quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Abaixo as ilusões!

Diante do que considera a "ilusão da eleição decidida", Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, alerta, no texto a seguir: "A eleição decisiva do segundo turno não está ganha". Para o dirigente comunista, "temos que ir para as ruas, falar com o povo de várias formas. Buscar aliados e ampliar nossa frente".

Ganhamos as eleições presidenciais no primeiro turno. Dilma Rousseff alcançou o primeiro lugar amplamente e sua coligação conquistou em torno de 70% do Congresso Nacional.

Conquista inédita. O erro maior cometido antes de 3 de outubro foi a ilusão de que a “eleição já estava decidida” . Auto-suficiência e ilusão nos afastaram do curso concreto da disputa eleitoral. O comando da Campanha mostrou uma atitude burocrática. Nada nos iria atingir e impedir o caminho célere da vitória. Distante da realidade não soube responder aos ataques de várias formas que estavam minando a figura da nossa candidata, desviando o debate das questões programáticas e das conquistas do governo Lula tão amplamente respaldada pela população. Contribuímos para isso, porque nem mesmo o programa de governo -- como sempre se fez -- acabou sendo divulgado.

O segundo turno iniciou-se sob a ofensiva da oposição. Caiu-se na real abruptamente. E bastaram 15 dias de campanha, quando surge pesquisa momentânea que indica crescimento da nossa candidata, para ressurgir a ilusão de “eleição decidida”. Parece que estamos sob a influência de uma concepção idealista, auto-suficiente, faltando simplicidade para compreender a realidade que nos cerca. A eleição decisiva do segundo turno não está ganha!

Essa campanha presidencial vem demonstrando que essa gente – a oposição demo-tucana, a grande mídia, a elite conservadora e cassandras de ocasião– não estão aí para fazer campanha de alto nível, comparar programas, para que o povo soberanamente possa escolher. Eles estão decididos a barrar a qualquer custo a continuação do projeto democrático e popular iniciado por Lula e a voltar ao centro do poder nacional. Agem pelos meios oficiais e através de movimentos subterrâneos. Além de ampla estrutura na internet com o intuito de difamar a figura da candidata, uma massa enorme de panfletos que estão sendo produzidos para atingir a imagem de Dilma, montaram gigantesco esquema de telemarketing para essa fase final da campanha. Está em curso um movimento orquestrado por eles, com ressonância em poderosos meios de comunicação, para propagar a desconfiança, o medo e o terror em várias camadas da população contra a candidatura de Dilma Rousseff.

Para alcançar seus intentos esta vasta campanha oficial e subterrânea da oposição visa desacreditar e satanizar a imagem da candidata apresentada por Lula, e afastar do centro do debate os destinos da nossa grande nação, a comparação de governos, os caminhos percorridos e a percorrer, e que programa pode continuar e avançar as mudanças abertas pelo governo Lula.

Não é o resultado circunstancial de uma pesquisa que define probabilidades relativas, que deve nos induzir ao que fazer. Como atua e o que faz nosso adversário, sua atividade aberta e camuflada, sua mensagem enganosa é que deve ser enfrentada. A mentira e o medo não podem prevalecer. Temos uma responsabilidade histórica perante a nação. Temos melhores condições do que eles para vencer: um governo apoiado por extensa maioria do povo, um programa consistente e vitorioso e um amplo apoio político e social. A luta deve ser decidida no terreno político, com explicação nítida e comparativa de projetos e denúncias perante o povo do jogo sujo perpetrado pela oposição e a elite conservadora desesperada. Portanto, é na luta política. Temos que ir para as ruas, falar com o povo de várias formas. Buscar aliados e ampliar nossa frente. Novas investidas da parte deles podem surgir. Vamos ganhar essa importante guerra política na luta até terminar a apuração no dia 31 de outubro. Abaixo as ilusões!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

“A morte da alma nacional”

O jornalista Aloysio Biondi (1936/2000), voz competente e consistente em defesa do Brasil, autor de um minucioso inventário da privataria neoliberal (o livro Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado), publicou na revista Bundas, em agosto de 1999, o artigo A morte da alma nacional.

Revisitado, por esses dias, pelo sítio Carta Maior, que lhe dedica uma série, o artigo é de oportuna releitura nesses dias em que o Brasil defronta-se com uma equação dramática, devendo decidir, no próximo 31, no contexto de dois projetos antagônicos que se confrontam, qual o caminho que escolherá.

Biondi inicia seu texto com uma frase de Celso Furtado: “Nunca estivemos tão longe do país com que sonhamos um dia”. Eram os anos FHC quando o jornalista produziu sua reflexão e o grande economista brasileiro desabafou seu amargor.

