segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Vem por aí a cantilena da “ameaça à democracia”

É sempre assim: derrotada, a direita se diz vítima de uma esquerda que, a seu ver oportunista, a esmaga e, assim, “ameaça a ordem democrática”

A oposição, ao longo dos últimos oito anos, assacou contra o Presidente Lula uma constelação de achincalhes e vitupérios. Houve até um senador amazonense que ameaçou bater fisicamente em Lula. É claro que os ataques sempre foram modulados pelas conveniências político-eleitorais da oposição, e tornaram-se mais difíceis nos últimos tempos, quando o prestígio popular alcançou patamares estratosféricos e insultá-lo passou a ser eleitoralmente desvantajoso. Mas que existiram, essas afrontas, existiram e, convenhamos, bem contundentes. A tudo o Presidente assistiu com espírito, digamos, paciencioso, com o bom humor de sempre e a profunda convicção democrática que o caracteriza.

No entanto, bastou Lula, em campanha pela eleição de Dilma, elevar um pouco o tom contra os adversários, e o caldo parece ter entornado, com a oposição sacudida por um histerismo desmesurado. O fato ocorreu na última sexta-feira, 27, num comício em Pernambuco. Atacados politicamente pelo Presidente, o Deputado-Federal Raul Jugmann (PPS), candidato ao Senado na chapa do tucano-peemedebista Jarbas Vasconcelos, protagonizou uma cena que mescla ridículo, destempero e oportunismo. O parlamentar afirmou que cogita pedir “garantia de vida à Polícia Federal”. “Vou declarar-me o primeiro perseguido político da era do chavismo lulista”, berrou. Para ele, Lula quer “esmagar” a oposição, num coro alimentado por Vasconcelos, para quem o Presidente “se considera acima de tudo, da Constituição, da Justiça, do Tribunal de Contas, do Congresso. É um semideus. Então, acha que pode tudo".

Conversa de sempre

A reação – entre lamuriosa e indignada - dos oposicionistas pernambucanos às críticas do Presidente seria apenas ridículo não fosse a manifestação esperada de uma direita que, historicamente, se comporta assim: diante de suas derrotas frente a uma esquerda fortalecida, com enorme respaldo popular e, por isso, amplamente vitoriosa, começa a cacarejar – com o histrionismo de sempre - sobre uma suposta ameaça à ordem democrática.

A direita sempre se comporta assim, e não só no Brasil. Anos atrás, na Venezuela, a oposição decidiu não participar das eleições ao parlamento que, assim, terminou ocupado majoritariamente por chavistas. Daí passou a gritar contra as “ameaças à democracia” decorrentes de um congresso com maioria situacionista. O sucesso popular de governos de esquerda – a Bolívia e o Equador são outros casos – é apresentado pelas direitas locais como “esmagamento da oposição” e, portanto, “ameaças à democracia”.

Preparemo-nos, portanto, para o incremento desse jogo oportunista no Brasil já no contexto dessas eleições. Envelhecida, sem propostas e lideranças carismáticas, deslocada do que o Brasil vive atualmente e dos anseios populares, a direita recorre aos velhos cantochões que, aos mais antigos, já não assusta, embora entedie. Ora é o discurso do medo, ora o da competência, ora esse berreiro sobre liberdade política, tudo isso tratado com a teatralidade necessária para criar, no eleitorado, um estado de espírito que a favoreça. Bem, não havendo propostas – ou melhor, não podendo a direita confessar seus desígnios, porque avessos aos interesses populares – só restam tais expedientes de baixo calão.

Democracia, para essa gente, é estar à vontade para exercer seu domínio autoritário e elitista em favor dos mais ricos, serviçal de interesses externos, considerando políticas sociais meras esmolas e o povo, afinal, um mal necessário. Tudo o que perturbe essa ordem de exploração, é apresentado como “ameaça à democracia”. Discurso velho, mas que ainda ilude alguns incautos.

domingo, 29 de agosto de 2010

Cai o último bastião da propaganda serrista, o da competência

Eleitorado já vê Dilma como a mais preparada. E Montenegro, do Ibope, faz sua autocrítica: "o Brasil quer Dilma presidente".

O detalhamento da pesquisa Datafolha, realizada nos dias 23 e 24 últimos, derrubou o último bastião que restava à já esgarçada argumentação serrista. Segundo a sondagem, 42% do eleitorado, sobretudo após assistir aos programas pelo rádio e TV, já considera que a ex-ministra Dilma Roussef reúne maior número de habilidades para governar. Ou seja, é a mais preparada. Foi um crescimento de 13 pontos, contra a queda de oito pontos de Serra (de 435% para 38%).

Em análise publicada na edição deste domingo, 29, da Folha de S. Paulo, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, respectivamente diretor-geral e diretor de pesquisas do Datafolha, mostram que Dilma “ampliou seu alcance a todos os segmentos sociais, tornou-se mais conhecida, cristalizou o vínculo com Lula e começa a transmitir, de acordo com os dados publicados hoje, que tem luz própria”.

Os autores vão mais longe afirmando que “a simpatia pela candidatura petista espraiou-se inclusive em redutos sagrados do tucanato, como o Estado de São Paulo, sua capital e os segmentos mais elitizados do eleitorado. E essa evolução, principalmente em território inimigo, dá-se mais pela imagem da criatura do que pela tutela de seu criador”.

“O saldo”, concluem os diretores do Datafolha, “é a percepção predominante, neste momento, de que a petista é a mais preparada para manter a estabilidade econômica, defender os pobres, combater a violência, cuidar da educação, combater o desemprego e até a mais simpática. Sobraram a Serra, até aqui, o alento de sua experiência política, o recall da área da saúde e a pecha de defensor dos ricos”.

Autocrítica de Montenegro

Há um ano o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, assegurava que o Presidente Lula não faria o sucessor, pois seria incapaz de transferir sua popularidade a “um poste”, como definiu a então Ministra Dilma Roussef. Bem, a realidade atropelou Montenegro, que agora faz, publicamente, sua autocrítica: “Por mais que ainda faltem 30 e poucos dias para a eleição, o Brasil já tem uma presidente. É Dilma Rousseff”, garante.
E, sobre sua “previsão” anterior, explica: Foi uma declaração extemporânea, descuidada e muito mais fundamentada num pensamento político do que com base em pesquisas. Peço desculpas. Na vida, às vezes, você se engana”.

