Paulo Henrique Amorim, em seu blog Conversa Afiada
O debate foi no mesmo horário em que a Globo autoriza que os jogos do Brasileirinho se realizem. (A Cristina Kirchner comprou os direitos do campeonato argentino e distribui a todos os canais, que exibem na hora em que quiserem.)
O debate da Globo é para o brasileiro que pode ir dormir depois da meia noite: ou seja, os ricos. O debate é uma chatice porque :
1) as perguntas são sobre temas sorteados;
2) quem faz as perguntas são os candidatos.
Por isso, as perguntas não são perguntas, mas plataforma para o candidato dizer o que quer. E as perguntas são dirigidas ao adversário que esconda o maior rival. Quando a Dilma pergunta ao Plínio, é porque quer esconder o Serra. E o Serra só entrou no ar às 23h.
O formato da Globo acabou por ser um tiro no pé do Serra. Quem sabe fazer pergunta é jornalista. Candidato sabe pedir voto — quando sabe, o que não é o caso do Serra. Candidato não sabe perguntar.
Por isso, o debate ficou assim: insípido, inodoro e incolor. E por que ficou assim? Porque os candidatos e os partidos quiseram fugir dos jornalistas. E por que fugiram dos jornalistas? Porque os jornalistas brasileiros, em geral, não prestam. São partidários e, na maioria, tucanos. Como diz o Mino Carta: o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama o patrão de “colega”.
Para evitar que o debate seja conduzido por perguntas do Jabor, da urubóloga (Mirian Leitão) ou do Waack, os partidos amarraram o debate. Criaram um formato imune à tensão. É como se a bola não pudesse passar da intermediária. É um debate do tipo “risco-zero”.
O debate faz parte do sistema político brasileiro, em que não há discussão de políticas publicas. Não há confronto de ideias. O que mais informa acaba sendo, como a propaganda da Dilma, o horário eleitoral gratuito.
A lei que regula a entrada de candidatos na televisão também é essencialmente idiota. Consiste em não aprofundar nada. Por quê? De novo, porque os partidos precisavam se proteger, antes de tudo, da parcialidade da Globo.
E aí fica essa bobagem do “dia do candidato”. Em que o pobre espectador tem que ouvir a Bláblárina Silva — a candidata de duas caras, como disse o Santayana — dizer “é muito grave”, “é prioritário”, faremos “um plebiscito”.
Nos Estados Unidos, por exemplo, os debates são no horário nobre. Patrocinados por entidades educacionais, geralmente. E quem faz as pergunta são jornalistas — que todo mundo reconhece como jornalistas sérios, imparciais. A Dilma aceitaria que só a Miriam fizesse as perguntas? Ou o Jabor? Melhor ir para o clinch – e não deixar o Serra respirar.
Debate não decide eleição, como profetizou Don Hewitt, que, em 1960, dirigiu o primeiro dos debates na TV, entre Kennedy e Nixon. O máximo que faz é acentuar tendência que já prevalecia antes do debate. Cada um vê no debate o que quer ver. Mas, poderia ser um instrumento de informação e formação. Se não fosse ao ar no horário do Brasileirinho.
A presidente Dilma Rousseff não foge de uma responsabilidade que se impõe diante dela: promulgar a Ley de Medios. O brasileiro precisa conhecer, discutir seus problemas. Do contrário, o sucessor da Dilma será o Berlusconi.
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