteiros”; a opinião pública contra os aposentados, ”esses vagabundos”.


No governo FHC, o brasileiro foi levado a esquecer que, em qualquer país do mundo, a sociedade só pode funcionar com base em objetivos que atendam aos interesses, necessidades de todos – ou, mais claramente, não se pode por exemplo ter uma política de importação indiscriminada, a pretexto de beneficiar o consumidor, sem provocar desemprego e quebra de empresas. Ou, a longo prazo, desemprego generalizado.


Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos. Destruiu a Alma Nacional, o Projeto Nacional. A violenta desnacionalização sofrida pelo Brasil, em sua economia, vai eternizar a remessa de lucros, dividendos, juros para o exterior. Isto é, vai torná-lo totalmente dependente da boa vontade dos governos de países ricos em fornecer dólares e, portanto, de ordens e autorizações desses governos de países ricos. Uma espécie de colônia, mesmo, como alertou o economista Celso Furtado em palestra que ele encerrou com sua frase, arrasadora para quem viveu o Brasil de 50 para cá, “nunca estivemos tão distante do Brasil com que um dia sonhamos”.


Mesmo sem tê-lo consultado a respeito, uma sugestão: escreva a frase de Furtado em um pedaço de papel, e a releia todos os dias. Ou faça decalques com ela. Sugira que seus amigos façam o mesmo.


E comece a agir. Ainda há tempo de ressuscitar a Alma Nacional, antes que o Brasil vire colônia.

Atualizemos a frase do mestre Celso Furtado: de 2003 para cá nunca tivemos tão perto do País com que sonhamos um dia. Há, em nosso horizonte próximo, um amanhã, um destino a perseguir. A alma nacional foi resgatada por um Brasil que colocou um metalúrgico do Palácio do Planalto. Não deixemos que se consuma – tampouco as conquistas que nos redimem e aproximam do amanhã que voltou a povoar os nossos sonhos – na voracidade genocida do neoliberalismo que pretende retomar as rédeas do País.

Repito aqui um bordão do ex-governador e senador eleito pelo Paraná, Roberto Requião: voltar atrás, nunca mais! E essa conclamação patriótica tem nome e número: Dilma Roussef, 13.

Um comentário:

  1. Oi Luiz,
    Adorei seu blog. Parabéns!
    É um livro sobre política, pois estou aprendendo muita coisa.
    Um beijo carinhoso,
    Gabriela Manfredini

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