Entrevistado pela revista ISTO É, Montenegro alinhou alguns fatores que, em sua opinião, vem provocando o contínuo e consistente crescimento de Dilma nas pesquisas: a transferência do prestígio de Lula, “que realmente vai sair como o melhor presidente do Brasil”, o fato de Dilma estar demonstrando “capacidade de gestão, equilíbrio, tranqüilidade e firmeza” e, portanto, “mais preparo que os adversários”. Mas, para Montenegro, o principal é que o “Brasil nunca viveu um momento tão bom. E as pessoas estão com medo de perder esse momento. O Plano Real acabou derrotando o Lula duas vezes. Mas o Lula, com o governo dele, sem querer ou por querer, acabou criando um plano que eu chamo de imperial. É o império do bem, em que cerca de 80% a 90% das pessoas pelo menos subiram um degrau. Por isso a população está de bem com a vida. Quer continuar esse bom momento. O Brasil quer Dilma presidente”.

Enquanto isso, a oposição debate-se com uma campanha “velha e antiga”, sem novidade. “O PSDB repete 2002 e 2006. Está transmitindo para o eleitor uma coisa envelhecida. Vejo um despreparo total. O PSDB está perdido”, arremata o presidente do Ibope.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O que é um tucano?

Emir Sader, em seu blog.

Avis rara, animal político com grave risco de extinção, o tucano se diferencia dos outros animais. Identifiquemos suas características, antes que seja tarde demais:

O tucano tem certeza que tem razão em tudo o que diz e faz.

O tucano lê a Folha de São Paulo cedinho e acredita em tudo o que lê.

O tucano nunca foi à América Latina, considera o continente uma área pré-capitalista e, portanto, pré-civilizatória.

O tucano considera a Bolívia uma espécie de aldeia de xavantes e a Venezuela uma Albânia.

O tucano nunca foi a Cuba, mas achou horrível.

O tucano foi a Buenos Aires (fazer compras com a patroa), mas considera a Argentina uma província européia.

O tucano considera FHC merecedor de Prêmios Nobel – da Paz, de Literatura, de física, de química, quaisquer.

O tucano considera o povo muito ingrato, ao não reconhecer o bem que os tucanos – com FHC à cabeça - fizeram e fazem pelo país.

A cada derrota acachapante, o tucano volta à carga da mesma maneira: ele tinha razão, o povo é que não o entendeu.

O tucano acha o povo malcheiroso.

O tucano considera que São Paulo (em particular os Jardins paulistanos) o auge da civilização, de onde deve se estender para as mais remotas regiões do país, para que o Brasil possa um dia ser considerado livre da barbárie.

O tucano mora nos Jardins ou ambiciona um dia morar lá.

O tucano é branco ou se considera branco.

O tucano compra Veja, mas não lê. (Ele já leu a Folha).

O tucano tem esperança de retomar o movimento Cansei!

O tucano tem saudades de 1932.

O tucano venera Washington Luis e odeia Getúlio Vargas.

O tucano só vai a cinema de shopping.

O tucano só vai a shopping.

O tucano freqüenta a Daslu, mesmo que seja por solidariedade às injustiças sofridas em função da ação da Justiça petista.

O tucano nem pronuncia o nome do Lula: fala Ele.

O tucano conhece o Nordeste pelas novelas da Globo.

O tucano dorme assistindo o programa do Jô.

O tucano acorda assistindo o Bom dia Brasil.

O tucano acha o Galvão Bueno a cara e a voz do Brasil.

O tucano recorta todos os artigos da página 2 da Folha para ler depois.

O tucano acha o Serra o melhor administrador do mundo.

O tucano acha Alckmin encantador.

O tucano tem ódio de Lula porque tem ódio do Brasil.

O tucano sempre acha que mereceria ter triunfado.

O tucano é mal humorado, nunca sorri e quando sorri – como diz The Economist sobre o candidato tucano - é assustador.

O tucano não tem espírito de humor. Também não tem motivos para achar graças das coisas. É um amargurado com o mundo e com as pessoas pelo que queria que o mundo fosse e não é.

O tucano considera a Barão de Limeira sua Meca.

O tucano acha o povo brasileiro preguiçoso. Acha que há milhões de “inimpregáveis” no Brasil.

O tucano acha a globalização “o novo Renascimento da humanidade”.

O tucano se acha.

O tucano pertence a uma minoria que acha que pode falar em nome da maioria.

O tucano é um corvo disfarçado de tucano.

A carta-testamento de Getúlio Vargas


Na madrugada de 24 de agosto de 1954, o Presidente Getúlio Vargas suicidou-se. A direita armara contra ele talvez a campanha política mais sórdida e espalhafatosa da história política do Brasil. Mas o septuagenário Presidente nunca deixou o coração dos brasileiros. Sua carta-testamento é das mais firmes e comoventes declarações de amor ao Brasil e aos brasileiros. Sua simples releitura vale para refletirmos, nesse 24 de agosto de 2010, sobre as encruzilhadas do nosso País, sobre os inimigos do povo e os desafios que precisamos vencer.

“24 de agosto de 1954"
“Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar.

Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.

Getúlio Vargas.

sábado, 21 de agosto de 2010

Lula e o povo: tudo a ver.


Na belíssima imagem captada por Ricardo Stuckert, fotógrafo da Presidência da República, a expressão cabal da simbiose entre Lula e o povo brasileiro. Qualquer palavra, aqui, é demasia.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um caso de Procon ou pior que isso?

Serra faz propaganda enganosa vendendo uma intimidade política e pessoal com o Presidente Lula que ele não tem. Guinadas sucessivas durante a campanha, às vezes num mesmo dia, não raro em intervalo de horas, já suscitam, até em aliados, a dúvida pertinente: afinal, o que é verdadeiro em José Serra? De dia, o arestoso tucano acusa o governo Lula de cercear a liberdade de expressão; à noite, o personagem esquivo adula o Presidente da República e esconde FHC, o mandatário a quem serviu durante oito anos. "Ingrata", diz em relação a adversária que, em raciocínio tortuoso, acusa de menosprezar a obra do governante eclipsado em sua própria campanha, cujo carro-chefe é não olhar o retrovisor. Seu jingle eleitoral falsifica a voz de cantora famosa; no rádio, falsifica a voz de Lula; a favela onde falsifica popularidade é uma simulação reveladora da visão higienista adotada quando esteve à frente do poder municipal e estadual. O candidato que incorpora Carlos Lacerda num dia, afirma ter sido elogiado por Brizola no outro; defende a liberdade de imprensa em discurso mas pede cabeças de jornalistas aos patrões pelo telefone. 'Democrático' em auto-elogio, implodiu a própria coligação na obsessiva rotina de centralização das decisões mais comezinhas. O presidenciável que se propunha a unir o Brasil, agora desqualifica conferencias nacionais da cidadania com a participação ecumênica de milhares de delegados de todo o país. Serra será apenas um caso de Procon, um oportunista desesperado? Ou um distúrbio de personalidade perigosamente aferrado à idéia de ser o onipotente governante do país?