Biondi faz uma breve retrospectiva da história recente do País, coberta por crises de todos os tipos, para indicar que, diante de cada uma dessas crises, algumas severas, outras muito severas, havia uma contrapartida poderosa a robustecer o alento dos brasileiros.“Havia um povo que sonhava virar Povo”, escreveu, “e estudantes, intelectuais, empresários, trabalhadores, agricultores, classe média envolvidos no debate pelo desenvolvimento, conscientes, todos, de que havia um preço a pagar, resistências a enfrentar. Inimigos, interesses externos a vencer. Um país com alma, sonhos”.

Nos anos 90, entretanto, a situação mudou. Sem meias palavras Biondi dedica parte do seu texto para mostrar como a alma nacional estava maculada naquela década maldita e como, em sua opinião, os brasileiros da época deveriam se comportar. O artigo é antológico. Nada melhor que reproduzir, ipsis litteris, por sua inteira pertinência à atualidade brasileira, seus quatro últimos parágrafos.

Em cinco anos, o governo Fernando Henrique Cardoso não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Para isso, e com a ajuda dos meios de comunicação, jogou o consumidor contra os empresários nacionais, “esses aproveitadores”; o contribuinte contra os funcionários públicos, “esses marajás”; o pobre contra os agricultores, “esses caloteiros”; a opinião pública contra os aposentados, ”esses vagabundos”.


No governo FHC, o brasileiro foi levado a esquecer que, em qualquer país do mundo, a sociedade só pode funcionar com base em objetivos que atendam aos interesses, necessidades de todos – ou, mais claramente, não se pode por exemplo ter uma política de importação indiscriminada, a pretexto de beneficiar o consumidor, sem provocar desemprego e quebra de empresas. Ou, a longo prazo, desemprego generalizado.


Com o jogo perverso de estimular a busca de pretensas vantagens individuais, o governo FHC destruiu a busca de objetivos coletivos. Destruiu a Alma Nacional, o Projeto Nacional. A violenta desnacionalização sofrida pelo Brasil, em sua economia, vai eternizar a remessa de lucros, dividendos, juros para o exterior. Isto é, vai torná-lo totalmente dependente da boa vontade dos governos de países ricos em fornecer dólares e, portanto, de ordens e autorizações desses governos de países ricos. Uma espécie de colônia, mesmo, como alertou o economista Celso Furtado em palestra que ele encerrou com sua frase, arrasadora para quem viveu o Brasil de 50 para cá, “nunca estivemos tão distante do Brasil com que um dia sonhamos”.


Mesmo sem tê-lo consultado a respeito, uma sugestão: escreva a frase de Furtado em um pedaço de papel, e a releia todos os dias. Ou faça decalques com ela. Sugira que seus amigos façam o mesmo.


E comece a agir. Ainda há tempo de ressuscitar a Alma Nacional, antes que o Brasil vire colônia.

Atualizemos a frase do mestre Celso Furtado: de 2003 para cá nunca tivemos tão perto do País com que sonhamos um dia. Há, em nosso horizonte próximo, um amanhã, um destino a perseguir. A alma nacional foi resgatada por um Brasil que colocou um metalúrgico do Palácio do Planalto. Não deixemos que se consuma – tampouco as conquistas que nos redimem e aproximam do amanhã que voltou a povoar os nossos sonhos – na voracidade genocida do neoliberalismo que pretende retomar as rédeas do País.

Repito aqui um bordão do ex-governador e senador eleito pelo Paraná, Roberto Requião: voltar atrás, nunca mais! E essa conclamação patriótica tem nome e número: Dilma Roussef, 13.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Segundo turno, luta de sentido histórico

Editorial do sítio vermelho.org.br

A eleição presidencial será decidida no segundo turno no dia 31 de outubro. Com alto índice de participação popular, foram computados mais de 111 milhões de votos válidos. Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, obteve 46,91% , José Serra, do PSDB, 32,61% e Marina Silva, do PV, 19,33%. Outros candidatos somados pontuaram pouco mais de 1%.

O resultado não surpreende, porquanto nos últimos dias da campanha foram detectados sinais de leve erosão nas intenções de voto em Dilma e de crescimento de Serra e Marina, sobretudo desta última. E não foge ao padrão das duas eleições anteriores, em que Lula teve que passar pela prova do segundo turno para eleger-se (2002) e reeleger-se (2006).

Obviamente, o resultado contraria as expectativas das forças democráticas e populares, cuja palavra de ordem era vencer já no primeiro turno.

A superioridade de Dilma Rousseff, de mais de 14 pontos percentuais sobre seu adversário, corresponde à ampla base de apoio popular de sua candidatura e é uma clara expressão da existência de uma maioria em favor da continuidade das mudanças iniciadas no Brasil a partir de 2003. Tem plenas condições de no segundo se transformar em maioria absoluta e conferir ao novo governo o necessário apoio à realização de seu programa democrático e patriótico.

