domingo, 27 de fevereiro de 2011

Lucro privado e interesse público: nada a ver.

O sítio Carta Maior publica hoje interessante comentário sobre os lucros nos processos de privatização no Brasil. Estabelece, até didaticamente, as diferenças entre os lucros da privatizada Vale do Rio Doce e da estatal Pegtrobrás, ambos fabulosos. Reproduzo, a seguir, o breve comentário, a meu ver utilíssimo para demonstrar, mesmo que num só exemplo, como as privatizações dos setores essenciais da econômia brasileira atenderam sobretudo aos interesses do grande capital privado.


Defensores da privatização sempre argumentaram que, uma vez vendidas, as estatais prestariam contas aos mercados, o que por definição as tornaria mais eficientes, honestas, antiácidas e belas, propiciando ganhos a acionistas, empregados e consumidores. A troca parecia barata e bacana. No Brasil, o exemplo arrematado das virtudes privadas seria a Vale do Rio Doce, que esta semana lustrou prognósticos dourados ao informar o maior lucro da história das mineradoras em todo o mundo: R$ 30 bilhões, limpinhos, em 2010.

A euforia durou menos de 24 horas. Antes que as manchetes comemorativas envelhecessem, a Petrobrás - que também tem ações no mercado, mas é controlada pelo Estado brasileiro - veio divulgar que o seu lucro em 2010 foi um pouco maior: de R$ 35 bilhões. Com algumas notáveis diferenças. O plano de investimentos da petroleira, em processo de revisão, o que poderá ampliá-lo-- prevê inversões de US$ 224 bilhões de dólares até 2014. Por ser predominantemente pública, a empresa deu ao país a maior descoberta de petróleo do planeta dos últimos 30 anos. A exploração soberana das reservas do pré-sal --com agregação de valor local e formidável demanda por equipamentos - figura como o maior impulso industrializante da história econômica brasileira.

O que seria do pré-sal se a Petrobrás tivesse se transformado numa Vale do Rio Doce do petróleo? Vejamos: a mineradora vai distribuir US$ 4 bi em dividendos aos acionistas este ano. Mas se recusa a investir 5% do lucro líquido, US$ 1,5 bi, em uma unidade produtora de trilhos no Brasil. Para atender ao imediatismo dos mercados, prefere intensificar o embarque de minério bruto à China, de onde importamos trilhos para a expansão ferroviária brasileira. O círculo virtuoso, como se vê, tem um raio mais estreito do que apregoavam os tucanos para justificar a venda da empresa em 1997, por apenas R$ 3 bi --dez vezes menos do que o lucro obtido agora

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A emergência das ruas no xadrez do Oriente Médio


Egito, Tunísia, Líbia, Iêmen, Bahrein: o Oriente Médio está em chamas. Nas ruas, multidões acossam as ditaduras financiadas pelos Estados Unidos. Interessante o texto a seguir, do sítio Carta Maior.


Enquanto tenta por todos os meios, inclusive mas não apenas pelo Twiter, semear um levante popular no Irã, em contrapeso à derrocada do ditador amigo, Hosni Mubarak, no Egito, o Departamento de Estado norte-americano vê balançar outra peça da coleção de déspotas e tiranias amigas no Oriente Médio. As luzes da mídia conservadora estão sendo obrigadas a descascar um novo porco-espinho de direitos humanos e direitos democráticos chamado Bahrein.

O arquipélago estrategicamernte localizado no Golfo Pérsico, a leste da Arábia Saudita, tem um primeiro-ministro, xeque Khalifa bin Salman Al Khalifa, que está no cargo há apenas 40 anos e não permite vida partidária, nem legislativa. Na verdade, o rei Hamad bin Isa Al Khalifa não dá um piu no seu reino sem consultar o comando da 5º Frota, que faz do Bahrein uma das mais importantes cabeças-de-ponte do controle norte-americano sobre o fluxo de petróleo na região. Não por acaso, em 2008, George Bush, em visita ao rei, ou à 5º Frota, tanto faz, classificou o lugar, digamos assim, como o mais importante aliado militar dos EUA fora da OTAN.

Nas manifestações democráticas dos últimos dias, o regime do 'mais importante aliado' já matou três opositores e feriu centenas de outros. A ver

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Neoliberais de volta ao Planalto?