Publicado no sítio Carta Maior

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O sentido histórico de uma candidatura (e de um programa)

Marco Aurélio Weissheimer

O primeiro programa de TV da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República calou fundo. E a emoção que despertou não foi resultado de um truque de marketing. A excelência técnica, neste caso, foi submissa ao sentido histórico da candidatura. Entregou-se por inteiro, de joelhos – a qualidade de imagem, de edição, de som, de roteiro –, para narrar um pedaço da história recente do Brasil e para apresentar uma importante personagem dessa história. A imagem de abertura é simples e poderosa: uma estrada, um veículo e somos convidados a seguir em frente com as nossas crenças, paixões e compromissos. Essa jornada, no programa, não é uma invenção aleatória, mas sim um trajeto muito bem situado historicamente. Tem passado, presente e futuro. E estabelece nexos entre eles.

Há vários detalhes que devem ser destacados. Nos programas vitoriosos de Lula, em 2002 e 2006, a ditadura militar não foi tema no debate eleitoral. Agora, aparece já no primeiro programa de Dilma. Por duas razões. Os adversários de Dilma querem usar contra ela seu passado na luta armada contra a ditadura militar, apresentando-a como uma “terrorista”. O expediente, explicitado didaticamente na capa da revista Época, já depõe contra o candidato José Serra que, supostamente, também foi perseguido pela ditadura militar. Se não foi supostamente, ou seja, se foi de fato, não deveria jamais autorizar esse tipo de argumento autoritário e aliado do fascismo que governou o país por aproximadamente duas décadas. Mas o tiro da Época saiu pela culatra e ajudou a consolidar, na figura pública de Dilma, uma dimensão histórica que não era desejada por seus adversários (não deveria ser ao menos). A capa da revista vai, entre outras coisas, inundar o país com milhares de camisetas como a fotografia de uma mulher que entregou-se de corpo e alma na luta em defesa da democracia. Então, ela não é apenas uma “gerentona linha dura”, sombra de Lula, sem história nem passado. A candidata não só tem passado, como o resgate desse passado parece incomodar o candidato Serra, ele também, supostamente, um resistente da ditadura.

Isso não é pouca coisa. Como tantos outros brasileiros e brasileiras valorosos, Dilma participou da resistência armada contra um regime criminoso que pisoteou a Constituição brasileira e depôs um presidente legitimamente eleito. E a palavra legitimidade adquire um sentido muito especial neste caso. A transição da ditadura para a democracia, como se sabe, ocorreu com muitos panos quentes e mediações. Muita coisa foi varrida para debaixo do tapete por exigência dos militares e seus aliados civis conservadores. E agora, uma filha da geração dos que lutaram contra a ditadura apresenta-se como candidata a disputar o posto mais alto da República. Mais ainda, como candidata a dar prosseguimento ao governo do presidente com a maior aprovação da história do país. Um presidente saído das fileiras do povo pobre, sindicalista, que também participou da luta contra o regime militar e ajudou a acelerar a transição para a democracia.

Dilma representa, portanto, a linha de continuidade de uma luta interrompida pelo golpe de 1964, retomada no processo de redemocratização e que hoje materializa-se em um governo com aproximadamente 75% de aprovação popular. Ela representa também a possibilidade de outras retomadas para fazer avançar a democracia brasileira. Em outras palavras, é uma candidatura com sentido histórico bem definido, um sentido que remonta a um período anterior inclusive ao golpe militar de 1964. Quando Dilma diz que olha o mundo com um olhar mineiro e que pensa o mundo com um pensamento gaúcho, não está fazendo um gracejo regionalista, mas sim retomando uma referência histórica que remonta à primeira metade do século XX e que, ainda hoje, causa calafrios nas elites econômicas e políticas de São Paulo. Essas são algumas das razões pelas quais o programa de Dilma calou fundo. Ele fala da história do Brasil, de algumas das lutas mais caras (na dupla acepção da palavra, querida e custosa) do povo brasileiro, de vitórias e derrotas. Isso transparece em suas palavras e em seu olhar. Há verdade aí, não invenção de propaganda eleitoral. Ela viveu aquilo tudo e tem hoje a oportunidade de conduzir o Brasil nesta jornada, na estrada que nos leva todos para o futuro.

Passado, presente e futuro não são categorias isoladas e aleatórias. Um não existe sem outro. São diferentes posições que assumimos nesta estrada que aparece no programa. É um programa que cala tão mais fundo quanto mais percebemos os elos de ligação nesta jornada e a oportunidade histórica que essa eleição oferece de religar alguns fios dessa trama que, em função de algumas doloridas derrotas, acabaram ficando soltos pelo caminho.

Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pesquisas esfarelam a candidatura de José Serra


Na véspera do início da propaganda eleitoral na televisão,nesta terça-feira (17), a unanimidade entre as pesquisas de opinião é o esfarelamento da candidatura do candidato da oposição, o tucano José Serra: todos eles mostram a queda persistente do apoio ao ex-governador de São Paulo, e o crescimento da preferência por Dilma Rousseff, a candidata das forças progressistas.

O instituto DataFolha, de propriedade da família Frias (dona da Folha de S. Paulo) foi retardatário no reconhecimento da dianteira de Dilma, mas divulgou na semana passada resultados avassaladores para a campanha tucana: 41% para a candidata da esquerda e 33% para seu adversário conservador. Uma diferença de oito pontos. Na simulação do segundo turno a situação é reafirmada e Dilma aparece com 49%, contra 41% para Serra. O instituto Sensus dá uma diferença maior: 41% para Dilma e 31% para Serra, uma distância de 10 pontos entre os dois candidatos.

Era de se esperar que isso acontecesse devido aos altos níveis de aprovação do governo Lula e do estado de espírito da população que muitos analistas descrevem como "sentir-se bem". A economia cresce, elevando os níveis de emprego, a renda do trabalhador e o consumo, uma conjunção de fatores que se reflete na percepção do eleitorado de que, usando uma imagem futebolística, em time que está ganhando não se mexe: Dilma representa a continuidade, e Serra o retrocesso neoliberal.

A tendência indicada pelos institutos de opinião permite algumas conclusões. Uma diz respeito à ilusão tucana a respeito dos chamados formadores de opinião. Seus sonhos foram naufragando ao longo dos últimos meses. Tentaram atrair Aécio Neves como vice de José Serra; perderam e não conquistaram sequer o entusiasmo do tucano mineiro, e o resultado é o pântano em que a candidatura da direita neoliberal vive em Minas Gerais, onde as pesquisas de opinião mostram Dilma com dez pontos percentuais à frente de José Serra.