As forças progressistas e do movimento popular engajadas na campanha de Dilma vão enfrentar o segundo turno, como disse a candidata, com garra e energia.

Nas próximas semanas será necessário intensificar o debate político e a mobilização popular. Não se ganha eleição antecipadamente, apenas através do monitoramento das pesquisas e do bom manejo das técnicas de “marketing político”. Uma batalha política da envergadura de uma eleição presidencial só pode ser vitoriosa com uma postura política ofensiva. A vitória nas urnas tem que partir das ruas, do corpo a corpo com o eleitor, da discussão franca, simples, direta e profunda com o povo, tocando fundo sua mente e seu coração.

Mais do que nunca é preciso ter a consciência aguda do que está em disputa. Dois projetos diametralmente opostos estão em jogo e é em torno destes que se decidirá o futuro do país. De um lado, está a possibilidade de o Brasil continuar trilhando o caminho do fortalecimento da democracia, da soberania nacional e da afirmação dos direitos do povo. Esta bandeira está nas mãos de Dilma Rousseff e das forças que a apoiam, que podem e devem alargar-se ainda mais no segundo turno. Do outro está a submissão do país ao imperialismo, a restrição da democracia, o ataque aos direitos do povo, a criminalização dos movimentos populares e a degradação das condições de vida de milhões de brasileiros.

É um embate político em campo aberto, uma luta de sentido histórico a que a imensa legião de militantes das forças progressistas e de esquerda não se irá furtar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Por que o debate da Globo não presta

Paulo Henrique Amorim, em seu blog Conversa Afiada 

O debate foi no mesmo horário em que a Globo autoriza que os jogos do Brasileirinho se realizem. (A Cristina Kirchner comprou os direitos do campeonato argentino e distribui a todos os canais, que exibem na hora em que quiserem.)

O debate da Globo é para o brasileiro que pode ir dormir depois da meia noite: ou seja, os ricos. O debate é uma chatice porque :

1) as perguntas são sobre temas sorteados;

2) quem faz as perguntas são os candidatos.

Por isso, as perguntas não são perguntas, mas plataforma para o candidato dizer o que quer. E as perguntas são dirigidas ao adversário que esconda o maior rival. Quando a Dilma pergunta ao Plínio, é porque quer esconder o Serra. E o Serra só entrou no ar às 23h.

O formato da Globo acabou por ser um tiro no pé do Serra. Quem sabe fazer pergunta é jornalista. Candidato sabe pedir voto — quando sabe, o que não é o caso do Serra. Candidato não sabe perguntar.

Por isso, o debate ficou assim: insípido, inodoro e incolor. E por que ficou assim? Porque os candidatos e os partidos quiseram fugir dos jornalistas. E por que fugiram dos jornalistas? Porque os jornalistas brasileiros, em geral, não prestam. São partidários e, na maioria, tucanos. Como diz o Mino Carta: o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama o patrão de “colega”.

Para evitar que o debate seja conduzido por perguntas do Jabor, da urubóloga (Mirian Leitão) ou do Waack, os partidos amarraram o debate. Criaram um formato imune à tensão. É como se a bola não pudesse passar da intermediária. É um debate do tipo “risco-zero”.

O debate faz parte do sistema político brasileiro, em que não há discussão de políticas publicas. Não há confronto de ideias. O que mais informa acaba sendo, como a propaganda da Dilma, o horário eleitoral gratuito.

A lei que regula a entrada de candidatos na televisão também é essencialmente idiota. Consiste em não aprofundar nada. Por quê? De novo, porque os partidos precisavam se proteger, antes de tudo, da parcialidade da Globo.

E aí fica essa bobagem do “dia do candidato”. Em que o pobre espectador tem que ouvir a Bláblárina Silva — a candidata de duas caras, como disse o Santayana — dizer “é muito grave”, “é prioritário”, faremos “um plebiscito”.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os debates são no horário nobre. Patrocinados por entidades educacionais, geralmente. E quem faz as pergunta são jornalistas — que todo mundo reconhece como jornalistas sérios, imparciais. A Dilma aceitaria que só a Miriam fizesse as perguntas? Ou o Jabor? Melhor ir para o clinch – e não deixar o Serra respirar.

Debate não decide eleição, como profetizou Don Hewitt, que, em 1960, dirigiu o primeiro dos debates na TV, entre Kennedy e Nixon. O máximo que faz é acentuar tendência que já prevalecia antes do debate. Cada um vê no debate o que quer ver. Mas, poderia ser um instrumento de informação e formação. Se não fosse ao ar no horário do Brasileirinho.

A presidente Dilma Rousseff não foge de uma responsabilidade que se impõe diante dela: promulgar a Ley de Medios. O brasileiro precisa conhecer, discutir seus problemas. Do contrário, o sucessor da Dilma será o Berlusconi.