Recentes medidas do governo sugerem que a influência neoliberal – leia-se Antônio Palocci & Cia – readquire força no Palácio do Planalto. O artigo a seguir, do jornalista Altamiro Borges, em seu blog, mostra como são fundadas as preocupações com um possível retrocesso.

A decisão da presidenta Dilma Rousseff de promover um corte cirúrgico de 50 bilhões no Orçamento da União confirma que os tecnocratas neoliberais estão com a bola toda no início do novo governo. Eles já bombardearam a proposta de aumento real do salário mínimo, aplaudiram a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros e, agora, festejam os cortes nos gastos púbicos. Tudo bem ao gosto das elites rentistas e para delírio da mídia do capital, que agora decidiu bajular a nova presidenta.

Na justificativa para o corte dos gastos, o ministro Guido Mantega, tão duro contra o sindicalismo na questão do salário mínimo, mostrou-se dócil diante do “deus-mercado”. Sem meias palavras, ele afirmou: “Nós estaremos revertendo todos os estímulos que fizemos para a economia brasileira entre 2009 e 2010... Nós já estamos retirando esses incentivos e agora falta uma parte deles que estão sendo retirados do Orçamento de 2011, que são os gastos públicos, que ajudaram a estimular a demanda”.

Um triste regresso ao “malocismo”?

Numa linguagem empolada, típica de quem esconde as maldades, Mantega argumentou que “este ajuste, esta consolidação fiscal, possibilitará que nós alcancemos o superávit primário” – outro termo que causa orgasmos nos banqueiros e rentistas. A União, explicou o ministro, já teria reservado “quase R$ 81,8 bilhões” somente para o pagamento dos juros – isto é, o dobro dos investimentos orçamentários destinados ao Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC (de R$ 40,15 bilhões).

Na prática, as decisões recentes do governo parecem indicar um triste regresso ao “malocismo” – uma mistura de Pedro Malan, czar da economia no reinado de FHC, e Antonio Palocci, czar da economia no primeiro mandato de Lula. Os seus efeitos poderão ser dramáticos, inclusive para a popularidade da presidenta Dilma. De imediato, as medidas de elevação dos juros e redução dos investimentos representam um freio no crescimento da economia e, conseqüentemente, na geração de emprego e renda.

Suspensão de concursos e outras maldades

Além de reduzir o papel do Estado como indutor do crescimento, o corte drástico de R$ 50 bilhões no Orçamento da União terá impacto nos serviços públicos prestados à população. O governo já anunciou a suspensão dos concursos para a contratação de novos funcionários e protelou a nomeação de 40 mil servidores aprovados em seleções anteriores. Para Maria Thereza Sombra, diretora da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursados, estas medidas levarão ao “estrangulamento da máquina”.

Empolgado com a retomada de alguns dogmas neoliberais, O Globo diariamente dá manchete às medidas de “ajuste fiscal” do ministro Mantega. Na edição de 10 de fevereiro, o jornal festejou: “O corte de R$ 50 bilhões nas despesas do Orçamento de 2011 deixará alguns ministérios a pão e água”. No estratégico Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo, o corte previsto é de R$ 1,3 bilhão. Até o sistema de vigilância ambiental, alardeado após a tragédia carioca das chuvas, corre sério risco de ser enterrado.

A ditadura do capital financeiro

Como se observa, as perspectivas no início do governo da presidenta Dilma Rousseff são preocupantes. Ainda é cedo para se fazer qualquer avaliação mais conclusiva, taxativa. Mas há indícios de que as velhas teses ortodoxas voltaram a ganhar força no Palácio do Planalto, sob o comando do todo-poderoso ministro Antonio Palocci. Na prática, a opção por retomar a desgastada ortodoxia neoliberal, com aumento dos juros e cortes dos investimentos, evidencia a força da ditadura financeira no Brasil.

Esta opção, porém, não tem nada de racional sob o ponto de vista dos trabalhadores. Foram exatamente as medidas heterodoxas de estímulo ao mercado interno, adotadas no segundo mandado de Lula, que evitaram que o país afundasse na crise mundial que abala o capitalismo desde 2008. Nas eleições de 2010, o povo votou na continuidade e no avanço daquele modelo econômico de desenvolvimento e não na regressão à ortodoxia neoliberal.