Depois, imaginaram que o crescimento de Dilma seria lento, dando larga margem para a consolidação da candidatura de José Serra; isso não aconteceu e, na medida em que o nome de Dilma e sua postulação à Presidência da República foram ganhando público, sua aceitação foi sendo traduzida no crescimento revelado pelas pesquisas de opinião.

Apostaram também no diversionismo representado pela candidatura de Marina Silva, do PV, que tiraria o caráter plebiscitário da eleição presidencial e forçaria a comparação entre as pessoas dos candidatos, e não os programas que defendem e os governos a que serviram. A ilusão era de que o crescimento de Marina tiraria votos de Dilma Rousseff, levando a eleição para o segundo turno. Isso também não aconteceu e ela patina nos 10 pontos percentuais.

Outra ilusão tucana que vai virando pó é a crença no papel da classe média e da televisão como formadores de opinião. A perda de consistência desse papel já havia sido revelada pela eleição de 2006, e agora é ressaltada. O eleitorado brasileiro está em processo de amadurecimento e a velha hierarquia que colocava amplos setores populares a reboque da opinião das camadas "mais esclarecidas da população" (a classe média) vai sendo deixada para trás justamente pela presença de um governo focado em políticas sociais favoráveis aos mais pobres. E detestadas por aquelas camadas privilegiadas que, cada vez mais, são forçadas a se defrontar de igual para igual com seus subordinados, mesmo com a permanência da profunda desigualdade social e de renda.

Os oito anos de governo Lula foram marcados por um aprendizado democrático que o povo não despreza. São lições que vão roendo o prestígio dos antigos formadores de opinião e o povo ousa fazer sua própria experiência política, rejeitando a linguagem daqueles que falam de cima para baixo e escondem, em discursos "esclarecidos", seus próprios interesses na manutenção de uma ordem social que garante seus privilégios.

Vivendo nas redomas dos bairros "nobres", de setores das academias e das salas de comando das grandes empresas, os tucanos não perceberam a mudança que ocorreu entre o povo. Falam uma linguagem que o povo não entende e não aceita mais, a linguagem de José Serra para esconder seu verdadeiro programa, neoliberal, privatizante, antidemocrático e antinacional, que fica escamoteado pelo discurso “moralista” envelhecido e sem ressonância popular, passando uma imagem falsa em que o eleitor, com razão, não confia.

Pesquisas de opinião não decidem eleição. Elas não têm o significado legal dos números que saem das urnas, embora os dados atuais sejam muito favoráveis a Dilma Rousseff, indicando inclusive que a eleição pode ser decidida já no primeiro turno. Mas toda prudência é bem-vinda, sinalizada pelo próprio comando de campanha da candidata da esquerda, que recomenda o uso de mocassins, não de salto alto pois o caminho para o Palácio do Planalto vai sendo pavimentado, mas ainda é pedregoso e irregular.

Editorial de hoje, 17/08/2010, do sítio www.vermelho.org.br

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sinais da reviravolta

Se até o insuspeito autor desse artigo – Jânio de Freitas, colunista da “Folha de S. Paulo”, sistemático crítico de Lula – escreve o que se lerá a seguir, então a situação da candidatura Serra é mesmo calamitosa.


A coincidência dos programas de propaganda eleitoral, a se iniciarem nesta semana, com a ultrapassagem de Dilma Rousseff sobre José Serra agora constatada também pelo Datafolha, oferece duas deduções.

Quanto a Dilma, mais significativa do que a conquista da liderança, cedo ainda, a propaganda de TV e rádio é a oportunidade de forçar a continuidade do seu impulso atual e, com uns poucos pontos a mais, alcançar logo a indicação de vitória no primeiro turno.

Essa condição funciona, em geral, como atrativo de votos mais numerosos e mais protetores. É o que se dá, a esta altura, com Eduardo Campos e Sérgio Cabral, com suas crescentes possibilidades de vencer em Pernambuco e no Rio no primeiro turno.

Para Serra, fica evidente que está em sua última oportunidade, ou muito perto dela, de indicar ao eleitorado o motivo de sua candidatura. Que sentido tem, afinal? O que Serra pretendeu a ponto de deixar o governo de São Paulo para lançar-se na disputa pela Presidência?

Sob o peso da aprovação popular de Lula, o próprio Serra diz que não é candidato de oposição, e de fato não se mostra como tal. Adversário da candidata do governo, também não é governista. Logo, o que lhe sobra é uma fímbria pela qual introduzisse algo novo, uma perspectiva capaz de seduzir e convencer aspirações frustradas do eleitorado. Mas nem vislumbre de alguma ideia assim, até agora. Trata-se de uma candidatura que não se sabe o que representa nem o que pretende além de uma intenção pessoal.

As pequenas lantejoulas que revestem a candidatura de Serra, do tipo "vou duplicar o Bolsa Família" (sem ao menos explicar se em valor ou em beneficiados), ou "vou criar o Ministério da Segurança", "vou restabelecer os mutirões da saúde", e outros "vou" que não chegam a lugar algum, prestam-se a ampliar a impressão de vazio dada na improdutiva preferência de sua campanha pelos minúsculos corpo a corpo.

Ocupar-se tanto em criticar Dilma por estar "na garupa" de Lula? Serra e seus marqueteiros poderiam perceber que assim só confirmam o que é a principal bandeira de sua adversária. Façamos justiça: a candidatura de Dilma e seu êxito são produtos de Lula, como Gilberto Kassab foi de Serra, mas o PSDB e seu candidato não têm regateado facilidades e outras colaborações à candidata governista.

O horário eleitoral traz em ocasião oportuna um recurso que tanto pode ser decisivo para Dilma como para Serra. Os três minutos a mais no tempo da aliança petista não alteram a equivalência das oportunidades: em TV e em rádio, sete minutos - tempo de Serra - já são um arremedo de eternidade.

Oneroso, nesse item, é o minutinho de Marina Silva, cujo sucesso nas palestras não se reproduz em mais do que 10% dos eleitores pesquisados, mas talvez o fizesse, em boa parte, com maior tempo de TV. O horário gratuito segue a regra fundamental brasileira: mais renda concentrada em quem já a tem alta.

Para preencher o tempo até o início da nova fase de propaganda, uma boa especulação é a das causas da queda forte de Serra, quatro pontos em três semanas, e do grande ganho de Dilma, com os cinco pontos que a elevaram a 41 contra 33. O debate na Bandeirantes e as pequenas e ruins entrevistas na Globo não convencem como causa de tamanha reviravolta, até porque já insinuada, antes dos programas, em outras pesquisas.

Nelsinho Bonardi, o candidato dos trabalhadores


Nelson Bonardi, o Nelsinho, 65789, é o candidato que indico para a Assembléia Legislativa. E o faço com a convicção de quem conhece a vida, o trabalho e a proposta de Nelsinho, comprometido com o projeto liderado pelo Presidente Lula e, nas eleições deste ano, representado pela ex-ministra Dilma Roussef. Um projeto democrático e progressista de soberania nacional, valorização do trabalho, fortalecimento do Estado com vistas a garantir políticas sociais públicas contundentes, redução das desigualdades mediante um desenvolvimento econômico com inclusão social. Um projeto que, para seguir avançando, não depende apenas do governo, mas também do parlamento e da sociedade civil organizada em todos os níveis. Portanto, da eleição de deputados federais e estaduais com ele alinhados.

No Paraná, Nelsinho estará à frente desse projeto, em favor da melhoria das condições de vida e trabalho de nossa gente. Porque Nelsinho, como Lula, traz consigo a alma de trabalhador. Por mais de 20 anos derramou seu suor na indústria de papel Inpacel, em Arapoti, no Norte Pioneiro, onde foi presidente, por três mandatos, do Sindicato dos Papeleiros. É diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias (CNTI) e da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado do Paraná (Fetiep). Ajudou a fundar a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

A sede de cultura desse operário papeleiro e seu desejo de estar mais apto a enfrentar os desafios da vida levaram-no a estudar Direito na Universidade Oeste do Paraná (Unioeste), onde se formou em 2002, pós-graduando-se em seguida na Escola de Magistratura de Ponta Grossa. Uma trajetória de luta e superação que certamente prosseguirá na Assembléia Legislativa, onde Nelsinho pretende estar com a alma de trabalhador, defendendo a democracia, o desenvolvimento econômico com inclusão social e a valorização do trabalho.

Nelsinho Bonardi está fechado com Dilma Roussef para Presidente, Osmar Dias para Governador, Roberto Requião e Glesi Hofmann para o Senado e em muitas regiões dobra com Chico Brasileiro (6513) para Deputado Federal. É dessa gente que o Paraná e o Brasil precisam.

domingo, 15 de agosto de 2010

Estratégia de campanha de Serra deu 100% errado



Do blog "Nos bastidores do poder", de Josias de Souza

Todos os planos que José Serra traçara para sucessão de 2010 deram errado. Em consequência, o presidenciável tucano chega à fase do horário eleitoral gratuito, último estágio da campanha, em situação de absoluta desvantagem.

No pior cenário esboçado pelo tucanato, previa-se que Serra iria à propaganda de televisão empatado nas pesquisas com Dilma Rousseff. Deu-se algo mais dramático.

Todos os institutos acomodam Serra atrás de sua principal antagonista. No Datafolha, o fosso é de oito pontos. Vai abaixo um inventário dos equívocos que distanciaram a prancheta do comitê de Serra dos fatos:

1. Chapa puro-sangue: Serra estava convicto de que Aécio Neves aceitaria compor com ele uma chapa só de tucanos. Em privado, dizia que as negativas de Aécio não sobreviveriam a abril. Aceitaria a vice quando deixasse o governo de Minas. Erro.

2. PMDB: O tucanato tentou atrair o PMDB para a coligação de Serra. Nos subterrâneos, chegou-se a levar à mesa a posição de vice. Desde o início, a chance de acordo era vista como remota. Mas o PSDB fizera uma aposta: dividido, o PMDB não entregaria o seu tempo de TV a Dilma. Equívoco.

3. Ciro Gomes: O QG de Serra achava que Ciro levaria sua candidatura presidencial às últimas consequências. Numa fase em que Serra ainda frequentava as pesquisas com dianteira de cerca de 30 pontos, o tucanato idealizou um cenário de sonho.

Candidato, Ciro polarizaria com Dilma a disputa pelo segundo lugar, dividindo o eleitorado simpático ao governo. Mais um malogro.

4. Marina Silva: Serra empenhou-se para pôr de pé, no Rio, a aliança de seus apoiadores (PSDB, DEM e PPS) com o PV de Fernando Gabeira. Imaginou-se que, tonificado, Gabeira iria à disputa pelo governo fluminense com chances de êxito. E o palanque dele roubaria votos de Dilma para Serra e Marina.

Deu chabu. Empurrado por Lula, Cabral é, hoje, candidato a um triunfo de primeiro turno. A vantagem de Dilma cresce no Estado. E Marina subtrai votos de Serra.

5. Sul e Sudeste: O miolo da tática de Serra consistia em abrir boa frente sobre Dilma nessas duas regiões. Sob reserva, Luiz Gonzales, o marqueteiro de Serra, dizia: O Nordeste é importante, mas nossas cidadelas são o Sul e o Sudeste.

Acrescentava: Não podemos perder de muito Nordeste. E temos de ganhar muito bem no Sul e Sudeste. As duas premissas fizeram água. Ampliou-se a vantagem de Dilma no Nordeste. E ela já prevalece sobre Serra também no Sudeste.

Há 20 dias, Serra batia Dilma em São Paulo e era batido por ela no Rio. Em Minas, a situação era de equilíbrio. Hoje, informa o Datafolha, a vantagem de Dilma (41%) ampliou-se em dez pontos no Rio. Serra (25%) enxerga Marina (15%) no retrovisor.

Em Minas, Dilma saltou de 35% para 41%. E Serra deslizou de 38% para 34%. Em São Paulo, o tucano ainda lidera, mas sua vantagem sofreu uma erosão de sete pontos. Resta, por ora, a “cidadela” do Sul, insuficiente para compensar o Nordeste. Pior: Dilma fareja os calcanhares de Serra também nesse pedaço do mapa.

No Rio Grande do Sul, por exemplo, a vantagem de Serra caiu, em 20 dias, de 12 pontos para oito. No Paraná, encurtou-se de 15 pontos para sete.

6. Plebiscito: Lula urdira uma eleição baseada na comparação do governo dele com a era FHC. Serra e seu time de marketing deram de ombros. Como antídoto, decidiram promover um confronto de biografias: a de Serra contra a de Dilma.

Entre todos os equívocos, esse talvez tenha sido o mais crasso. Ignorou-se uma evidência. Do alto de sua popularidade lunar, Lula tornou-se o eixo da campanha. Tudo gira ao redor dele.

Lula transferiu votos para Dilma em proporção nunca antes vista na história desse país.

7. Debates e entrevistas: Em sua penúltima aposta, o grão-tucanato previra que Serra, por experiente, daria um baile em Dilma nos confrontos diretos. Não deu.

Reza a cartilha dos marqueteiros que, nesse tipo de embate, o candidato que vai bem não ganha votos. Porém, o contendor que dá vexame sujeita-se à perda de eleitores. Para o PSDB, o vexame de Dilma era certo como o nascer do Sol a cada manhã.

No primeiro debate, promovido pela TV Bandeirantes, o escorregão não veio. Na entrevista ao “Jornal Nacional”, também não. Serra houve-se bem nos dois eventos. Porém, ao esquivar-se do desastre, Dilma como que ombrou-se com ele.

8. Propaganda eletrônica: Começa nesta terça (17) a publicidade eleitoral no rádio e na TV. O comitê tucano vai à sua última aposta. No vídeo, insistir na exposição da biografia do candidato. Serra será vendido como gestor experiente.

Vai-se esgrimir a tese de que Serra –ex-secretário de Estado, ex-deputado, ex-senador, ministros duas vezes, ex-prefeito e ex-governador— está mais apto do que Dilma para continuar o que Lula fez de bom e avançar no que resta por fazer.

Até aqui, o discurso não colou. Na propaganda adversária, o próprio Lula se encarregará de dizer que a herdeira dele é Dilma, não Serra. A julgar pelas pesquisas, o eleitor parece mais propenso a dar crédito ao dono do testamento.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Fidel Castro, 84, volta à cena


O líder cubano Fidel Castro, um dos ícones do século XX, completa hoje 84 anos de vida. A comemoração não é apenas pelo aniversário, mas também pela saúde recuperada do Comandante e seu retorno à cena política cubana, surpreendendo os que o consideravam definitivamente aposentado, gagá e incapacitado para mais nada além da espera do fim, sem falar nos gusanos de Miami, que torciam como nunca por sua morte e, assim, pela morte da revolução cubana.

A rigor, Fidel nunca deixou a cena política de Cuba. Nem mesmo no período em que adoeceu gravemente, transferindo por isso a chefia do Estado e do Governo a Raúl Castro e retirando-se para um tratamento e uma convalescença que ocupou os quatro últimos anos. Esse recolhimento compulsório não evitou que Fidel recebesse personalidades e iniciasse a publicação de suas reflexões no Gramma. Ainda que à distância, sua imagem mítica pairou dia e noite sobre a Ilha.

A diferença é que agora o Comandante voltou à cena em pessoa. Subitamente reapareceu no Centro Nacional de Pesquisas Científicas, em sete de julho último. E não parou mais. Seguiram-se a visita ao Centro de Estudos da Economia Mundial, a participação num programa de TV, encontros com intelectuais, jovens comunistas e uma centena de embaixadores cubanos na sede da chancelaria e, ponto alto, sua participação numa sessão extraordinária do parlamento nacional. Vestindo a jaqueta verde-oliva, a das suas “mil batalhas”, discursou longamente sobre a ameaça de uma guerra nuclear que, não sendo evitada, fatalmente destruirá a Humanidade.

Fidel vem sendo das personalidades mundiais mais importantes nos últimos 50 anos. E seguirá assim, a julgar pela vitalidade, entusiasmo e discernimento que vem ostentando em sua militância mais recente. Um Fidel sempre altivo, insubmisso, inquieto e revolucionário. Um Fidel segundo o qual “se alguém não faz, o tempo todo, tudo aquilo que pode e até mais do que pode, é exatamente como se não fizesse absolutamente nada”. E ele faz.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

PCdoB está com Dilma, Osmar, Requião e Gleisi


Dilma, Osmar, Requião e Gleisi: esta é a chapa majoritária que o PCdoB apóia no Paraná, com a convicção de quem ajudou a construí-la e dela participa como partido coligado, apresentando candidatos à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal.

Sendo deliberação oficial, tomada em convenção, é obrigatória para todos os militantes, sem qualquer exceção. Aquele que, comprovadamente, descumprir tal deliberação fatalmente sofrerá averiguação pela Comissão de Controle do Comitê Estadual, o conselho de ética do partido, podendo sofrer as penalidades previstas no estatuto.

Somente aos não-militantes que apóiam candidatos proporcionais do partido, a fidelidade à chapa majoritária não será cobrada. O apoio desses eleitores é sempre bem-vindo, independentemente das razões pelas quais o fazem, de suas opções político-ideológicas, inclinações filosóficas ou crenças religiosas. Mas, em nenhum momento, isso afastará o PCdoB do seu programa político e da chapa majoritária a que se filia.

A candidatura de Beto Richa, embora se mostre sob roupagens de inovação, jovialidade e bom-mocismo, representa a velha direita neoliberal, predatória dos direitos sociais, devastadora do Estado, privativista e autoritária. É o palanque paranaense de José Serra.

Para o PCdoB, é preciso reconhecer quem é, onde está e como está o adversário principal no pleito de outubro, sob o risco de se perder no cenário político do Estado, quase sempre dissimulado. É também decisivo identificar as forças políticas interessadas (e capazes) de enfrentar com sucesso a tentativa da direita neoliberal de novamente assenhorar-se do Governo.

No Paraná, a coligação liderada pelo Senador Osmar Dias é a que mais suficientemente se apresenta para impor derrota à direita, uma derrota que certamente repercutirá em todo o País. Seu programa, produzido pela multiplicidade de forças que o apóiam, é de natureza democrática e progressista, capaz de manter o Paraná em sintonia com o projeto nacional do qual o PCdoB participa e quem tem o Presidente Lula à frente. E que, a partir de janeiro, estará sob o comando da Presidente Dilma Roussef.

sábado, 7 de agosto de 2010

O voto consciente em Chico Brasileiro


O voto em Chico Brasileiro para Deputado Federal expressa gesto consciente de quem reconhece a importância estratégica da formação de uma numerosa, firme, atuante e, se possível, majoritária bancada progressista no parlamento nacional. Bancada que contenha a resistência conservadora ao avanço social e político e, ao mesmo tempo, poupe a futura Presidente Dilma Roussef das concessões – muitas delas importantes – a que se vê forçado um governo sem maioria parlamentar.

Chico Brasileiro integrará essa bancada federal progressista com a irrepreensível credencial de seus quase 30 anos de luta em defesa dos interesses do povo. Uma jornada que começou ainda em sua adolescência, junto com os bispos progressistas da Igreja Católica do Nordeste, e seguiu ao longo de extensa militância no único partido em que atuou, o PCdoB.

Paraibano de Piancó, no sertão nordestino, dentista formado em 1990 pela Universidade Estadual de Campina Grande, na Paraíba, Chico instalou-se, nesse mesmo ano em Foz do Iguaçu. Tornou-se profissional de mérito, vereador por duas legislaturas, secretário municipal de saúde e administração e vice-prefeito nas duas gestões de Paulo MacDonald Ghisi. Atuou larga e intensamente no movimento social, destacando-se na luta em defesa do SUS e em favor da causa palestina. Construiu, ao longo de todos esses anos, reputação de honestidade, competência técnica e forte compromisso com os trabalhadores e o povo.

O compromisso político de Chico Brasileiro é o do seu partido, ou seja, somar-se às demais forças progressistas em favor de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPND). Um projeto antiimperialista que se oponha ao latifúndio e à oligarquia financeira e suplante a fase neoliberal brasileira, de culminância do capital rentista e parasitário. Suas iniciativas incluem a luta pela soberania e defesa da Nação, a democratização da sociedade, o progresso social e a integração solidária da América Latina.

Com base pressupostos do NPND, Chico Brasileiro pautará sua atuação parlamentar pela construção de uma nação democrática, próspera e solidária, organizada num Estado democrático e inovador de suas instituições, pelo desenvolvimento tecnológico do Brasil, avançado na indústria do conhecimento e grande produtor de alimentos e energia, pela universalização dos direitos básicos, pelo desenvolvimento contínuo e ambientalmente sustentável, pela afirmação e florescimento da cultura brasileira e da consciência nacional, pelo aprofundamento e consolidação da integração da América do Sul e das parcerias estratégicas em âmbito mundial.

É assim que Chico Brasileiro se apresenta. O fundamento de sua postulação é a do mandato ético de quem pretende não alimentar carreira, mas integrar o parlamento tendo-o como instrumento em favor da luta do povo brasileiro pela vida que merece numa das mais ricas e promissoras nações do mundo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Continuar é seguir transformando


Dilma Roussef

Nos próximos meses, o povo brasileiro viverá mais um momento extraordinário de sua história. Quando for às urnas eleger o sucessor ou a sucessora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em outubro, o Brasil terá a possibilidade de decidir se manterá a rota virtuosa traçada nos últimos anos ou se vai pôr um freio às recentes conquistas de natureza social e econômica; se promoverá o salto ainda maior, desejado por uma população que voltou a sonhar alto, ou retrocederá ao ritmo da estagnação das duas décadas anteriores; se, enfim, dará continuidade ao projeto iniciado pelo atual governo ou embarcará de volta rumo a um outro projeto, com um outro grupo a comandar os rumos da Nação.

[Leia o artigo completo no sítio da Fundação Maurício Grabois - www.grabois.org.br]

Serra faz campanha em Washington?

MARK WEISBROT

Incrível! A Folha de S. Paulo publicou artigo que merece constar desse blog. Não conheço o autor, mas o que afirma é pertinente. [LM]

O que José Serra está tentando fazer? Em sua campanha pela Presidência do Brasil, ele acusou a Bolívia de cumplicidade no tráfico de drogas e criticou Lula por tentar mediar a disputa entre Washington e o Irã, e por recusar (em companhia da maioria dos demais países sul-americanos) reconhecimento ao governo de Honduras, "eleito" sob uma ditadura.

Por algum tempo ele optou por não aderir à campanha internacional de Washington contra a Venezuela, mas agora Serra e seu candidato a vice, Indio da Costa, também adentraram aquele pútrido pântano, alegando que a Venezuela "abriga" as Farc (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas), o principal grupo guerrilheiro que combate o governo da Colômbia.

Que conste: a despeito de uma década de alegações, Washington ainda não conseguiu apresentar publicamente um traço de prova de que o governo de Chávez de fato apoie as Farc. A única "prova" de que existe em domínio público vem de laptops e outros equipamentos de computação supostamente capturados pelas Forças Armadas colombianas em sua incursão ao território do Equador em março de 2008.

Blogueiros de direita como Reinaldo Azevedo repetem o mito de mídia de que a Interpol teria confirmado a autenticidade desses arquivos supostamente capturados, mas um relatório da Interpol nega enfaticamente essa possibilidade. Tudo que temos é a palavra das Forças Armadas colombianas -organização que sabidamente assassinou centenas de adolescentes inocentes e os vestiu como guerrilheiros.

Será que Serra realmente deseja que o Brasil compre brigas com todos os seus vizinhos a fim de se colocar desafiadoramente do lado errado da história? E isso apenas para se tornar o maior aliado direitista de Washington? Sim, caso Serra não tenha percebido, os Estados Unidos, sob o governo Obama como sob o governo Bush, só têm governos de direita como aliados no hemisfério: Canadá, Panamá, Colômbia, Chile, México. Existe um motivo para isso: a política norte-americana com relação à América Latina não mudou sob Obama.

Mesmo de um ponto de vista puramente maquiavélico -deixando de lado qualquer ideia de fazer da região ou do mundo um lugar melhor-, a estratégia "Serra Palin" faz pouco sentido. O Brasil tinha boas relações com Bush e pode ter boas relações com Obama sem incorrer nessa espécie desonrosa de servidão.

O Brasil não é El Salvador, país cujo governo vive sob chantagem por ameaças de enviar de volta ao seu território os milhares de emigrantes salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos. E nem El Salvador tomou a estrada que Serra está percorrendo.
Não é apenas na Venezuela e na Bolívia que os Estados Unidos investem dezenas de milhões de dólares para adquirir influência política. Em 2005, como reportou este jornal, os Estados Unidos bancaram um esforço para mudar a lei brasileira de maneira a reforçar a oposição ao Partido dos Trabalhadores.

Washington tem grande interesse no resultado da eleição deste ano porque procura reverter as mudanças que tornaram a América Latina, no passado o "quintal" dos Estados Unidos, mais independente que nunca em sua história. José Serra está fazendo com que esse interesse cresça a cada dia.

Insônia tucana: dias de fúria, noites de assombração



Dilma tem 41,6% das intenções de voto conforme a última CNT/Sensus; juntos, os demais candidatos somam 44,5%. Mantida essa correlação, o pleito vai para segundo turno. Ocorre que 5% dos eleitores declararam voto em Lula na mesma sondagem. Se o horário gratuito transferir três pontos desse universo de convictos eleitores lulistas para Dilma, o pleito se define no primeiro turno.

***

As pesquisas expressam a crescente dificuldade de posicionamento da candidatura Serra. Com um discurso errático, que ora pega carona nas realizações do governo Lula, ora situa-se no terreno da extrema-direita, a campanha tucana oscila sem rumo. Num dia diz que vai duplicar o Bolsa Família, noutro critica a política de gastos do governo Lula, noutro ataca o Mercosul, a Bolívia e procura vincular a candidata do PT à guerrilha colombiana.

[Do sítio www.agenciacartamaior.com.br]

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Contestado - Restos Mortais"


Trinta e nove anos depois de lançar o premiado “Guerra dos Pelados”, o cineasta Sylvio Back volta ao tema da mais importante guerra civil brasileira que, entre 1912 e 1916, conflagrou o Oeste do Paraná e Santa Catarina. O documentário “Contestado – Restos Mortais”, que leva Back a concorrer ao Kikito no Festival de Cinema de Gramado deste ano, é classificado pelo cineasta como um “docudrama”, mescla de ficção e documento. Em suas mais de duas horas de duração, o filme mostra depoimentos de filhos de rebelados do Contestado, entrevistas com historiadores e a percepção de 30 médiuns que Back coloca na cena do confronto para “ouvir” a história oculta, invisível da guerra. “A presença dos médiuns”, explica o cineasta, “é o elemento-chave para dotar o discurso audiovisual de uma vertente incomum no gênero documentário”.

Catarinense de Blumenau, onde nasceu há 73 anos, foi durante as três décadas que viveu em Curitiba que estruturou a maior parte de sua vasta obra de 37 curtas-metragem e 11 longas, entre as quais “Aleluia Gretchen” (1976), “Revolução de 30” (1980), “República Guarani” (1982), “Guerra do Brasil” (1987), “Rádio Auriverde (1991), “Cruz e Souza, o poeta do Desterro” (1999), “Lost Zweig” (2003) e agora a revisita em “Contestado – Restos Mortais”. Há 24 anos Back reside no Rio de Janeiro.

A revolta camponesa foi massacrada após 13 expedições militares e de três a cinco mil mortos e outros milhares de feridos e mutilados. “Consegui formatar uma narrativa única e inimitável, onde vou ao âmago de uma história insepulta que o Brasil precisa homenagear com as merecidas exéquias mortais”, diz o cineasta que, logo após o festival de Gramado, lançará “Contestado – Restos Mortais” no circuito nacional, a partir de Florianópolis. Em setembro iniciará novo projeto: o documentário “O Universo Graciliano”, sobre a vida, obra e morte do grande romancista alagoano.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mais individualismo, menos cultura

“O imediatismo, o comportamento hedonista e egoísta gerado pelo neoliberalismo distancia as pessoas de práticas culturais. Precisamos restabelecer o sentido da utopia. Quanto mais imediato é o nosso horizonte, menos nos desenvolvemos, menos avançamos. E o desenvolvimento cultural depende de um comportamento mais reflexivo”.

Célio Turino, ex-secretário Nacional de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O equívoco e a boa notícia

Ao registrar no blog, no domingo, a chapa em que votarei em outubro, de presidente a deputado estadual, o nome do senador Osmar Dias para o Governo do Paraná saiu desalinhado e sem o destaque do negrito com que contemplei os demais. Bastou para que e-mails e telefonemas registrassem a dissintonia, alguns entendendo algo de subliminar no fato, como se eu conferisse ao candidato do PDT um valor menor que os outros.

Nada disso. Foi equívoco de neófito nessas ferramentas da blogosfera. Não sou de mandar mensagens subliminares e seria um tonto se, no cenário eleitoral do Paraná, não apoiasse Osmar Dias. Corrigi o equívoco.

Do fato restou, além do valor da vigilância coletiva, a satisfação de perceber o alcance do blog, já no dia seguinte ao do seu lançamento. Fiquei ainda mais animado.

Coincidentemente, vinha pensando em postar um texto a respeito da candidatura de Osmar Dias ao governo paranaense, à frente de uma coligação da qual participam PMDB, PT, PCdoB, entre outros. Farei isso o mais breve possível (estou em Florianópolis a trabalho). Há quem não consiga entender o processo político para além das suas contrações hepáticas e – não poucos – dos seus preconceitos e birras.

domingo, 1 de agosto de 2010

O que estará em jogo em três de outubro

As eleições presidenciais de outubro definirão o mais essencial para Brasil da atualidade. Nas palavras do sociólogo Emir Sader, definirão “se o governo Lula é um parêntese, com o retorno das coalizões tradicionais que governaram o Brasil ao longo do tempo, ou se é uma alavanca para, definitivamente, sair do modelo neoliberal e construir uma sociedade justa, solidária, democrática e soberana”.

São, portanto, dois projetos antagônicos que se enfrentam. José Serra representa um deles, de direita, intrinsecamente neoliberal. Dilma Roussef representa o outro, de continuidade e aprofundamento do Governo Lula, que congrega a esquerda. Há quem, apressadamente, questione a permanência desses conceitos – esquerda e direita – nos tempos atuais. Penso que ambos se mantêm, embora com alterações de forma e conteúdo por serem historicamente determinados. Mas essa é outra discussão.

O jogo de outubro, portanto, está além de meramente cotejar os atributos pessoais dos candidatos. Essa é uma leitura superficial do cenário eleitoral deste ano.

Aos que se alinham à construção de um Brasil democrático, justo, soberano, moderno, a vitória de Dilma Roussef é fundamental. O Governo Lula, apesar de suas limitações, desencadeou um processo de mudanças estruturais de grande repercussão para o povo brasileiro e o Brasil enquanto nação. Nesse contexto de transformações destacam-se o fortalecimento do papel do Estado como indutor do desenvolvimento, a reinserção internacional soberana do País, as amplas e intensas políticas sociais e um acelerado crescimento econômico vinculado à distribuição de renda. Mas demandam continuidade para se consolidarem e se internalizarem na vida nacional. Este é o sentido mais essencial da candidatura de Dilma Roussef.

Sua vitória, no entanto, estará incompleta se não contar com uma sólida maioria parlamentar progressista, de tal modo que o novo governo não venha a sofrer obstáculos conservadores ou depender de negociações tortuosas, muitas vezes à custa de concessões importantes.

Eis o que verdadeiramente está em jogo em três de outubro. E em torno dessa equação é que se deverá debater na campanha eleitoral.

Aproveito para apresentar a você, caro leitor, a minha chapa:

Presidente: Dilma Roussef.
Governador: Osmar Dias.
Senadores: Roberto Requião e Gleisi Hoffmann.
Deputado Federal: Chico Brasileiro, 6513.
Deputado Estadual: Nelson Bonardi(Nelsinho, 65789.

Mais para a frente apresentarei com maiores detalhes o Chico Brasileiro e o Nelsinho.